O volume útil do lago de Sobradinho começou a reagir com as primeiras chuvas que atingiram a região da bacia hidrográfica do São Francisco, alcançando 2,62% da sua capacidade na terça-feira (28). No início de novembro, a reserva chegou a menos 2% do volume útil.
O indicativo desta reação foi percebido há cerca de 10 dias com o início das chuvas mais densas na região Norte de Minas Gerais, local das nascentes do rio São Francisco e alguns afluentes. Também contribuíram as chuvas que atingiram o oeste baiano. Nesta região estão três importantes sub-bacias: dos rios Carinhanha, Corrente e Grande.
A previsão é que nesta quinta (30), e nos próximos dias tenham mais chuvas em Minas Gerais e no oeste da Bahia, onde a temporada de ‘inverno’ vai até o mês de março. No entanto, apesar da esperança dos ribeirinhos, a expectativa é que ainda serão necessárias muitas temporadas boas de chuva para que o lago de Sobradinho volte a ter a pujança dos anos passados.
De acordo com o diretor técnico da Agência Peixe Vivo – agência de bacia do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF) -, Alberto Simon, não existe uma previsão otimista a curto prazo. “Mesmo que chova acima da média nesta temporada de chuvas, dificilmente chegará a 30% do volume útil em Sobradinho”.
E as notícias não são muito boas. Conforme o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE), a previsão climática para novembro, dezembro e janeiro é de precipitações abaixo do normal no oeste da Bahia e norte de Minas Gerais. O prognóstico é baseado em análise de condições oceânicas e atmosféricas globais.
Para Simon, que é engenheiro e especialista em recursos hídricos, como há muitos anos, as chuvas têm ficado abaixo da média, a quantidade de água no lago e outros trechos do rio também está diminuindo, enquanto que o consumo só tem aumentado.
Ele salientou que, diante da estiagem, as águas das primeiras chuvas demoram a chegar na calha principal do rio, pois em todo lugar o solo está muito seco e as reservas subterrâneas estão baixas.
Segundo o especialista, a medida mais consciente é que as pessoas em todos os setores continuem a economizar água, para que todos permaneçam tendo acesso a ela. “Na escassez é que vemos até que ponto a solidariedade existe e se as pessoas estão dispostas abrir mão de projetos pessoais para abraçar a causa comum”, disse Simon.
Indispensável – Vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Lago de Sobradinho, Francisco Ivan de Aquino afirmou que “o ribeirinho já está calejado e sabe que com pouca chuva não vai mudar quase nada a nossa situação. Principalmente porque quanto mais água tem, mais o agronegócio quer para a irrigação”.
Ele revelou que o sonho dos moradores no entorno do lago é que fique cheio novamente, mas com o passar dos anos só tem piorado a briga entre quem necessita da água para viver e quem precisa da água para trabalhar e produzir.
Simon destacou que entre as propostas debatidas pelo setor elétrico e a Agência Nacional de Águas (ANA) para minimizar o problema está a tentativa de não deixar o volume útil ficar abaixo de 20%. Ele acrescentou que a ideia é ainda um esboço e que depende de vários fatores e interesses múltiplos para se tornar realidade.