O clássico Ba-Vi com torcida única desde 2017, por recomendação do Ministério Público do Estado da Bahia (MP/BA), continua e ganhou amplo debate na Câmara, na manhã desta quarta-feira (20), por iniciativa da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos do Torcedor. Na audiência pública ocorrida no Centro de Cultura, o vereador Henrique Carballal (PV) propôs um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre todos os envolvidos para o retorno da torcida mista. Também sugeriu a realização de outro debate, em busca de uma solução mais concreta.
No entendimento de Carballal, a recomendação do MP/BA fere direitos do torcedor. “Estamos aprofundando o debate. O torcedor infrator tem que ser punido e a violência não pode servir de motivo para a supressão de direitos”, afirmou o vereador.
Ainda nas suas considerações, Carballal disse que o acesso aos espaços públicos, o direito de ir e vir como estabelece a Constituição Federal, “está sendo violado quando o cidadão veste uma camisa de um time de futebol”.
“É louvável a preocupação do Ministério Público quando busca minimizar os efeitos da violência, mas nós não podemos admitir que isso se dê com a supressão de direitos das pessoas. O estado democrático de direito vive ameaçado”, acrescentou Carballal.
Determinação continua – Conforme o promotor de Justiça Olímpio Campinho, a determinação temporária do MP, com torcida única, foi tomada para conter a violência nos estádios e está mantida para os próximos Ba-Vis. Disse ainda que outros clássicos já adotam a medida, como River x Boca, na Argentina. Também mostrou que no dia de Ba-Vi, com torcida mista, o policiamento na cidade fica comprometido, por conta do controle das torcidas organizadas dentro e no entorno do estádio. Sobre a possibilidade de ocorrer um TAC, disse que “é possível”.
No entendimento do advogado Ademir Ismerim, “o sentimento que paira é de perplexidade com a impossibilidade da torcida mista no Ba-Vi”. Conforme o advogado, o Regulamento de Competições assegura a presença da torcida visitante, passando a integrar a lei.
Segundo o vice-presidente jurídico da Federação Bahiana de Futebol (FBF), Manfredo Lessa, a entidade vai continuar acatando a determinação do MP/BA. Sobre o tema em si, afirmou que é polêmico e “a discussão é mais profunda, pois temos que discutir segurança pública”.
O tenente-coronel PM Saulo Santos mostrou que a presença da torcida única reduziu consideravelmente a violência no clássico Ba-Vi e o efeito positivo foi visto no último jogo com a presença de mais de 44 mil torcedores.
Conforme o vereador Marcos Mendes (PSOL), a decisão do MP é “punitiva”, mesmo sendo tomada para cuidar das pessoas. Disse ainda que a solução passa pela educação, por um processo pedagógico. Para conter a violência no clássico, defendeu um programa educativo pelos veículos de comunicação.
Franqueada a palavra à plenária, torcedores do Bahia e do Vitória defenderam a volta da torcida mista. Para Moacir Silva, torcedor do rubro-negro, “quem tem que ser punido é o agressor e não o torcedor em geral”. Já Luciano Venâncio, presidente da Bamor, afirmou é impossível controlar todos os integrantes da organizada do tricolor.
Já Uilson Mendes, assessor do vereador Alfredo Mangueira (MDB), afirmou que “não tem sentido torcida única, nem aqui e nem em outros lugares”.
Também participaram do debate, compondo a mesa de trabalho, Marcos Andrade, representando a Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia; Bruno da Hora, representando o Esporte Clube Vitória; Marcelo Stem, representando o Esporte Clube Bahia; e Thiago Rodrigues, titular da 11ª Delegacia de Polícia.