Réu na Lava Jato e já condenado em um dos processos, o publicitário João Santana afirmou, nesta sexta-feira (10), em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, que a prática de caixa 2 para o pagamento de despesas eleitorais segue sendo praticado no Brasil mesmo após a Lava Jato. Santana admitiu que recebeu “por fora” US$ 2,5 milhões de campanhas do PT pagas pela Odebrecht e disse que apesar de discordar da prática, aceitou receber em caixa 2 porque era a forma de pagamento institucionalizada por todas as campanhas políticas no Brasil.
“Nunca tive medo de estar me envolvendo em escândalo de corrupção, achava que era apenas caixa 2, que era uma prática institucionalizada, era cultural. Era esdrúxulo, absurdo, mas era o que se praticava na política brasileira, por praticamente todos os políticos, e acho que, dificilmente tenha acabado, mesmo depois da Lava Jato”, afirmou o publicitário, quando questionado por Moro se não tinha conhecimento de que os pagamentos que recebia tinham relação com propina paga pela Odebrecht por contratos com a Petrobras. “Não imaginava que era tão estruturada e relacionada a contratos da Petrobras”, acrescentou. “E, apesar de eu ter sido o único marqueteiro punido, pessoas das outras campanhas também revelaram que receberam pela Odebrecht, no mesmo esquema de caixa 2, porque todos faziam assim”, concluiu.
Santana disse que conversou pessoalmente com o ex-ministro Antonio Palocci sobre os pagamentos dos serviços prestados à campanha de reeleição do ex-presidente Lula, em 2010, via Odebrecht, disse que nunca celebrou nenhum contrato com a empreiteira e que nunca declarou esses valores recebidos justamente por serem fruto de caixa 2. “A empresa era remunerada dessa forma: caixa 2 de campanha. Ou em espécie aqui no Brasil, ou em pagamentos em contas no exterior. Eram doleiros designados pela Odebrecht que faziam os pagamentos, marcando local para as entregas”, relatou. “Nenhum desses pagamentos era contabilizado. Era tudo caixa 2. Nada foi declarado à Justiça Eleitoral, também”.
Questionado se recebeu, também, por campanhas feitas a políticos de fora do Brasil, ele admitiu que sim e disse que não conseguiria diferenciar quanto dos pagamentos era relativo às campanhas do PT e quanto às campanhas no exterior. “É dificil diferenciar o que foi pago por campanhas no exterior ou campanhas do PT. Foi criado um caixa único, um fundo, que atrasou bastante para ser pago, inclusive”.
Sócia e esposa de Santana, Mônica Moura, também prestou depoimento nesta sexta-feira. Responsável pela parte financeira da empresa do casal, ela detalhou conversas com Antônio Palocci, o ex-ministro Guido Mântega e o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, acerca dos pagamentos pela Odebrecht no exterior. Mônica contou, ainda, que, depois de deflagrada a Lava Jato, o PT ficou devendo à empresa R$ 15 milhões relativos à campanha de Dilma Rousseff em 2014. “Pro senhor ter uma ideia, eu tinha que ter recebido da Odebrecht, como a parte que eles iriam pagar da campanha de Dilma Rousseff em 2014, R$ 25 milhões e eu nunca recebi. Eles me pagaram R$ 10 milhões em espécie aqui. A parte que seria depositada lá fora, que eles fariam depois da campanha passar, eu nunca recebi. Então eu reconheço que recebi dinheiro da Odebrecht para campanha de Dilma Rousseff, em 2014, mas não o valor de R$ 23 milhões”, declarou.