Duas empresas ligadas ao Grupo Petrópolis – que eram usadas pela Odebrecht para, de acordo com delatores, fazer pagamento de caixa 2 – aparecem na declaração eleitoral de Antero Paes de Barros, candidato ao Senado pelo PSDB, do Mato Grosso.
As empresas são a Leyroz de Caxias Indústria, Comércio e Logística e a Praiamar Indústria Comércio e Distribuição.
A informação foi divulgada nesta sexta-feira (8), pelo jornal “O Globo”. Os dados foram obtidos por meio de um cruzamento entre uma planilha paralela da Odebrecht, apreendida na 23ª fase da Lava Jato, e a prestação de contas do candidato tucano.
Segundo reportagem do jornal O Globo, a planilha da Odebrecht registra a doação de R$ 100 mil para a campanha de Antonio Paes de Barros Neto, em 29 de setembro de 2010. Em sua delação premiada, Marcelo Odebrecht explicou que usava outras empresas para fazer doações a candidatos.
Troca de e-mails entre FHC e Marcelo Odebrecht
A doação de R$ 100 mil ocorre dias após e-mails do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pedindo a Marcelo Odebrecht contribuição para as campanhas de Paes de Barros e de Flexa Ribeiro.
Em um dos e-mails anexados ao laudo da Polícia Federal (PF), de 13 de setembro de 2010, Fernando Henrique, à época presidente de honra do PSDB e sem cargo público, escreve:
“Caro marcelo, recordando nossa conversa no jantar de outro dia, envio-lhe um sos. O candidato ao senado, antero paes de barros, ainda está em segundo lugar, porém a pressão do governismo, ancorada em muitos recursos, está fortíssima. Seria possível ajudá-lo? Envio abaixo os dados bancários (…)”.
Logo depois, Marcelo Odebrecht responde a FHC:
“Presidente, estou fora até amanhã, mas até 4ª dou uma olhada e retorno. Fique tranquilo (no que depender de nós). Depois aproveito, e lhe dou o feedback dos demais apoios e reforços que fizemos na linha do que conversamos”.
No dia seguinte, conforme o laudo, Marcelo Odebrecht volta a escrever para Fernando Henrique:
“Já solicitei que fosse feito o apoio ao Antero. Vou pedir para verificarem sua disponibilidade para lhe apresentar um balanço” .
Uma semana depois, 21 de setembro de 2010, Fernando Henrique envia um novo e-mail com o título “O de sempre” e escreve:
“Estimados amigos: desculpem a insistência e nem mesmo sei se já atenderam o que lhes pedi, mas olhando o quadro geral, há dois possíveis senadores que precisam atenção: 1. Antero Paes de Barros, de Mato Grosso 2. Flexa Ribeiro, do Pará. Ainda há tempo para eles alcançarem, no caso na verdade é manterem, a posição que os leva ao êxito”.
No dia seguinte, Marcelo Odebrecht confirma:
“Já contactamos Antero, está fora, mas já sabe que iremos apoiá-lo. Flexa não sei dizer, mas vou verificar”.
Antero Paes de Barros perdeu a disputa eleitoral em 2010. Já Flexa Ribeiro foi eleito.
O ex-presidente Fernando Henrique disse, através de sua assessoria de imprensa, que pode ter pedido contribuição para as campanhas, mas lembra que na época isso era legal.
Ele disse ainda que não sabe se deram o dinheiro a troco de decisões dele, pois na época já estava fora da presidência da República.
O PSDB defende rigor no cumprimento da legislação eleitoral. Quanto aos fatos descritos no pedido da reportagem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já prestou todos os esclarecimentos cabíveis.
O senador Flexa Ribeiro e Antero Paes de Barros, atualmente sem partido, disseram que desconhecem a troca de e-mails e que as campanhas deles em 2010 não receberam qualquer contribuição da Odebrecht.
A Odebrecht voltou a declarar que está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua, e implantou um sistema para prevenir, detectar e punir desvios ou crimes.
Segundo a defesa de Marcelo Odebrecht, os e-mails são autoexplicativos e se referem a pedidos que sempre foram normais e comuns por parte de políticos.
O Grupo Petrópolis não quis de manifestar sobre o assunto.