26 de novembro de 2024
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Maduro atribui apagão na Venezuela a ciberataques

Maduro atribui apagão na Venezuela a ciberataques

Após dias atribuindo o apagão que tomou conta do país a um ataque cibernético, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, detalhou neste sábado (09) que o sistema elétrico teria sofrido quatro ataques: dois cibernéticos, um eletromagnético e um causado por um incêndio em uma subestação elétrica no sul do país, “fundamental para a distribuição de energia”.

Do alto de um palanque, em uma manifestação convocada em resposta à marcha do líder opositor, Juan Guaidó, Maduro explicou que o “primeiro ataque cibernético internacional” ocorreu contra o “cérebro da empresa elétrica” do país às 19h de quinta-feira, quando tentavam reconectar o sistema para restaurar a energia. Segundo ele, este ataque afetou todos os sistemas e máquinas de reconexão.

Uma segunda invasão teria ocorrido quando tentavam restabelecer os processos manualmente, na madrugada de sábado. O presidente, no entanto, não apresentou provas.

— Descobrimos que eles estavam realizando ataques de alta tecnologia, o que nossos especialistas chamam de ataques eletromagnéticos, para sabotar o processo de reconexão. Isso afetou o restabelecimento da eletricidade que chegou a ser parcialmente realizado em Caracas e em alguns estados no leste do país, como Anzoátegui, Monagas, Nueva Esparta, Delta Amacuro e parte de Sucre.

Maduro também citou um incêndio em uma subestação de transmissão, na madrugada de sábado. Por último, quando a luz voltou, durante a manhã, “houve um terceiro ciberataque”.

— Hoje, 9 de março, havíamos avançado quase 70% (no restabelecimento da eletricidade), quando sofremos, ao meio-dia, um novo ataque de caráter cibernético a uma das fontes de geração de energia, que funcionava perfeitamente, o que perturbou e derrubou tudo que havíamos conseguido — disse o presidente a uma multidão de apoiadores no centro de Caracas.

Embora Maduro não tenha precisado uma data para a restauração da eletricidade, prometeu que ocorreria “nas próximas horas”, mas novamente pediu paciência e calma aos venezuelanos.

Em meio a um apagão intermitente, que começou na quinta-feira, Caracas amanheceu dividida entre apoiadores de Guaidó — que convocou uma nova manifestação — e do governo. Durante a manhã, o foco de tensão esteve no protesto da oposição, onde a Guarda Nacional Bolivariana tentou afastar manifestantes usando gás lacrimogêneo, uma demonstração de força mais intensa do que a registrada em eventos anteriores.

As marchas ocorrem menos de 48 horas após o apagão que deixou Caracas e praticamente todo o território nacional sem luz e 96% da população sem internet, segundo do observatório de medição Netblocks. Mais da metade do país permanece sem eletricidade há mais 40 horas ininterruptas.

Todos os olhos se voltaram desde quinta-feira para a represa de Guri, construída há quatro décadas como um dos maiores projetos hidrelétricos do mundo e, por muito tempo, a maior geradora de energia do país — ainda que a ausência de dados oficiais confiáveis torne impossível calcular quanta energia gera hoje. Esta é a origem do apagão que começou na quinta-feira: só 11 das 20 turbinas de geração de energia estão em funcionamento, segundo dados de Leonardo Vera, professor da Escola de Economia da Universidade Central da Venezuela (UCV).

— O sistema atravessa problemas importantes há muitos anos — destaca ao “El País” o especialista em políticas públicas.

Diego Moya-Ocampo, da consultoria de riscos IHS, centra sua análise na falta de investimentos nas centrais hidrelétricas e nos projetos falidos do setor de energia termelétrica, que deveriam dar segurança ao sistema ante o colapso de Guri.

— A partir do momento em que Chávez começa a nacionalizar as empresas de eletricidade, se inicia um processo de falta de investimento e manutenção em toda a rede — afirma ao jornal espanhol.

Em Guri é onde mais se nota esta falta de investimentos: a falta de recursos destinados à manutenção e melhoras nos últimos anos se traduziu em “vários colapsos” desde 2010.

— Mas este é o colapso de maior escala: não só falhou Guri com também os sistemas alternativos — acrescenta Moya-Ocampo. — Simplesmente não se está gerando o suficiente para poder atender a demanda.

Os apagões, uma dor de cabeça nacional, tiveram um notório impulso com a saída do negócio das companhias privadas e regionais. Depois da falha nacional no abastecimento, ocorrida em 2007, produto de uma sobrecarga do Sistema Elétrico Nacional, Hugo Chávez anunciou a criação, em 2008, da Corporação Nacional Elétrica (Corpoelec). Com ela foram centralizados os serviços elétricos do país, e com ela, também, começou uma decadência progressiva do serviço.

Mas a falta de investimentos, o êxodo de profissionais especializados, a má gestão do sistema elétrico venezuelano e a incapacidade da rede de centrais termelétricas que deveria atuar como salvaguarda ante a queda da hidrelétrica de Guri (a maior do país sul-americano, no estado de Bolívar), agravaram a situação.




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