O presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer, neste domingo (21), que não criticou o povo nordestino ao citar “governadores de paraÃba” antes de inÃcio de café da manhã com correspondentes da imprensa estrangeira. Pelo Twitter, o chefe do Planalto aproveitou a mensagem para atacar o general Luiz Rocha Paiva , integrante da Comissão de Anistia do governo federal que o havia criticado pelo comentário. Chamou-o de “melancia” — termo pejorativo para definir quem seria “verde” (neste caso, verde oliva, de militar) por fora e “vermelho” (comunista) por dentro.
“‘Daqueles GOVERNADORES… o pior é o do Maranhão’. Foi o que falei reservadamente para um ministro. NENHUMA crÃtica ao povo nordestino, meus irmãos. Mas o melhor de tudo foi ver um único general, Luiz Rocha Paiva, se aliar ao PCdoB de Flávio Dino, para me chamar de antipatriótico. Sem querer descobrimos um melancia, defensor da Guerrilha do Araguaia, em pleno século XXI”, escreveu o presidente na rede social.
– Sem querer descobrimos um melancia, defensor da Guerrilha do Araguaia, em pleno século XXI.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) July 21, 2019
Na mesma sequência de tuÃtes, Bolsonaro publicou um vÃdeo de projeto de obras de ferrovia que, segundo ele, ligarão em dois anos o porto de Itaqui, no Maranhão, ao porto de Santos, em São Paulo.
“Em 4 anos faremos muito pelo Brasil e o até então esquecido Nordeste, apesar da mÃdia e alguns governadores”, prometeu.
– Em 2 anos o porto de Itaqui, no Maranhão, estará ligado, por ferrovia, ao porto de Santos. Em 4 anos faremos muito pelo Brasil e o até então esquecido Nordeste, apesar da mÃdia e alguns governadores. pic.twitter.com/m9f5CBOcuG
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) July 21, 2019
Na sexta-feira, microfones captaram trecho de conversa reservada do presidente com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. “Daqueles governadores de ‘paraÃba’, o pior é o do Maranhão; tem que ter nada com esse cara”, afirmou ele ao aliado. Alvo de crÃticas de nordestinos, incluindo artistas e polÃticos, Bolsonaro destacou mais tarde que se referia apenas a Flávio Dino, governador do Maranhão, e João Azevêdo, da ParaÃba.
Neste sábado, o general Rocha Paiva disse ao jornal “Estado de S. Paulo” que o comentário de Bolsonaro sobre os governadores nordestinos era “antipatriótico” e “incoerente”.
“Tem que ter calma, mas mostrar para ele o quanto perdeu com essa grosseria com que menosprezou uma região do Brasil e seus habitantes. Um comentário antipatriótico e incoerente para quem diz ‘Brasil acima de tudo'”, avaliou o militar, que negou ao jornal defender os governadores do Nordeste, mas sim, seus “irmãos nordestinos”. “O Nordeste é o berço do Brasil. Sabia disto, presidente?”, ironizou.
Não é a primeira vez que Rocha Paiva critica o governo de Jair Bolsonaro e os filhos do presidente. No começo de julho, o general disparou mensagem no WhatsApp na qual chamava o vereador Carlos Bolsonaro de “idiota inútil” e “pau-mandado do Olavo”, em referência ao ideólogo da direita Olavo de Carvalho, informou o colunista da revista Época Guilherme Amado. A mensagem fora distribuÃda depois de o 02 do presidente criticar o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, em nova capÃtulo de rusgas entre a ala olavista e a militar no poder em BrasÃlia.
Poucos dias depois, o militar criticou a possÃvel nomeação de Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil em Washington, defendida por Bolsonaro. Classificou o ato como “irresponsabilidade polÃtica indesculpável para quem prometia um governo pautado, também, pela ética” e indicou ser um “suicÃdio de reputação”.
Indicado para a Comissão da Anistia pela ministra Damares Alves, da pasta dos Direitos Humanos, Luiz Eduardo Rocha Paiva foi comandante da Escola de Comando do Estado Maior do Exército e também secretário-geral do Comando do Exército. Ao passar para a reserva, se tornou um dos maiores opositores públicos da ala militar à Comissão Nacional da Verdade. Em 2012, disse em entrevista à colunista do jornal O Globo Miriam Leitão que duvidava que a ex-presidente Dilma Rousseff tivesse sido torturada.