Quando a dona Aldete Souza Santos, 64 anos, conhecida como Xuxa, entrou no apartamento 005 de um dos blocos da do conjunto habitacional da comunidade Guerreira Zeferina, em Periperi, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, o sentimento de alegria e satisfação tomou conta. Visitou cada cômodo do imóvel meio que sem acreditar que tudo aquilo era dela. “Está lindo! Bem diferente da moradia precária que vivia”, disse, impressionada. Ela faz parte das primeiras famílias que começaram a receber, nesta segunda-feira (23), as chaves e os documentos de posse das unidades habitacionais construídas pela Prefeitura na localidade onde antes não havia as condições mínimas de sobrevivência com dignidade.
Com o documento, os proprietários poderão ir até a Coelba e Embasa para solicitar as ligações de água e de rede elétrica para, a partir daí, programar a mudança. Até o dia 2 de agosto, serão 125 famílias atendidas nesta primeira etapa de entrega de imóveis – a segunda e última fase está prevista para o final do ano e abarcará outras 132.
As lembranças que Xuxa tinha por viver durante 13 anos num barraco de madeira, enfrentando todo o tipo de problema decorrente da falta de saneamento básico, segurança e serviços essenciais, deram lugar a outra realidade de vida: o imóvel dela hoje possui dois quartos, banheiro, sala e cozinha. Já na unidade 001, Benedita da Conceição, 67, também comemorava o fato residir em um lugar seguro e digno. “Superou as expectativas. Realizei meu sonho com essa moradia linda e maravilhosa”, contou, ao apreciar a linda vista panorâmica do mar, através da janela de um dos quartos.
A entrega oficial dos apartamentos foi coordenada por representantes da Fundação Mario Leal Ferreira (FMLF), Superintendência de Obras Públicas de Salvador (Sucop), Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra) e assistentes da AVSI Brasil – organização contratada pela Prefeitura para a execução do trabalho de acompanhamento social dos moradores durante o período da obra.
A presidente da FMLF, Tânia Scofield, que esteve à frente da elaboração do projeto de revitalização da Guerreira Zeferina, explicou que as intervenções no local foram além da parte estrutural. “O esgoto corria a céu aberto, não tinha nem rede de energia. Em períodos de chuva, a água chegava à meia parede de algumas casas aqui. Faltava tudo. As casas eram de lona, de plástico e resto de material. Quando essas necessidades básicas são atendidas, as pessoas começam a buscar outras perspectivas de vida. Durante todo esse tempo, tivemos um trabalho grande de capacitação e acompanhamento de todas essas famílias”, pontuou.
Enquanto os moradores aguardavam para retornar para seus novos imóveis, boa parte deles tiveram acesso a cursos gratuitos, como iniciação a eletricistas, iniciação a pedreiro, produção de salgados e folheados, curso de fotografia e vídeo, além de formação de liderança no sentido de preparar a comunidade para o convívio social.
“A importância disso é que se cria um vínculo. Eles se sentem mais acolhidos. Tinham muitas dúvidas se realmente iam voltar ou não a morar aqui. O fato de ter uma equipe permanente e um escritório à disposição dá mais confiança”, afirmou a socióloga e gerente do Projeto Social de Requalificação da Guerreira Zeferina, Marcele Andrade. “Ensinamos as regras de convivência em prédio, limites sonoros, coleta de lixo. É diferente de antes, quando eles viviam em casas individuais”, acrescentou. A comunidade, em breve, terá eleição de síndico e subsíndico.
Revitalização – Com um conjunto habitacional para 257 famílias, sendo 125 imóveis entregues agora na primeira etapa das intervenções, a revitalização da Comunidade Guerreira Zeferina teve início em agosto de 2016. O investimento total é de R$21 milhões, oriundos de recursos próprios da Prefeitura, englobando uma área de 20 mil metros quadrados, entre a via férrea e o mar.
No local, foram construídos a Escola Municipal Guerreira Zeferina, que vai atender às crianças da comunidade; campo de futebol; miniquadra; seis boxes comerciais distribuídos em três quiosques; espaço de convivência e lazer; calçadão de acesso à praia; deque; e estacionamento. Tudo isso feito ouvindo os moradores, após intenso processo de diálogo e utilizando até mão de obra local, capacitada e selecionada entre os beneficiários.
Há também centro comunitário, quatro boxes comerciais distribuídos em dois quiosques, um parque infantil, uma academia de saúde. Os apartamentos estão distribuídos em 10 prédios, com 2 ou 3 quartos. Além disso, o conjunto conta com infraestrutura completa e dispõe de 20 moradias adaptadas para pessoas com deficiência.
Foto: Bruno Concha/Secom-PMS