Por Davi Lemos (dvlemos@gmail.com)
O debate da TVE realizado na noite desta quinta-feira (20) teve dois empecilhos para atrair a atenção do eleitor: o primeiro foi o formato engessado que marca a maioria dos debates em rádio e TV; o segundo e menos previsível, os candidatos ao Palácio de Ondina concorreram contra uma boa partida de futebol entre Bahia e Botafogo pelas oitavas de final da Copa Sul-Americana.
De resto, o debate foi previsível: cinco candidatos contra Rui Costa (PT), que tenta a reeleição, que precisou se defender de ataques às áreas de segurança, saúde e educação em seu governo; o petista, por sua vez, atribuindo toda mazela de sua administração à ascensão de Temer, que não contou com defensores nas quase duas horas de programa.
O primeiro ataque a Rui veio do candidato do MDB, João Santana, que falou da “fila da morte”, expressão utilizada para referir-se à Central de Regulação. Quando questionado sobre o apoio ao presidente Michel Temer, Santana foi enfático: “meu candidato é Meirelles”. Um dos pontos engraçados do embate entre Santana e Rui, foi quando o candidato do MDB disse que Rui tirava “leite de pedra”. O petista tomou como elogio, mas Santana logo esclareceu o sentido da expressão: “você inventa respostas para coisas que não fez”.
Segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, o democrata Zé Ronaldo acusou o petista de não agir como governador, uma vez que punha toda culpa pelos resultados ruins do estado na ascensão de Temer. Ronaldo negou por diversas vezes qualquer ligação com o presidente, e disse que quem elegeu Temer foi o petista. O governador, que tenta a reeleição e tem mais de 50 pontos percentuais de vantagem sobre o democrata, segundo o último levantamento do Ibope, ficou na defensiva. Rui salientou que o estado voltará a crescer quando houver um presidente que não mais “persiga” a Bahia e o Nordeste: o nome seria Fernando Haddad, que passou de vice de Lula a cabeça da chapa presidencial do PT.
Rui também precisou se defender dos dados ruins como o desabamento do Centro de Convenções (fundamental, como apontaram os adversários do petista, para o turismo e negócios na capital baiana), ausência de reajuste para aposentados há quatro anos e os dados do Ideb que põem a Bahia com o pior nível médio nacional. O governador, em sua defesa, salientou que pagou os salários em dia, o que não ocorreu, enfatizou, em estados como o Rio de Janeiro, cuja arrecadação é o dobro da baiana, ou Minas Gerais, nesse caso também administrada por um colega petista.
O pai, a mulher e “ele não” – O candidato João Henrique tentou surfar em duas ondas. A primeira a do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), que lidera todas as pesquisas, mas ainda não transfere votos para o candidato ao Palácio de Ondina do mesmo partido, o PRTB, de seu candidato a vice, o General Mourão. O ex-prefeito de Salvador ressaltou inúmeras vezes sua filiação a João Durval Carneiro, ex-governador da Bahia. João Henrique disse que o pai agiu sempre como estadista, projetando obras que serviriam por décadas.
“Hoje os candidatos só pensam em quatro anos, na reeleição”, disse o candidato do PRTB.
Já Célia Sacramento (Rede), ex-vice-prefeita de Salvador, apelou à força das mulheres. Ao apontar ser a única mulher no pleito, disse que espera contar com os votos de pelo menos 54% do eleitorado. “Somos 54% do eleitorado; os outros 46% saíram de nós”, comentou a candidata. Célia ainda disse ser vítima de machismo por não ter sido alvo de perguntas de candidatos; a apresentadora Rita Batista, no entanto, ressaltou para a redista que todos os seis candidatos fariam e responderiam o mesmo número de perguntas.
Marcos Mendes, candidato do PSOL, levou estampado no peito um broche com o dizer “ele não”, uma referência a campanha nas redes sociais contra o candidato Jair Bolsonaro – alguns na esquerda sequer pronunciam o nome do presidenciável que ainda permanece internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Bolsonaro foi vítima de um atentado a faca que lhe feriu gravemente e praticamente tirou o candidato da campanha no primeiro turno.
Muito bom o texto. Análise sensata deste debate, reforçando o compromisso do site com o leitor. Parabéns!