Engatinhar igual a um bebê e no almoço dispor de uma ‘cumbuca’ para os alimentos. Estas são algumas das adaptações que os velejadores Leonardo Chicourel, da Bahia, e o médico angolano radicado em São Paulo José Guilherme Caldas farão durante os previstos mais de 20 dias de travessia do Oceano Atlântico, na disputa da 13ª Regata Transat Jacques Vabre.
A largada para a competição será no domingo (05), em Le Havre, na França, e a chegada está programada para acontecer entre os dias 12 e 24 deste mês no Centro Náutico da Bahia (Cenab), em Salvador. Chicourel e Guilherme vão comandar o Mussulo 40, um dos mais de 70 barcos inscritos na regata transatlântica, que terá 42 duplas de quatro classes de embarcações.
São cerca de 350 milhas náuticas, o equivalente a 8,056 km em um percurso considerado entre os mais difíceis no oceano. “A gente tem muita cautela. Não anda em pé, se desloca em cima do barco engatinhando para evitar acidentes. Quebrar um dedo, por exemplo, é um problema”, disse Chicourel.
Essa curiosidade e o fato de que não se pode comer no prato convencional revelam o alto grau de exigência e complexidade exigidos enquanto cruzam o Equador e o segundo oceano. “Na hora de comer, uma mão pode estar no leme e a outra segurando o prato. Balança muito e se não for em uma cumbuca cai tudo”, explicou.
A dupla se conhece há oito anos. O encontro ocorreu quando Chicourel, que é velejador profissional, foi contratado para transportar o barco do médico para as competições. Estreantes na maior regata do mundo, a parceria tem experiência em eventos longos e técnicos como a Regata Cape To Rio, de cerca de 6 mil km entre a Cidade do Cabo, na África do Sul, e o Rio de Janeiro.
Como em outras experiências náuticas, ninguém tem uma atividade única a bordo. “Vamos ficar de 20 a 25 dias velejando e todo mundo faz todas as funções. Por exemplo, guiar o timão sozinho enquanto o outro descansa do seu turno”, afirmou Chicourel.
A estratégia da dupla será dividir as 24 horas de cada dia de prova em 12 turnos de 2 horas cada, com cada um ficando responsável por seis turnos intervalados.
Primeiros socorros – Apesar de o colega de desafio ser médico, Chicourel tomou um curso de primeiros socorros. “A gente toma muito cuidado pra não se machucar. Sabemos dos riscos. Mar revolto, vento forte, o risco aumenta muito”, disse.
Disputada a cada dois anos, a regata teve Salvador como ponto de chegada de 2001 a 2007. A capital baiana e Itajaí (SC) são as duas únicas cidades do país incluídas na rota.