Governos estaduais vão construir currÃculos únicos com seus respectivos municÃpios —ao invés de cada estado e cidade construÃrem os seus documentos próprios. Esse tem sido os primeiros esforços após a aprovação final da Base Nacional Comum Curricular, em dezembro.
Todos os 26 estados e o Distrito Federal já fizeram a adesão à iniciativa de construção coletiva. O próprio MEC (Ministério da Educação) indicou esse caminho. Dessa forma, currÃculos municipais, como os da capital paulista ou de Sobral (CE), por exemplo, serão exceções.
A base define os conhecimentos essenciais que todos os alunos da educação básica têm o direito de aprender.
Já os currÃculos de cada rede, estado ou escola (as particulares também precisam se adaptar) devem garantir o que está no texto nacional e precisam ir além. Tanto em conteúdos regionais quanto em estratégias pedagógicas.
Essa fase de implementação é considerada ainda mais difÃcil do que a definição da base, que levou três anos. O prazo para elaboração dos currÃculos vence em 2020 e envolve também formação de professores.
Os principais motivos para a construção de currÃculos estaduais, em parceria com municÃpios, foram o melhor aproveitamento de gastos e da capacidade técnica, mais estruturada nos estados.
A recorrência de professores que atuam ao mesmo tempo em redes estaduais e municipais também colaborou com isso, além da própria migração de alunos entre as redes ao longo da educação básica ou no mesmo ano letivo.
O governo de Sergipe foi o primeiro a pactuar com municÃpios a implementação da base, em setembro de 2017, ainda antes da aprovação final.
“Queremos o currÃculo sergipano até agosto. Não vai impedir de a cidade acrescentar caracterÃsticas próprias, mas isso não ficará totalmente aberto”, afirma Gabriela Zelice, coordenadora da comissão de implementação no estado de Sergipe.
Há uma comissão com representantes de todos os municÃpios e a previsão de reuniões organizadas a partir das diretorias regionais já espalhadas pelos estados. Isso, segundo Zelice, deve facilitar a mobilização dos profissionais ligados à s redes municipais no perÃmetro das regionais.
Foram ainda escolhidos 23 redatores, com profissionais do estado e dos municÃpios. Em geral, o modelo se repete em outros estados. Os órgãos que agregam secretários municipais e estaduais de educação, Undime e Consed, respectivamente, têm participado.
Em Mato Grosso do Sul, o superintendente de polÃticas educacionais da secretaria de educação, Helio Queiroz Daher diz que o esforço conjunto vai beneficiar os alunos.
“Muitas vezes o aluno é transferido de escolas e o professor normalmente leciona em duas redes e no mesmo ano acaba lecionando coisas distintas”, afirma.
Um dos desafios desta etapa, segundo ele, será a redação final do currÃculo. “A base veio bem extensa, o que nos tira um pouco a liberdade de propor algo a mais. Temos de ter cuidado para não incluir novos conteúdos e depois não conseguir executar”.
Durante o processo de redação da base, membros do MEC chegaram a afirmar que o documento estipularia 60% do conteúdo e o restante seria definido pelos currÃculos.
Na versão final não há essa prescrição, mas é previsto que, garantido todo o conteúdo da base, as redes e escolas deem a sua identidade.
No estado de São Paulo, haverá pesquisa sobre redes que já tenham currÃculos e seminários para discussão da primeira versão construÃda a partir desses textos. O documento deve ir à consulta pública antes da definição.
Professores
Outra expectativa dos materiais regionais é a elaboração de materiais de apoio ao professor e sugestões de atividades, coisas que a base não se atém. Para a consultora em educação Ilona Becskeházy, essa será parte essencial.
“Todos os paÃses bem sucedidos do ponto de curricular fazem cadernos de orientação pedagógica, que é um trabalho para qualificar e exemplificar”, diz ela, que participou da redação do currÃculo de Sobral, cidade cearense que têm obtido destaque nas avaliações de desempenho escolar recentemente.
Ilona aprova o modelo de um currÃculo estadual, sobretudo pelas dificuldades técnicas envolvidas na redação. “Sem o enunciado claro e competente, que especifique exatamente o que se espera para cada tema, como eu chego no coordenador pedagógico para definir como ensinar aquilo?”, diz. “A implementação é o maior desafio”.
O MEC fez um guia de implementação e convocou as escolas públicas do paÃs para o Dia D, em 6 de março, que marcou o inÃcio do processo.
A educadora Tereza Perez, diretora da Cedac (Comunidade Educativa) ressalta o desafio de garantir a participação dos docentes. “O professor é o profissional chave para o desenvolvimento do pais, quanto mais autonomia ele tiver nesse processo, mais compromisso ético ele terá de assumir suas responsabilidades.”
Para ela, se estados trabalharem com grupos de municÃpios com proximidade geográfica isso “certamente vai favorecer a formação”.
Tereza participou da elaboração de outro guia de implementação viabilizado pelo Movimento pela Base, que reúne especialistas e organizações em torno do tema.
Outro guia foi construÃdo, em parceria do Movimento pela Base com o Center for Curriculum Redesign, para que redes e escolas compreendam e incorporem as Competências Gerais da base, como criatividade, empatia e responsabilidade.
Segundo Anna Penido, diretora do Instituto Inspirare, o material orienta como essas competências progridem ao longo da educação básica e podem se relacionar com os conteúdos de cada disciplina.
“O que está ali nas competência gerais é fruto de muita pesquisa do que o mundo do trabalho demanda, dos desafios da humanidade e do que realmente tem significado na vida dos estudantes. Partindo desse princÃpio, toda a seleção do que os alunos vão aprender deveria partir desses critérios”, afirma ela, que participou da finalização do material.
A base aprovada fala da educação infantil e ensino fundamental. A parte do ensino médio ainda está em discussão no MEC.
Histórico e prazos:
jun.2014
Plano Nacional de Educação prevê que o governo crie a base
set a dez.2015
MEC apresenta 1ª versão e abre consulta pública
mai.2016
MEC apresenta 2ª versão e a envia ao CNE e aos estados
set.2016
Temer publica reforma do ensino médio, adiando a base desta etapa
abr.2017
MEC apresenta 3ª versão (ensinos infantil e fundamental) ao CNE
nov.2017
Após sugestões, MEC entrega versão final ao conselho
dez.2017
Conselho aprova versão final, e MEC homologa o documento
2018
InÃcio da construção dos currÃculos e definição da base do ensino médio
2019
Adequação de cursos e da formação de professores
2020
Prazo para adequação dos currÃculos de estados, municÃpios e escolas privadas