O senador Cristovam Buarque (PPS-DF), 74, tornou-se, há pouco mais de uma década, uma das vozes críticas aos governos e rumos do PT. Uma crítica vinda de dentro, como militante petista desde 1989, quando se filiou ao partido.
Primeiro reitor da UnB (Universidade de Brasília) eleito diretamente, na redemocratização do país após a ditadura militar (1964-85) e seu autoexílio no exterior, Buarque era então o principal formulador das políticas educacionais que faziam parte do programa do candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Seria como governador do Distrito Federal (1995-98), eleito pelo PT, que deixaria sua marca principal na vida pública: a implementação do programa Bolsa-Escola, que oferecia complementação financeira para famílias pobres que mantivessem seus filhos estudando. Um projeto bem-sucedido, depois incorporado pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002) e pelo do sucessor, Lula (2003-2006 e 2007-2010).
Mas foi como ministro da Educação no governo inaugural de Lula que a divergência com o PT e o então presidente se iniciaria (priorizar educação de base, segundo Buarque; ou ensino superior, segundo Lula?), levando a sua demissão por telefone, em janeiro de 2004, quando estava de férias em Portugal.
Em 2005, se transformaria em ruptura definitiva, com a saída de Buarque do partido. Na entrevista a seguir ao UOL por telefone de Brasília, Cristovam Buarque rememora esse afastamento e faz a crítica atual do PT e da esquerda como um todo. Para ele, agem corporativamente para salvar seu líder maior da Justiça, contrariando bandeiras antigas contra a impunidade.
“Com o que a esquerda devia estar lutando, em vez da impunidade do recurso no Supremo Tribunal Federal [STF], era contra o foro privilegiado. Porque o projeto [que põe fim ao foro] foi aprovado no Senado e está na Câmara dos Deputados engavetado”.
Embora hoje desafetos, Buarque, que é pré-candidato a novo mandato no Senado e votou a favor do processo que cassou o mandato de Dilma Rousseff (PT), lamenta a prisão de Lula: “Ele encarnava uma esperança, e a prisão dele significa a prisão de uma esperança. É um símbolo que está preso”. Leia aqui a entrevista na íntegra.