Autor do clássico da MPB “Romaria”, o cantor, compositor e violonista Renato Teixeira deu uma entrevista à coluna Painel da Folha de São Paulo em que detona o envolvimento de artistas com campanhas políticas.
“Esse dias tava vendo a Dilma Rousseff cantando “Romaria” na Argentina. Eu pensei: ‘o Aécio [Neves] também canta. O [Jair] Bolsonaro com certeza gosta. Todo mundo gosta!’.”
Renato, no entanto, é contra cantores e compositores que usam a fama para apoiar algum candidato. “Se a música te dá uma projeção e você desce pra praticar política e traz a sua arte junto, é feio. Não gosto disso não.”
“Acho que o Chico [Buarque] é um gênio da música. Para mim é o maior compositor da terra. É a minha influência absoluta. Mas eu acho que politicamente ele tá num lugar que não precisa mais estar. Essa política em que ele atua não existe mais, acabou. É uma ilusão. É xepa, totalmente xepa.”
Aos 73 anos, Teixeira não vota mais. “Meu pai me ensinou que o voto era a arma mais importante que o cidadão tinha. Você ia lá e escolhia uma pessoa que ia te representar. Pra que você precisava de uma pessoa para te representar? Porque não tinha celular, porra!”.
Para ele, a tecnologia veio para acabar com a classe política. Ele afirma que vê o país como uma grande empresa. “Quantas fábricas nós temos? O que nós produzimos? No fim do ano, a gente faz as contas, aperta dois ou três botõezinhos e vê quanto deu o lucro, aperta outro botãozinho e divide com a população.”
“Ando pelas estradas cheias de buraco. Segurança, não tem. Escola, não tem. Hospital, não tem. Apenas o que tem é pegar o seu dinheiro e fazer um grande clube para dividir entre poucas pessoas. É uma ação entre amigos, que pega todo o seu imposto. Isso não funciona mais.”
Teixeira, porém, já fez o que tanto critica. Ele gravou um vídeo em apoio a Aécio Neves em 2014. “O cara ia em todos os meus shows. A gente saía para jantar. Nunca falei de política com ele. Nunca! Meu apoio nem foi apoio. Apenas a equipe dele, sabendo que a gente era amigo, pediu que eu desse o start na campanha. Ele nem sabia.”
O compositor afirma que não se arrepende, mas também diz que não ficou surpreso com as denúncias de corrupção envolvendo o senador. “Se você parar e pensar, começa a ver tudo. Mas eu tô fazendo show, não quero ficar olhando pra essas coisas. É uma atitude meio irresponsável até.”
O músico deu início neste mês à turnê do disco “+AR”, o segundo de sua parceria com Almir Sater, que é seu vizinho na serra. O primeiro CD, “AR”, foi lançado em 2015 e ganhou um Grammy Latino. Clique aqui para ler a entrevista na íntegra.