As autoridades paraguaias expulsaram do país o traficante brasileiro Fábio Souza dos Santos, o ‘Geleia’, de 28 anos, ligado à facção carioca Comando Vermelho – preso desde agosto em Assunção, depois de descobrir um plano para seu resgate. Santos foi entregue à Polícia Federal brasileira nesta segunda-feira (7), na Ponte da Amizade, fronteira com Foz do Iguaçu (PR). O processo de expulsão foi apressado depois que um juiz criminal de Ciudad del Este, em período de recesso judiciário, decretou a liberdade provisória do traficante.
A extradição de Santos é a quarta realizada pelas autoridades paraguaias em menos de dois meses, atendendo a um apelo do presidente Mario Abdo Benítez para conter o avanço das facções criminosas brasileiras em seu território. A mais recente preocupação é com a influência das facções sobre a massa carcerária daquele país. De acordo com o ministro do Interior, Juan Ernesto Villamayor, no interior dos presídios, os traficantes brasileiros corrompem policiais e cooptam mão de obra paraguaia para o tráfico de drogas e armas.
Procurado no Brasil pelo assassinato de um policial e roubos a bancos, ‘Geleia’ foi preso em Ciudad del Este, em agosto do ano passado, e levado para a prisão da capital. Conforme Villamayor, o serviço de inteligência descobriu que membros do Comando Vermelho estariam preparando um ataque ao Grupamento Especializado, onde Santos e outros integrantes da facção cumpriam pena.
“Levando em conta que Souza dos Santos seria posto em liberdade (pela Justiça), decidimos expulsá-lo”, afirmou em vídeo oficial.
Segundo o ministro, assim que o plano de resgate foi detectado, o brasileiro foi transferido para a penitenciária de Encarnação, sob forte aparato de segurança. Dali, o traficante foi levado para a fronteira para ser entregue à polícia brasileira. “Não podemos ter fugitivos internacionais dedicados ao narcotráfico em liberdade dentro do país com o auxílio de medidas substitutivas outorgadas por um juiz”, disse Villamayor. Segundo ele, o brasileiro integra um “grupo criminal de alta periculosidade”.
O criminoso se refugiou no Paraguai após ser condenado a 30 anos de prisão pela morte de um policial civil, em outubro de 2017, na Bahia. Mesmo com essa condenação, ele conseguiu tirar uma cédula de identidade paraguaia. Quando foi preso, Santos estava com um revólver calibre 44 e uma pistola 9 mm, além de cartuchos e carregadores, por isso, responde também por porte ilegal de arma e munição no Paraguai.
Expulsões
‘Geleia’ é o quatro traficante ligado a facções criminosas brasileiras expulso do Paraguai desde 19 de novembro do ano passado, quando o governo paraguaio extraditou o narcotraficante Marcelo Fernando Pinheiro da Veiga, o ‘Marcelo Piloto’. O líder do Comando Vermelho seria alvo de um operação de resgate envolvendo dois veículos carregados com quase 100kg de explosivos. Na tentativa de evitar a expulsão, ‘Piloto’ assassinou uma jovem paraguaia que o visitava na prisão.
Três dias depois, foi extraditado o brasileiro Rovilho Alekis Barboza, o ‘Bilão’, integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele estava condenado no Brasil a 40 anos de prisão por narcotráfico. No dia 15 de dezembro, o governo paraguaio mandou embora o traficante Carlos Eduardo Sales Cardoso, o ‘Capilé’, chefe do tráfico na Favela do Acari, zona norte do Rio de Janeiro. Ele era procurado também por homicídio.
No dia seguinte, outro brasileiro, Thiago Ximenes, o ‘Matrix’, importante membro do PCC, fugiu do Grupamento Especializado de Assunção. O processo de extradição dele estava pronto. O presidente paraguaio afirmou ter havido cumplicidade na fuga e mandou trocar a cúpula da unidade. Dois comissários que chefiavam o quartel e 16 policiais foram detidos. Uma jovem paraguaia de 20 anos, cooptada pelo PCC para dirigir o veículo Toyota usado na fuga, foi presa. ‘Matrix’ tinha sido preso em 2014 por assalto a carro-forte e pegou 20 anos de prisão.
Villamayor confirmou que há “pelo menos 20 brasileiros” na lista de extradição e lamentou que o processo esteja sendo atrasado pelas férias judiciais. Segundo ele, o governo vai adotar a prática da expulsão imediata de criminosos notórios que entram no Paraguai e “agem como estivessem em sua casa”. Em julho de 2018, o brasileiro Eduardo Aparecido de Almeida, o ‘Pisca’, suspeito de comandar operações do PCC no Paraguai, foi expulso no dia seguinte ao da prisão.
Conforme a polícia paraguaia, ele teria participado do assalto milionário à matriz da Prosegur, em Ciudad del Este, em abril de 2017.
Quando foi preso, o criminoso era protegido por um policial paraguaio da ativa, contratado para sua segurança. Antes dele, o Paraguai havia mandado de volta para o Brasil o narcotraficante Jarvis Gimenes Pavão.
As ações indicam que as autoridades paraguaias se deram conta de que os criminosos ‘formados’ em prisões brasileiras exploram brechas nas leis daquele país para usufruir de mordomias e evitar a extradição, quase sempre se valendo de uma legião de advogados. Uma das advogadas que defendia ‘Piloto’, Laura Casuso, foi executada a tiros em novembro, em Pedro Juan Caballero. Uma das hipóteses seria o descontentamento com sua atuação.
Desde que as facções se instalaram na fronteira, o número de crimes violentos explodiu na região que corresponde ao sul do Mato Grosso do Sul. Somente no lado brasileiro, em 2017, a cidade de Ponta Porã registrou 48,7 homicídios por 100 mil pessoas, muito acima da média nacional, de 27,8 por 100 mil. A vizinha Coronel Sapucaia teve 67,4 mortes por 100 mil, mas o recorde foi de Paranhos, outra cidade fronteiriça, onde o índice de homicídios foi de 109,7 – mais que o triplo da média brasileira.