Integrantes do PDT de São Paulo, sigla do presidenciável Ciro Gomes, demonstraram mágoa em relação ao PT em um debate promovido pelo jornal O Estado de São Paulo. Eles não pouparam críticas ao comportamento “suicida” do partido – além de chamarem o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad de “poste”.
O grupo tem um alívio: não ter a companhia do Centrão, que foi objeto de cobiça de Ciro. A figura da ruralista Katia Abreu, vice na chapa de Ciro, foi exaltada. Os pedetistas a comparam com a do ex-senador Teotônio Vilela, que embora de origem liberal lutou ao lado da oposição contra a ditadura.
Um grupo de seis homens e uma mulher, com idades entre 21 e 65 anos, recebeu a reportagem na sede paulista do partido, instalada em uma casa no Ibirapuera.
As feridas abertas pelo movimento petista que manteve o PSB na neutralidade e isolou a candidatura de Ciro Gomes ainda ressoam entre os pedetistas. O presidente do PDT municipal, e candidato ao Senado, Antônio Neto, disse que a “estratégia do PT “causou estranheza”. “Hoje o PT tem uma chapa com três pessoas e ninguém sabe o papel que cada um desempenha. Haddad, o provável candidato à Presidência, não tem expressão nenhuma no País. Não chega a 10% (das intenções de voto)”, disse Neto. “Essa confusão com a candidatura Lula é um suicídio. O candidato é o poste do Lula. Queremos alguém com luz própria. Não um poste.”
Para André Duarte, de 44 anos, da secretária-geral do PDT, a atitude do PT foi de autopreservação. “O PT perdeu várias prefeituras. O Ciro estava se destacando e o PDT virando referência. O PT teve medo de perder sua característica hegemônica”, disse.
A ex-pré-candidata do PCdoB e hoje componente da chapa “triplex petista”, Manuela d’Ávila, também não foi poupada. “Manuela lutou muito para ter um papel de destaque e agora está nesse papel vergonhoso. Eu estaria envergonhada”, afirmou a Gleydes Sodré, candidata a vice na chapa do PDT ao governo do Estado.
Centrão – Os militantes fizeram questão de se mostrarem aliviados com o fato do Centrão não ter fechado aliança com o PDT – o bloco formado por DEM, Solidariedade, PP, PR, PRB que formalizou apoio a Geraldo Alckmin (PSDB). “Sinto alívio, sim. Nossa militância está cada vez mais orgânica dentro do PDT”, disse Gleydes. “Claro que tempo de TV importa, mas o projeto ideológico precisa vir na frente”, completou Vinícius Costa Martins, de 26 anos, membro da Fundação Leonel Brizola.
A chapa pura foi exaltada pelos participantes do debate. Mesmo a escolha de Katia Abreu como vice não foi encarada como um problema pelos militantes. “Eu comparo hoje Katia Abreu ao Teotônio Vilela. Eles têm a mesma origem. Quando Vilela descobriu o processo de tortura que acontecia na ditadura, ele se converteu em um grande líder pela democracia”, disse Neto. A participação de Katia no processo de impeachment, ao lado da presidente cassada Dilma Rousseff, foi ressaltada pelo grupo.
Bolsonaro – O grupo defendeu o temperamento de Ciro – dizendo que o que ele vocaliza é a indignação do povo brasileiro. Neto reclamou da forma como a imprensa trata o temperamento dele. “Eu vejo o (candidato do PSL, Jair) Bolsonaro agredindo jornalista, mulher, gay e negros…E ele não é tratado como destemperado. Ele é considerado engraçado.”