A partir desta segunda-feira (13), a história de luta e de profunda transformação social de uma comunidade de Salvador – conhecida antigamente como Cidade de Plástico – já pode ser conhecida por pessoas de todo o mundo. O documentário “Zeferinas – Guerreiras da Vida” está disponível no site zeferinas.com.br e foi lançado em sessão especial, realizada no início da noite, com a presença do prefeito ACM Neto e do vice, Bruno Reis, que emocionou os convidados presentes, dentre eles moradores do conjunto habitacional, no Espaço de Cinema Glauber Rocha, no Centro.
O gestor salientou que a obra foi inspirada na história de vida de mulheres que moram no Conjunto Habitacional Guerreira Zeferina, entregue pela Prefeitura em 2018, e que são consideradas verdadeiras guerreiras. “Elas acreditaram, há muitos anos, que um dia poderiam realizar o sonho de morar em lugar digno, em um conjunto habitacional de natureza popular mais bonito do Brasil e que, depois de muita luta e dificuldade enfrentadas por essas famílias, que sequer tinham sanitário em casa, conseguiram realizar esse sonho”, afirmou ACM Neto.
O prefeito afirmou ainda que o documentário também aproveita para fazer um paralelo com a história de luta dos escravos pela libertação do povo baiano, no século XIX. “Essa é uma história que sempre deve ser lembrada porque essa é uma reparação permanente que a sociedade tem que fazer. Agora, a gente tem essa oportunidade de contar essa história para o Brasil e para o mundo. Além disso, as pessoas também vão saber quem foi a guerreira Zeferina e vão entender porque dá nome ao conjunto habitacional, escolhido pela própria comunidade”, completou.
O relato audiovisual impressionou a atendente de loja Diane Silva, 31 anos, que reside no bairro vizinho de Pirajá, às margens do Parque São Bartolomeu. “Conheci a comunidade antes com meu esposo e vi de perto a realidade. Era tudo muito feio, de plástico. É gratificante ver a realidade posta na tela. O sofrimento que as mulheres passaram, a luta e, hoje, ver a realidade de estabilidade que elas conseguiram e o prestígio delas mostrado em público. É muito lindo. A Prefeitura está de parabéns, principalmente por também desenvolver projetos que ajudam a própria comunidade.”
Representatividade – A trajetória da comunidade localizada em Periperi, no Subúrbio Ferroviário, é contada por quatro moradoras: Cassileide, Vanda, Tâmara e Miriam. Elas relatam desde a chegada ao local em busca de moradia, relembram o medo de viver em condições subumanas, e demonstram a sensação de orgulho e sonho realizado com a casa própria e um local mais digno de viver com a família.
O papel da guerreira Zeferina foi interpretada pela atriz Edvana Carvalho, uma das fundadoras do Bando de Teatro Olodum e que ressaltou a importância da representatividade da mulher negra na tela. “Está de parabéns a Prefeitura nesse sentido. Acho que o documentário vem reafirmar e deixar registrado isso para a posteridade de que nós, mulheres negras, sempre fomos de luta. É importante que a luta das mulheres negras do passado e de hoje seja registrada. É muito bom e louvável quando a gente se vê de uma forma heroica”, afirmou.
Realização – Realizado pela Prefeitura com produção da agência Propeg, o filme foi dirigido por Márcio Cavalcanti (“Sou Carnaval” e “Bahêa, Minha Vida”). Com quase 25 minutos de duração, a obra faz um paralelo entre as guerreiras do tempo presente, que têm uma história de superação, com a heroína do passado, que é a inspiração para o nome da comunidade que teve a face transformada pela construção do conjunto habitacional pelo município, a partir de 2018.
Com entrevistas emocionantes e reveladoras, além de imagens fortes da antiga Cidade de Plástico e da paisagem que compõe a realidade atual das “zeferinas”, o documentário resgata esse elo, mostrando os maiores conflitos da trajetória de cada “guerreira” que habita o local, que fica às margens da linha férrea.
O pontapé inicial da obra foi fazer o resgate da trajetória da guerreira Zeferina de 1826, intercalando com a história das mulheres lutadoras da atualidade. As gravações duraram dez dias, sendo nove na comunidade e um para filmagens de reconstituição histórica no Parque São Bartolomeu. Além dos depoimentos, o filme relembra os 14 anos de existência da Cidade de Plástico – referência à lona que servia de teto para os barracos feitos de madeirite.
Foto: Max Haack/SECOM-PMS