Cientistas espanhóis anunciaram neste sábado (03) a criação do primeiro híbrido humano-macaco do mundo, em um laboratório da China. Os pesquisadores, que querem usar animais para desenvolver órgãos destinados a transplantes, dizem que criar o híbrido foi um passo importante. E prometem continuar suas experiências usando primatas.
De acordo com o jornal britânico The Independent, a equipe revelou que foram injetadas células tronco humanas — que são capazes de criar qualquer tipo de tecido — em um embrião de macaco. O experimento foi interrompido antes que o embrião tivesse idade suficiente para nascer.
Mas os cientistas — que realizam o experimento na China para contornar a proibição de tais procedimentos na Espanha — disseram que um híbrido entre humanos e macacos poderia ter nascido. O embrião foi modificado geneticamente para desativar genes que controlam o crescimento de órgãos.
Preocupações éticas foram levantadas durante a experiência, em parte devido ao receio de que células-tronco humanas pudessem migrar para o cérebro. Angel Raya, do Centro de Medicina Regenerativa de Barcelona, disse que experimentos em organismos com células de duas espécies enfrentam “barreiras éticas”.
“O que acontece se as células-tronco escaparem e formarem neurônios humanos no cérebro do animal? Teria consciência? E o que acontece se essas células-tronco se transformarem em espermatozoides?”, disse ela ao jornal El Pais.
Mas Estrella Núñez (foto acima), da Murcia Catholic University (UCAM) e colaboradora do projeto, disse que mecanismos foram implantados para que as células humanas se autodestruam caso migrem para o cérebro.
“Os resultados são muito promissores. O objetivo final seria criar um órgão humano que pudesse ser transplantado, mas o caminho em si é quase mais interessante para os cientistas de hoje”, diz Núñez. “Eu estou essencialmente ciente de que não verei isso acontecer (o desenvolvimento de órgãos humanos em animais), mas para chegar a tal ponto, é necessário passar por este”.
Raya disse que os cientistas tradicionalmente estabelecem uma “linha vermelha” aos 14 dias de gestação, o que não é tempo suficiente para o embrião desenvolver um sistema nervoso central humano. Todos os embriões quiméricos (que possuem duas ou mais populações de células geneticamente distintas) são destruídos antes desse tempo.
“Estamos tentando não apenas avançar e continuar experimentando células humanas e de roedores e suínos, mas também com células não-humanas de primatas. Nosso país é pioneiro e líder mundial nessas investigações”, disse Juan Carlos Izpisua, que criou o primeiro híbrido humano-porco do mundo em 2017 e liderou o mais recente experimento.
Foto: Reprodução