O economista Roberto Castello Branco, anunciado nesta segunda-feira (19) pela equipe econômica do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) como futuro presidente da Petrobras, disse ao jornal O Estado de São Paulo que a petroleira tem de focar somente em atividades que tem competência para fazer.
“A Petrobras desenvolve outras atividades que não são naturais e que não atraem retorno. O melhor exemplo disso é a distribuição de combustíveis. A estatal ainda é dona da BR Distribuidora. A BR é uma cadeia de lojas, no fim das contas. A competência da Petrobras é na exploração e produção de Petróleo.”
Segundo o futuro presidente da estatal – cuja indicação foi antecipada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” -, a Petrobras tem tecnologia e bom estoque de capital humano, altamente especializado.
“É claro que não consegue fazer tudo sozinha. O ideal é que você tenha um mercado competitivo. Além das medidas de compliance, a competição é o melhor remédio contra corrupção. A corrupção tem oportunidade de se manifestar onde existe monopólio: nos preços, nas relações políticas, pelos favores… Para a Petrobras, a competição será um antídoto permanente contra esse tipo de coisa que a sociedade não tolera mais.”
De acordo com o executivo, não faz sentido uma única companhia ter 98% de uma atividade no Brasil, que é o refino de petróleo. “A Petrobras pode rever o monopólio nessa área. A competição é favorável a todos: à Petrobras e ao Brasil”, disse.
Castello Branco afirmou ao jornal que, nos próximos dias, vai preparar seus planos para a estatal. “Pedro Parente fez um ótimo trabalho de compliance e redução de custos. Esse trabalho de redução de custos deve ser permanente, porque se trata de uma empresa de commodities, cujo principal papel é ter custos baixos. Isso vale para a mineração, onde eu trabalhei muitos anos, e também para a indústria de petróleo.”
O futuro presidente da Petrobras disse que vai dar continuidade ao processo de redução de dívidas da empresa (desalavancagem). “A empresa já andou muito nessa direção e vai continuar firme.”
O escolhido para comandar a estatal também afirmou que é totalmente a favor do livre mercado, e não do controle de preços – política que marcou a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, que segurou os preços dos combustíveis para manter a inflação dentro da meta. Castello Branco disse que vai avaliar caso a caso os ativos que a companhia terá de vender. A Liquigás, por exemplo, será uma dessas empresas.
A estatal tentou vendê-la no passado recente para o grupo Ultra, mas o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) barrou a operação.
Trajetória – Ex-diretor do Banco Central e da Vale, Castello Branco fazia parte do time de especialistas que Guedes reuniu durante a campanha para debater a formulação de propostas econômicas para o então presidenciável.
Castello Branco é visto como homem de confiança de Guedes e seu nome já vinha sendo cogitado para o posto. Mas, como o trabalho de Monteiro à frente da Petrobras era bem avaliado pelo futuro ministro da Economia, havia disposição para que ele seguisse no comando da petroleira. Monteiro mostrou-se, contudo, reticente em permanecer por mais um período na estatal. De acordo com relato feito à reportagem do Estado, ele argumentou a Guedes que o trabalho de reestruturação financeira já havia sido feito na companhia e descreveu o desgaste a que se submeteu nos últimos anos como empecilho para sua confirmação.
Para Guedes, o desenho ideal é ter Castello Branco na Petrobras e Monteiro, que fez carreira no Banco do Brasil, no comando da instituição financeira. Como Guedes, Castello Branco tem formação na Universidade de Chicago, onde concluiu seu pós-doutorado, e já vinha contribuindo com propostas para o programa do futuro governo na área de óleo e gás. Ex-presidente do IBMEC e professor da FGV, ele chegou a fazer parte do conselho da Petrobras durante o governo de Dilma Rousseff.