Nesta quinta-feira (20), em um novo capítulo do acirramento de tensões entre Estados Unidos e Irã , Teerã anunciou que derrubou um drone americano em seu território. Washington, contudo, alega que o equipamento estava em espaço aéreo internacional. O episódio vem dias após os EUA culparem o país persa por ataques a dois navios no Estreito de Ormuz , região por onde passa cerca de 20% de todo o petróleo comercializado no mundo.
Reagindo ao incidente, Trump tuitou que “o Irã cometeu um erro muito grande”.
Iran made a very big mistake!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 20, 2019
O canal estatal iraniano Press TV disse que um “drone espião” estava sobrevoando o território persa sem autorização e foi derrubado na província de Hormozgan, na costa sul do país. O comandante-chefe da Guarda Revolucionária do Irã disse que o ataque carrega um recado para a Casa Branca:
— A derrubada do drone americano foi uma clara mensagem para os Estados Unidos. Nossas fronteiras são o último limite e nós vamos reagir com veemência contra qualquer agressão. — disse Hossein Salami, segundo a televisão oficial do país. — O Irã não está em busca de uma guerra com qualquer país, mas estamos completamente preparados para nos defender.
Os militares americanos rejeitaram a acusação de que teriam violado o espaço aéreo iraniano, alegando que o equipamento estava em território internacional. A posição exata do drone, identificado por ambos os países como um RQ-4 Global Hawk, é importante porque determinaria qual Estado é, de fato, o agressor.
— Nenhuma aeronave americana estava operando no espaço aéreo iraniano nesta quinta-feira — disse Bill Urban, porta-voz do Comando Central. — Esse é um ataque não provocado a um equipamento de vigilância americano em espaço aéreo internacional.
Na semana passada, militares americanos já haviam acusado o Irã de disparar um míssil contra um outro drone, que vistoriava o Golfo de Omã após os ataques às duas embarcações na região.
O incidente desta quinta-feira é o primeiro episódio recente que envolve diretamente forças militares americanas e iranianas — um perigoso alerta do que pode acontecer no Golfo.
Segundo o analista da BBC, Jonathan Marcus, a mensagem explícita do chefe da Guarda Revolucionária não deixa dúvidas de que Teerã está por trás do ataque e que envia um claro recado para os EUA. Ele ressalta que, mesmo com os ambos os lados reforçando que não desejam um conflito, ataques deste tipo podem ser a gota d’água.
Em uma outra frente da complicada disputa de forças no Oriente Médio, a Arábia Saudita disse que rebeldes houthis apoiados pelo Irã teriam realizado uma nova ofensiva aérea no território saudita na quarta-feira. Na guerra do Iêmen, os houthis lutam contra uma coalizão liderada pelos sauditas e com o apoio dos Estados Unidos e dos Emirados Árabes Unidos , que com frequência culpa Teerã pelos ataques. Segundo um comunicado emitido por militares sauditas, os ataques aéreos são evidências de que iranianos estariam fornecendo armamentos sofisticados para seus aliados iemenitas.
O relacionamento entre os dois países é historicamente difícil, mas tem uma piora crescente desde maio de 2018, quando Donald Trump anunciou que a retirada do acordo nuclear negociado em 2015. Na ocasião, o Irã se comprometeu a não produzir a bomba atômica, em troca dos benefícios econômicos que esperava obter com o fim das sanções então vigentes da ONU, da União Europeia e dos EUA. As sanções europeias e as impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas foram suspensas, mas, dado o poder do dólar e do sistema financeiro americano, a volta das sanções de Washington acabou atingindo o comércio e os investimentos no Irã de empresas de outros países, incluindo as europeias.
O medo de um conflito armado ganhou forças na semana passada, quando os americanos acusaram Teerã de atacar os dois navios petroleiros no Estreito de Ormuz — a Casa Branca já havia culpado os iranianos, que negam envolvimento, por incidentes similares em quatro navios no mês passado. Na quarta-feira, militares dos EUA disseram para jornalistas que teriam recuperado fragmentos similares às minas magnéticas, frequentemente utilizadas pelo Irã, em uma das embarcações. Dias antes, o Pentágono havia divulgado um vídeo que alega mostrar iranianos tirando um explosivo de um dos navios.
Na segunda-feira, horas após o Irã anunciar que o seu estoque de urânio enriquecido ultrapassará no dia 27 de junho o limite estabelecido pelo acordo nuclear, violando os termos do tratado, Donald Trump anunciou o envio de mil soldados adicionais para o Oriente Médio. Em maio, 1.500 homens e diversos equipamentos militares já haviam sido deslocados para a região.
Na manhã desta quinta-feira, o presidente russo Vladimir Putin disse que ações militares contra o Irã seriam “catastróficas para o Oriente Médio” e afirmou que o país persa está “cumprindo completamente” o acordo nuclear.