Encerrado neste domingo (03) o prazo do ultimato dado pelos europeus para o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, admitir a organização de novas eleições no país, seis Estados europeus reconheceram, nesta segunda-feira (04), o opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. A Espanha foi o primeiro país a oficializar o apoio ao líder da Assembleia Nacional venezuelana, seguido por Reino Unido, Suécia, Dinamarca, França e Áustria.
Os europeus pressionavam para que Maduro concordasse com um novo pleito presidencial como saída para a crise que assola o país sul-americano. Diferentemente de Estados Unidos, Brasil e outros 16 Estados que já haviam reconhecido a autoridade de Guaidó, os europeus reforçaram que o líder opositor deve conduzir o país a novas eleições o mais rápido possível.
— O governo da Espanha anuncia que reconhece oficialmente o presidente da Assembleia da Venezuela, o senhor Guaidó, como presidente encarregado da Venezuela para que convoque eleições presidenciais no menor prazo de tempo possível — afirmou Sánchez em discurso no Palácio de Moncloa.
Em gesto simbólico, não vinculante aos membros do continente, o Parlamento europeu aprovou na quinta-feira uma resolução em que reconhecia a autoridade Guaidó, já apoiado por EUA, Brasil, Colômbia e outros 16 países. O ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, Jeremy Hunt, destacou que, a partir desta segunda-feira, Londres reconhecerá o líder opositor como “presidente constitucional interino” na Venezuela.
“Maduro não convocou eleições presidenciais no prazo de 8 dias que fixamos. Assim, o Reino Unido, junto a seus aliados europeus, reconhece agora Juan Guaidó como presidente constitucional interino até que se possa celebrar eleições críveis”, escreveu Hunt no Twitter.
O Ministério de Relações Exteriores da Dinamarca também confirmou apoio ao opositor “até novas e livres eleições democráticas” no país sul-americano. O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, ressaltou que Guaidó “conta com o pleno apoio” do país para restabelecer a democracia na Venezuela, que, segundo ele, “sofre há tempos demais com a má gestão socialista e a ausência de Estado de direito”.
O chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, destacou nesta segunda-feira que a França consultaria outros países europeus sobre o reconhecimento de Guaidó como presidente interino da Venezuela, mas logo destacou que o líder opositor tinha “capacidade e legitimidade” para organizar um novo pleito na Venezuela. Na sequência, o presidente francês, Emmanuel Macron, oficializou o apoio a Guaidó no Twitter.
“Os venezuelanos têm direito de se expressar livremente e democraticamente. A França reconhece Juan Guaidó como ‘presidente encarregado’ para implementar um processo eleitoral. Apoiamos o grupo de contato, criado com a União Europeia, neste período de transição”, escreveu Macron no Twitter.
No dia em que se encerrou o prazo do ultimato europeu, a União Europeia anunciou que será coanfitriã de uma reunião do grupo de diálogo criado pelo bloco para a crise da Venezuela, ao lado do Uruguai. Estarão presentes ainda chanceleres da Bolívia, da Costa Rica e do Equador na reunião inaugural de quinta-feira, em Montevidéu. Maduro destacou apoiar a “boa iniciativa” do grupo. O anúncio expôs a dissonância de tom do bloco em relação à abordagem dos Estados Unidos, que rejeita qualquer negociação com o líder bolivariano. Neste domingo, o presidente americano, Donald Trump, reconheceu que uma intervenção militar “é uma opção” para a crise.
Rússia critica ‘interferência’ europeia
Além da Espanha, Reino Unido e França, Alemanha, Portugal e Holanda exigiram que Maduro anunciasse novas eleições presidenciais até o fim de domingo — caso contrário, reconheceriam a autoridade do opositor. A Áustria se uniu ao grupo neste domingo. Em entrevista à rede espanhola La Sexta, o líder bolivariano rechaçou o ultimato europeu e prometeu “não dar o braço a torcer por covardia”.
— Por que a União Europeia tem que dizer a um país do mundo que já fez eleições que tem que repetir suas eleições presidenciais porque não ganharam seus aliados de direita? — questionou Maduro, entrevistado em Caracas pelo jornalista Jordi Évole.
Maduro tomou posse em 10 de fevereiro para um segundo mandato presidencial, após ser reeleito em eleições marcadas por denúncias de fraude, boicote da oposição e abstenção de 54%. Mais de 40 países questionaram a legitimidade do pleito.
Não há consenso entre países da UE sobre o reconhecimento de Guaidó como chefe de Estado, já que isso criaria um precedente para outros casos semelhantes. Embora acuse Maduro de sufocar a democracia, a União Europeia está nervosa com o precedente de uma autodeclaração, e por isso relutou em seguir os Estados Unidos e a maioria das nações latino-americanas.
Diante da onda de apoio na Europa a Guaidó, a Rússia denunciou a “interferência” dos países do continente nos assuntos internos da Venezuela. Moscou é um dos principais aliados e credores do regime de Maduro.
— Percebemos as tentativas de legitimar a usurpação do poder como uma interferência direta e indireta nos assuntos internos da Venezuela — declarou a jornalistas o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.
Durante a entrevista à La Sexta, Maduro enviou uma mensagem a Guaidó.
— Que abandone a estratégia golpista. Se quer conseguir algo, sente-se em uma mesa de negociação cara a cara — desafiou o presidente.
Guaidó, de 35 anos, já apontou que não se engajará em diálogos “falsos” que deem oxigênio ao governo e o permitam ganhar tempo. O líder opositor diz que os venezuelanos continuarão nas ruas “até que cesse a usurpação” de poder de Maduro.