A Polícia Federal (PF) tem elementos de prova de que um hacker tentou se passar pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e mandou mensagens para terceiros em nome do ex-juiz da Operação Lava Jato. Um dos elementos é uma mensagem enviada no dia 4 de junho a um funcionário do próprio gabinete de Moro, depois de ativar uma conta do Telegram – aplicativo de troca de mensagens via internet.
Diálogos atribuídos a Moro e ao procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, passaram a ser divulgados pelo site The Intercept Brasil, desde o dia 9. Segundo a publicação, os diálogos indicariam suposta conduta irregular do então juiz da Lava Jato e consequente comprometimento das decisões dos processos julgados na 13ª Vara Criminal, em especial no caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que está preso e condenado por corrupção desde 8 de maio de 2018.
Moro e Dallagnol negam ilícitos e acusam “crime às instituições” no ataque cibernético e na divulgação do material pelo site. Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo no dia 14, Moro pediu a apresentação integral do material obtido pelo site, falou em tentativa de obstrução da Justiça e interesse de réus da Lava Jato e viés político-partidário na forma de divulgação.
O ministro da Justiça afirma ter saído do Telegram em 2017, quando sua conta foi excluída. No dia 5 de junho foi revelado que Moro teve o aparelho desativado, após perceber que um dia antes ele havia sido alvo de ataque virtual. O celular do ministro foi invadido por volta das 18h da terça-feira, 4. Ele só percebeu após receber três telefonemas do seu próprio número. O ex-juiz, então, acionou investigadores da Polícia Federal, informando da suspeita de clonagem.
‘SFM’ – A reportagem teve acesso a uma dessas cópias. Nela, o hacker usa uma conta do Telegram identificada como “SFM”, que seria as iniciais de Sérgio Fernando Moro usada comumente pelo ex-juiz da Lava Jato. Era dia 4 de junho, mesmo dia em que Moro afirmou ter recebido três ligações do aplicativo em seu nome.
O suposto “SFM” enviou mensagem a uma pessoa próxima de Moro às 21h17, após sua conta aparecer no aparelho. “4 de junho. SFM entrou para o Telegram.” No texto, o hacker escreve: “Boa noite. O que achou dessa matéria?”, anexado a uma publicação do site do próprio Ministério da Justiça sobre o projeto anticrime do governo.
A Polícia Federal instaurou inquérito para investigar supostos ataques feitos por hackers aos celulares de procuradores da República que atuam nas forças tarefas da Lava Jato em Curitiba, no Rio e em São Paulo. Outro inquérito foi aberto para apurar eventuais ataques ao celular do ministro Sérgio Moro. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, solicitou a unificação da investigação em relação aos ataques cibernéticos criminosos contra membros do Ministério Público Federal.
Na entrevista ao Estado, afirmou que foi “vítima de um ataque criminoso de hackers”. “Clonaram meu telefone, tentaram obter dados do meu aparelho celular, de aplicativos. Até onde tenho conhecimento, não foram obtidos dados.”
No material analisado pela PF, há elementos de que a conta clonada de Moro continuou ativa até pelo menos a última semana. O próprio ministro destacou o fato de não ser “uma invasão pretérita” ao ser questionado sobre as apurações.
“Nós estamos falando aqui de um crime em andamento. De pessoas que não pararam de invadir aparelhos de autoridades ou mesmo de pessoas comuns e agora têm uma forma de colocar isso a público, podem enviar o que interessa e o que não interessa.”
Na última semana, um membro Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) relatou ter seu Telegram clonado. O hacker teria enviado mensagem em seu nome a um grupo do CNMP. As mensagens partiram do celular do conselheiro Marcelo Weitzel Rabello de Souza.
Moro confirmou nesta quarta-feira (19), em audiência no Senado, que sua conta falsa no Telegram continuaria ativa pelo hacker. Ao Estado, em entrevista no dia 14, ele explicou o ocorrido: “o meu celular foi clonado, eles utilizaram o clone do celular para capturar o Telegram, que eu não estava mais, e conversaram com funcionário do Ministério da Justiça fazendo-se passar por mim”.