Os operadores do esquema de lavagem de dinheiro nos fundos de previdência Postalis (Correios) e Serpros (Serpro) receberam cerca de R$ 20 milhões em vantagens indevidas, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF). Segundo as investigações, as vantagens indevidas foram obtidas para a contratação de pelo menos dois investimentos dos fundos de pensão.
O jornal Globo informa que, no caso da Postalis, o empresário Arthur Machado, apontado pelo MPF como beneficiário do esquema, teria conseguido um investimento de R$119 milhões pagando em troca vantagens indevidas por isso. Esse investimento serviria para a criação da Nova Bolsa, um projeto de Machado para criar no país outra bolsa de valores. No caso do Serpros, as vantagens indevidas garantiram um investimento de R$ 72 milhões do fundo em empresas ligadas a Machado.
A Operação Rizoma, que foi deflagrada na manhã desta quinta-feira, é um desdobramento da Lava-Jato no Rio e investiga um esquema de lavagem de dinheiro em fundos de pensão. Os procuradores, porém, deixaram claro que essa nova investigação não envolve nenhum ato do ex-governador Sérgio Cabral.
Para fazer o pagamento de propinas, Machado usava doleiros e outras modalidades financeiras que também serviram ao esquema de Cabral.
— Para pagar essa propina, esse delator (Alessandro Laber) informou que toda a operação era feita com os doleiros Juca e Tony (Vinicius Claret e Cláudio Fernando Barbosa, respectivamente). O Arthur Pinheiro Machado precisava gerar recursos para esses agentes públicos — explicou o procurador da República Eduardo El Hage.
Entre os alvos da oeração de hoje, também estão o lobista Milton Lyra, citado em operações anteriores como operador de políticos do PMDB, que deve se entregar à PF em São Paulo; Marcelo Sereno, ex-secretário nacional de comunicação do PT; o doleiro Edward Penn, presos na operação de hoje.
Os investigadores, porém, não souberam informar se Lyra e Sereno atuaram nesses casos em nome de algum político ou dos partidos a que estão ligados. Segundo a força-tarefa, a investigação está no início e, neste momento, o objetivo era mostrar a parte de lavagem de dinheiro e evasão de divisas promovidas pelo esquema.
No caso de Sereno, ele é acusado de ter recebido R$ 900 mil para fazer lobby a favor de um dos investimentos que interessavam a Machado. O MPF, porém, não especifica qual operação contou com sua participação.
A força-tarefa também diz que ele dividiu vantagem indevida de R$ 3 milhões com Ricardo Rodrigues, apontado nas investigações como a pessoa que fazia a intermediação entre o Serpros e os empresários que buscavam investimentos do fundo.
Advogado de Sereno, Afonso Destri negou as acusações contra ele e disse que vai questionar a competência do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, para tratar do caso. Todos os pedidos de prisão foram expedidos pelo magistrado. O rigor de Bretas tem sido comparado ao do juiz Sergio Moro, responsável pela Lava-Jato em Curitiba.
— O Ministério Público relaciona fatos que são absolutamente desconexos e, a partir daí, faz várias ilações. E, em uma estratégia jurídica, vincula esses fatos aos apurados na (operação) Calicute. Tudo para que a competência, que vou questionar, seja da 7ª Vara Federal, do juiz Marcelo Bretas. O processo teria que ser de livre distribuição.
O advogado afirmou ainda que Sereno não participou de nenhum dos fatos citados pelo Ministério Público Federal e que ele “não tinha qualquer ingerência nos fundos de pensão.”
A defesa de Machado e de Patricia Iriarte, suspeita de ajudar o empresário no desvio de recursos dos fundos, refuta, de forma veemente, qualquer relação entre os empresários e atos ilícitos. E informa que ambos sempre agiram no mais absoluto respeito à legislação e que não compactuam com práticas ilegais.
Delação – Em depoimento de delação premiada, o empresário Alesandro Laber narra, ainda, que o operador Milton de Oliveira Lyra Filho possui “estreita ligação com Arthur Machado, inclusive em âmbito transnacional, e também se utilizou dos serviços do doleiro Tony para viabilizar o recebimento de recursos em espécie no Brasil.”
Segundo a delação, que sustenta a investigação força-tarefa, Lyra recebeu US$ 1 milhão, em 10 transações distintas, todas pagas com recursos em espécie feitas em escritório de advocacia localizado em São Paulo, para repatriar recursos que possuía no exterior. Esses pagamentos serviriam para facilitar negócios de Machado no Postalis, segundo as investigações.
Apontado como um dos operadores do PMDB junto aos fundos de pensão dos Correios (Postalis), Mylton Lyra, o Miltinho como é conhecido entre políticos, também é citado em documentos confidenciais do escritório de advocacia panamenho Mossack & Fonseca sobre empresas de paraísos fiscais offshore, conhecidos como “Panamá Papers”.
A defesa de Milton Lyra informa que as atividades profissionais do empresário são lícitas, o que já foi comprovado em diversas oportunidades, e que seu cliente está e sempre esteve à disposição para colaborar com a Justiça e com a investigação.
Além disso, o MPF informou que a Polícia Federal (PF) apreendeu hoje cerca de R$ 400 mil em espécie na casa do operador Edward Penn. Ele tem dupla cidadania (brasileira e norte-americana) e é apontado pelos investigadores como o operador internacional de Machado, que facilitava o retorno dos recursos para o Brasil após investimentos no exterior.
A defesa de Penn afirma que seu cliente sempre pautou suas atividades empresárias com a maior lisura possível. Na casa dele, foram encontrados cerca de R$ 400 mil, US$ 850, 955 euros e 637 pesos argentinos.
Questionados sobre o tamanho do prejuízo para os fundos de pensão, os investigadores não informaram e disseram que esse não era o alvo dessa operação.
A operação Rizoma acontece no mesmo dia em que outra ação da PF e de auditores da Receita Federal cumpre 20 mandados de prisão para investigar um esquema de fraudes em institutos de previdência municipais. Uma das presas é Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, o primeiro investigado da Lava-Jato. Ela colaborou com as investigações da operação, mas não firmou acordo de delação premiada.
De acordo com a PF, na operação que envolve previdências municipais, são investigados 28 institutos de cidades nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso, Santa Catarina e Goiás. Eles teriam investido em fundos que faziam investimentos sem lastro. A fraude chegaria a R$ 1,3 bilhão.