Os investimentos em energia eólica e solar, respectivamente, em Gentio do Ouro e Tabocas do Brejo Velho, fizeram os PIBs dessas cidades decolarem no ranking nacional, segundo os dados divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (14). O jornal Correio informa que, considerando-se as diferenças de posição no ranking nacional do PIB dos Municípios, as duas cidades baianas elas tiveram os maiores avanços, entre 2015 e 2016.
Situado no Centro-Norte baiano, região da Chapada Diamantina, o município de Gentio do Ouro foi que mais subiu no ranking nacional, ganhando 2.005 posições entre 2015 e 2016, passando de 4.496º a 2.491º maior PIB do país. Em 2016, o PIB do município foi estimado em R$ 197,6 milhões, representando 0,003% da economia nacional. Um ano antes, havia sido, em valores correntes, de R$ 57,6 milhões, representando 0,001% do PIB brasileiro.
Gentio do Ouro também se destacou com o 10º maior ganho de participação no PIB baiano, de 0,02% em 2015 para 0,08% em 2016, subindo 216 posições em um ano, de 376º para 160º. O avanço foi resultado dos ganhos da indústria de máquinas e equipamentos demandados para a construção de complexo eólico.Em 2016, a cidade recebeu R$ 1 bilhão em investimentos para implantação de um complexo eólico, com capacidade de potência instalada de 205,85 megawatts e geração de 500 empregos na fase de construção, além de outros 50 na operação.
Os investimentos são da empresa PEC Energia, que anunciou mais R$ 1 bilhão este ano, para viabilizar outro parque eólico na região. O empreendimento deve gerar 3,7 mil empregos e produzir 600 megawatts de potência instalada. O Correio não conseguiu contato com a Prefeitura local para comentar os investimentos.
Ascenção – No Oeste da Bahia, a pequena Tabocas do Brejo Velho teve a segunda maior ascensão no ranking do PIB nacional. Subiu 1.554 posições, indo do 3.986ª para o 2.432ª colocação, principalmente devido ao aumento da arrecadação de imposto de importação de equipamentos para geração solar.
Os investimentos na cidade iniciaram em fevereiro de 2016, início da construção do Parque Solar Horizonte (foto acima), empreendimento de U$$ 110 milhões da Enel Green Power, uma multinacional da energia.
O parque já está em operação, com capacidade instalada de geração de 103 MW. Há, ainda, mais dois parques da Enel na Bahia: um também em Tabocas, o Itupeva, o maior da América Latina, com capacidade de gerar 254 MW, e o outro em Bom Jesus da Lapa, batizado de Lapa, com capacidade de 158 MW.
Estes dois últimos parques entraram em operação entre junho e setembro de 2017. Juntos, os três parques possuem capacidade instalada de 550 MW e geraram ao todo 3.527 empregos diretos durante a fase de construção, 45% deles ocupados por moradores locais.
O parque solar de Horizonte é apoiado por um acordo de compra de energia (Power Purchase Agreement, – PPA, sigla em inglês) de 20 anos com a Câmara de Comercialização da Energia Elétrica (CCEE). Na Bahia, a Enel opera desde janeiro 706 MW de capacidade eólica, em Morro do Chapéu e Cafarnaum.
O crescimento do PIB na cidade se deu “de forma astronômica”, mesmo a prefeitura tendo reduzido o Imposto Sobre Serviços (ISS) de 5% para 3% para a Enel e empresas terceirizadas, informou o secretário de Administração de Tabocas do Brejo Velho Benvindo Modesto de Oliveira.
“Esse ano, já deu uma caída no movimento, porque os serviços já foram quase todos feitos, só tem uma empresa terceirizada na cidade que voltou para fazer um serviço de drenagem na área do canteiro de obras”, informou.
Os alugueis na cidade, com os trabalhadores, chegaram a crescer 500%. “Até empresa de saúde do trabalho, que nunca teve aqui, veio pra cá. Ganhamos muito com o ISS e agora, com a geração de energia, esperamos ganhar com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)”, disse.
Concentração – Apesar do desempenho das duas pequenas cidades, a riqueza da Bahia anda concentrada. Apenas 10 municípios – ou 2,4% do total de 417 – tinham 52,4% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia em 2016. No outro extremo, a metade dos municípios mais pobres do estado (208) não chegaram a somar 10% de toda a renda produzida por aqui (7,3%). Os dados, divulgados nesta sexta-feira (14) pelo IBGE, apontam que a economia baiana segue concentrada, embora num patamar menor que o nacional, onde 1,2% dos municípios (66) respondem por metade do PIB do país.
Se consideradas as três primeiras posições no ranking do PIB na Bahia, observa-se uma economia ainda mais centralizada. Salvador, Camaçari e Feira de Santana estão no pódio desde 2004 e, juntas, representavam 37,2% do PIB do estado em 2016. É como se, a cada R$ 100 gerados na Bahia, R$ 37 fossem nessas três cidades.
No estado como um todo, onde o setor de serviços é a principal atividade financeira, o PIB triplicou entre 2004 e 2016. Segundo os dados levantados pelo IBGE com a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), o PIB baiano em 2004 era de R$ 77,9 bilhões e em 2016 chegou a pouco mais de R$ 258,6 bilhões, tendo sempre a área de serviços em destaque.
A concentração econômica da Bahia não é um problema deste século, explica Gustavo Pessoti, presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA). Esse quadro vem, pelo menos, desde o século XVIII, quando a economia era baseada no Recôncavo. Depois, se deslocou para o Sul, com a lavoura do cacau, até chegar à Região Metropolitana de Salvador, a partir de 1978, com o Polo Petroquímico de Camaçari.
Na Bahia, o que tem feito a movimentação econômica ficar centrada nos municípios com os dez maiores PIBs é o desenvolvimento que eles têm na área de serviços – com exceções para alguns locais que são polos do setor industrial e do agronegócio.
Em 2004, a lista dos dez maiores PIBs trazia Salvador (R$ 19,8 bilhões), Camaçari (R$ 7,6 bilhões), Feira de Santana (R$ 2,7 bilhões), São Francisco do Conde (R$ 2,2 bilhões), Simões Filho (R$ 1,5 bilhão), Ilhéus (R$ 1,4 bilhão), São Desidério (R$ 1,4 bilhão), Vitória da Conquista (R$ 1,3 bilhão), Barreiras (1,2 bilhão) e Lauro de Freitas (R$ 1,2 bilhão).
Os dados de 2016 com relação a 2004 destacam o desenvolvimento de Salvador, que passou a ter participação de 23% no PIB da Bahia, com
R$ 61,1 bilhões, um saldo triplo, seguindo o ritmo de crescimento do estado. Salvador tem o 9º PIB do país, o 8º entre as capitais e o maior do Nordeste, mas perdeu participação no Nordeste e na Bahia. O 1º lugar é de São Paulo.
Para Gustavo Pessoti, não há uma explicação lógica para isso. “Salvador pode estar fazendo um bom trabalho, mas pode haver quem esteja também fazendo o mesmo ou mais. O fato de perder participação não quer dizer que Salvador está regredindo”, explicou.
Beneficiada com a introdução do Polo Petroquímico, Camaçari impulsiona as cidades da Região Metropolitana de Salvador, onde o setor de serviços especializados também desponta na economia, como Lauro de Freitas.
Já Feira de Santana se destaca, junto com São Francisco do Conde, como os municípios que mais ganharam participação no PIB baiano.
Queda – Mas nem todos os municípios que costumam estar no topo tiveram bom desempenho. A saída de São Desidério e Barreiras (ambas no Oeste) da lista dos dez maiores PIBs de 12 anos atrás é significativa, regionalmente falando.
Grandes polos do agronegócio, junto com Luis Eduardo Magalhães, as cidades do Oeste sofreram com a seca, que em 2016 quebrou as safras de diversos produtos agrícolas importantes na Bahia e levou o município de São Desidério a ter a maior perda de participação no PIB baiano entre 2015 e 2016.
No ranking do PIB de 2004, a cidade do oeste baiano era a sétima colocada. Durante esse tempo, a cidade conseguiu atrair pequenas indústrias de beneficiamento apenas do algodão, instaladas nas próprias fazendas, enquanto que a principal cultura, a soja, ficou de fora desse processo de modernização da cadeia.
A participação de São Desidério no PIB baiano passou de 1,11% em 2015 para 0,57% em 2016, e o município caiu da 16ª para 24ª posição no estado. No país, São Desidério, que tinha em 2015 o maior PIB agropecuário, ficou em 2016 apenas com a 15ª posição.
Barreiras fazia parte das dez maiores economias da Bahia até 2015, com PIB de R$ 3,7 bilhões. Em 2016, o PIB da cidade caiu para cerca de R$ 3,4 bilhões, levando o município para a 13ª posição.
“O que a pesquisa aponta é que as regiões que dominam a economia da Bahia por algum tempo ainda permanecem, bem como os setores, sobretudo o de serviços, mesmo com leve queda em relação a participação no PIB de 2015”, disse a coordenadora de disseminação de informações do IBGE, Mariana Viveiros.
Os piores – Na parte mais baixa da tabela, quatro municípios se revezam entre os menores PIBs do estado desde 2012: Ibiquera (R$ 26,4 milhões), Dom Macedo Costa (R$ 31,6 milhões), Contendas do Sincorá
(R$ 34,5 milhões) e Lafaiete Coutinho (R$ 36,9 milhões).
A cidade de Ibiquera esteve quase sempre em último nos rankings de 2004 a 2016. No Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal 2018, Ibiquera aparece em posição melhor entre os 417 municípios baianos. Está em 374º lugar, com desenvolvimento regular em educação, emprego e renda, mas com a saúde em baixo desenvolvimento.
Uma moradora da cidade que, meio desconfiada, se identificou apenas como Maria, disse que “hoje a cidade está ótima”. “Antigamente, a saúde era péssima, hoje não falta médico”, falou a mulher, nascida em Utinga e criada em Ibiquera.
Segundo o IBGE, Ibiquera tinha em 2004 PIB de R$ 8,8 milhões, em valores da época. Em 2016, o PIB da cidade que tem nos serviços públicos, nos aposentados e nos beneficiários do Bolsa Família as principais fontes de renda, alcançou R$ 26,3 milhões.
Fotógrafo e dono de uma danceteria, Magno Silva Miranda, 47, fez o caminho inverso de dona Maria. Viveu em Ibiquera, onde nasceu, até os 20 anos, idade com que foi morar em Utinga. “Eu e um monte de amigos saímos para estudar e trabalhar”, disse.