Tradicionalmente, no terceiro sábado de agosto, a comunidade Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó, mais conhecida como a Casa de Òsùmàrè – um dos mais antigos terreiros de candomblé da Bahia e também um dos mais tradicionais centros de culto afro-brasileiro do Brasil -, celebra a data mais esperada do seu calendário anual, com uma festa religiosa exaltando à divindade protetora do terreiro, o Arco-Íris.
Neste ano, o evento que será comemorado no dia 18, reunirá personalidades e devotos de vários locais do Brasil e traz como tema a Ecologia. A celebração gratuita e aberta ao público acontecerá na sede da Casa de Oxumarê, localizada na Federação.
Segundo o Babá Egbé, Leandro da Mata, a escolha do assunto é um alerta de conscientização para sociedade. “Os orixás são a própria natureza e se manifestam por meio dela, como o raio, o fogo, o vento, o furação, o Arco-Íris, entre outros. Então temos a obrigação de preservar o meio ambiente para que possamos viver em um mundo bem mais equilibrado”, afirma Leandro.
A abertura oficial da festa será a partir das 8h, quando os convidados, Oded Grajew, Zoraide Vilasboas , Juca Ulhôa Cintra Paes Da Cunha e Damien Hazard – militantes ecológicos -, hastearem as bandeiras do terreiro e em seguida palestrarem sobre o tema.
A Casa de Oxumarê estará em celebração durante todo o dia, mas o ápice do evento acontecerá às 21h, na cerimonia pública, onde serão distribuídas três mil mudas de aroeiras para os presentes. A aroeira faz parte de um conjunto de folhas indispensáveis em diversas aplicações religiosas, como a purificação energética de pessoais e locais. Na medicina tradicional ela é utilizada como antisséptico, antimicrobiana e no tratamento de reumatismo. Mas para manipular a folha é necessário ter o conhecimento adequado para que haja o seu real aproveitamento.
Sobre os convidados:
Oded Grajew – 74 anos, formado em engenharia elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e pós-graduado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas, nasceu em Israel, mas mudou para o Brasil aos 12 anos. Através do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, onde atua como presidente, Grajew comanda um trabalho pioneiro no Brasil: difundir o conceito de comportamento socialmente responsável entre o empresariado brasileiro. É fundador da Abrinq – Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos – pelos Direitos da Criança e do Adolescente e idealizador do Fórum Social Mundial.
Zoraide Vilasboas – Militante socioambientalista da coordenação do Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania (MPJ), uma associação legalmente constituída como entidade socioambiental com atuação nas áreas da sensibilização, articulação e mobilização de entidades e pessoas em luta pela construção do Bem Viver. O MPJ é associado a várias redes nacionais, que reúnem ativistas e pesquisadores, como a Rede Brasileira de Justiça Ambiental, a Articulação Antinuclear Brasileira e o Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social.
Juca Ulhôa Cintra Paes Da Cunha – Formado em economia pela UCSAL – Universidade Católica do Salvador, é o atual diretor da SER – Sonhar, Empreender e Realizar, conselheiro consultivo e consultor do Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia, membro colaborador do Grupo de Pesquisa, Desenvolvimento, Sociedade e Natureza da UCSAL e integra o Felow do Lead. É mestre em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável pela ESCAS – Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade, iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e especialista em facilitação e dinâmica de grupo.
Damien Hazard – Com pós-graduação em Economia e Mestrado em Economia internacional e do Desenvolvimento e pela Universidade Sorbonne, é coordenador da associação Vida Brasil em Salvador e diretor da Associação Brasileira de ONGs no Estado da Bahia. Membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial, foi um dos principais organizadores do FSM 2018, realizado em Salvador em março deste ano. De origem francesa e estabelecido há 30 anos na Bahia, Damien possui o título de cidadão de Salvador, pelo reconhecimento da sua luta em prol dos direitos humanos. Atua ainda como formador e consultor em projetos sociais, particularmente em países africanos.
A Casa de Oxumarê – O Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó, conhecido como Casa de Oxumarê, foi fundado há 180 anos, sendo que há 112 está localizado na Federação. Ao longo de sua história, contribuiu de modo significativo para preservar e difundir a cultura africana no Brasil. Guardiã e detentora de tradição milenar, a casa perpetua o legado ancestral do culto aos Orixás, lançando as sementes do que hoje representa o candomblé para o país e o mundo. Faz parte do panteão das casas matrizes responsáveis pela construção da religiosidade afro-brasileira.
Território Cultural – Em 2002, a Fundação Cultural Palmares reconheceu a Casa de Oxumarê como território cultural afro-brasileiro, atestando sua permanente contribuição para a preservação da história dos povos africanos no Brasil. No final de 2004, o terreiro foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia – IPAC como patrimônio material e imaterial do Estado. Neste mesmo ano,Casa de Oxumarê foi inscrita nos Livros de Tombo Histórico e no Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, como Patrimônio Nacional do Brasil.
Projetos Sociais – Além de desenvolver atividades religiosas, a Casa de Oxumarê é ativamente engajada em projetos sociais e culturais que auxiliam para o desenvolvimento e inclusão das comunidades do seu entorno geográfico e político.
Comprometida na luta contra o preconceito e a intolerância religiosa, possui um extenso histórico de realização de atividades e ações que visam a valorizar o legado cultural afro-brasileiro e garantir o direito de cada cidadão em professar livremente sua fé.
Foto: Taon Lecy/Divulgação