O médico e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Fernando Carvalho estuda há mais de 30 anos a contaminação por chumbo na cidade de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano. Ele disse ao jornal Correio, em matéria publicada neste domingo (29), que o Rio Subaé também foi contaminado pelo chumbo, cádmio e outros metais pesados oriundos da antiga fábrica da Plubum, pertencente à COBRAC (Companhia Brasileira de Chumbo).
Nos meses de maio, junho e julho, o Correio flagrou que obra da prefeitura de Santo Amaro desenterra resíduo tóxico de chumbo. E a poluição não fica apenas na região de Santo Amaro, já que o Rio Subaé deságua na Baía de Todos os Santos. “Em toda a parte norte da Baía de Todos os Santos há contaminação por chumbo, cádmio e outros metais”, afirmou o professor.
A química Tânia Tavares, também ouvida pelo Correio, complementou ao dizer que “no rio Subaé, os metais são absorvidos pelos animais, o que é comestível, principalmente cádmio, o que acabou contaminando a população”. Desta forma, o problema vivido por Santo Amaro afeta muito mais pessoas do que os cerca de 60 mil habitantes que hoje vivem na cidade.
A primeira evidência de contaminação das águas que banham a cidade surgiu em 1975, quando foram realizadas medições do nível de metais em dez pontos do Rio Subaé. Nesta época, foram encontrados índices até sessenta vezes maiores do que os estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde como máximo para o chumbo (0,1 mg/kg). A partir dos resultados, o médico Fernando Carvalho se debruçou sobre uma pesquisa envolvendo as comunidades ribeirinhas de Santo Amaro e, 1976, constatou, a partir de amostras de cabelos dos moradores, que não só os funcionários da Plumbum eram prejudicados, como, também, quem ingeria alimentos do rio.
De acordo com o professor, “apesar dos elevados níveis de metais encontrados, era mais preocupante a situação das crianças que tinham entre um e cinco anos e de mulheres com mais de cinquenta anos de idade”. Ficou constatado, ainda, que quanto mais próximo da empresa viviam os moradores de Santo Amaro, maior era a contaminação. Foi assim que, em 1980, o estado da Bahia obrigou a fábrica a retirar todas as pessoas que moravam a um raio de 500 metros da mineradora, o que se acreditou que amenizaria a situação. Foi quando outro estudo, em 1985, identificou que os níveis de cádmio e chumbo nas crianças não tinha reduzido, levando à conclusão de que a toxicidade estava, também, nos alimentos, principalmente aqueles que vinham das águas do Rio Subaé.
Além dos peixes, mariscos, crustáceos, ficou comprovado no mesmo ano que hortelã e alfaces plantados no solo de Santo Amaro também continham grande concentração dos metais. “Mesmo quem consumia os vegetais daquela área corria o risco de se contaminar”, destacou Fernando Carvalho.