26 de novembro de 2024
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Retirantes: Trabalhadores rurais baianos fazem colheita de café em Minas

Retirantes: Trabalhadores rurais baianos fazem colheita de café em Minas

Todos os anos milhões de pessoas viajam pelo Brasil em busca de trabalho temporário na agricultura, gente que passa meses longe de casa, em busca de renda para sustentar a família.

A revista Globo Rural informa que só no município de Ibiraci, no sul de Minas Gerais, quase 6 mil pessoas, boa parte delas da Bahia, foram atraídas para a região por causa da colheita do café, o que corresponde a quase metade do número de moradores da cidade. Os trabalhadores passam de fazenda em fazenda até o final do ciclo.

Minas Gerais é o estado que mais produz café no Brasil e precisa de muita gente para colher a safra que, neste ano, deve passar de 26 milhões de sacas. Como falta mão de obra nas áreas produtoras, o jeito é buscar trabalhadores de outras regiões do país.

E enquanto os cafezais estão carregados de grãos e cheios de vida, na Bahia o cenário no momento é da seca, que inviabiliza a produção e mantém a existência dos retirantes.

Cerca de 1.200 km separam o município de Vitória da Conquista, na Bahia, de Ibiraci. O trajeto de ônibus demora quase 24 horas. Para compensar a distância, os trabalhadores rurais buscam colher o máximo de sacas possível, para garantir o sustento do ano inteiro.

“O café aqui significa a vida nossa porque é o meio de buscar o dinheiro. Sem o café nós estaríamos enrolados”, diz o trabalhador rural José Carlos Oliveira Barreto.

Os migrantes ficam em Minas durante toda a safra, que vai de maio até o fim de agosto. Eles vão buscar dinheiro para oferecer mais conforto para a família e quem fica vive à espera deles.

É o caso da dona de casa Jesuína Lemos Carvalho, que é mãe de Marileide, que foi para Ibiraci trabalhar na colheita do café. Ela cuida do neto na Bahia enquanto os pais da criança estão em Minas Gerais.

“É bom [ficar com a avó], eu ajudo ela, ela me ajuda. Eu estudo, quando eu chego a comida está pronta e eu só mando para dentro”, brinca João Vitor Carvalho dos Santos, neto de Jesuína.

É difícil encontrar alguém na comunidade do Bate-Pé, em Vitória da Conquista, que não tenha alguma história com os campos de café. Até porque a própria região já experimentou a força econômica gerada por essa lavoura.

Na década de 1970, com o plano de renovação da cafeicultura, chegou a ser produzido bastante café no local. Em 8 anos, a produção ali aumentou mais de 1.500%, mas, no final da década de 1980, a lavoura entrou em crise.

A troca do café pela pecuária foi o movimento mais comum na região ao longo dos últimos anos.

Durante a safra brasileira, o café gera quase 2 milhões de empregos temporários. É preciso toda essa gente porque a colheita tem momento certo para acontecer, a fim de garantir a qualidade do grão.

Além disso, atualmente, cerca de 70% dos grãos de café são colhidos à mão, destoando de culturas como soja, cana e algodão, onde prevalece a colheita mecanizada.

O produtor rural Emerson Monteiro de Andrade traz gente de fora do estado para a colheita há 25 anos e explica que esse foi um jeito para lidar com a falta de mão de obra.

“Começou faltar mão de obra aqui em Ibiraci, o pessoal não dava conta da colheita. O café foi aumentando muito as áreas plantadas. Foi onde começou a vir os migrantes. Tem [emprego] para todo mundo.”

Mas a mecanização está avançando. Na fazenda de Andrade, três colheitadeiras disputam o espaço com os trabalhadores. Nesta temporada, o maquinário colheu 400 dos 700 hectares da propriedade.

Nas contas do produtor, a colheita mecanizada custa um décimo da colheita manual, mas nem sempre a máquina consegue manter a qualidade do cafezal que o trabalho das mãos consegue.

Emerson Monteiro de Andrade afirma que, para ele, não é interessante ter uma colheita 100% mecanizada. Para evitar danos nos pés, ele utiliza o maquinário apenas quando a fileira tem capacidade de entregar mais de 40 sacas por hectare.

“A máquina acaba estragando um pouco a lavoura. Eu uso colher quanto está com carga [produtividade alta]”, explica Andrade.

Se para o produtor rural não é viável abrir mão da colheita manual, os funcionários migrantes ainda podem contar com o dinheiro. O trabalhador rural Jorge Rocha Santos diz que a remuneração diária é quase o dobro do que ele ganhava na Bahia.




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