Salvador começa a ganhar um novo conceito de intervenções viárias, já empregado em países como Reino Unido, Holanda, Alemanha, Estados Unidos, Canadá e Bélgica, com foco na segurança do trânsito de veículos e pedestres. Promovido pela Prefeitura, por meio da Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador), o Região de Trânsito Calmo (RTC) terá a Pituba como localidade-piloto e os detalhes foram apresentados na noite desta terça-feira (8) pelo prefeito ACM Neto e pelo titular da Transalvador, Fabrizzio Muller, em cerimônia realizada na Rua Ceará.
Também estiveram presentes na ação o vice-prefeito e secretário de Obras Públicas, Bruno Reis, autoridades e população. As obras de implantação do RTC já foram iniciadas e devem ser concluídas em torno de 90 dias. O conjunto de medidas consiste em uma série de obras de engenharia viária, que envolvem mudanças buscando a redução na velocidade do tráfego de veículos e o aumento da segurança de pedestres e ciclistas.
O prefeito lembrou que, desde 2013, as ações promovidas pela administração municipal na área de trânsito têm o intuito de preservar vidas. “Está sendo feito esse projeto em toda essa região da Pituba, que terá mais de dez ruas inteiramente remodeladas e limitação do trânsito em 40km/h, valorizando principalmente o pedestre. Além das mudanças viárias, também são destaques no projeto a valorização do paisagismo, acessibilidade, sinalização, alargamento de passeios e o aumento da malha cicloviária”, elencou ACM Neto.
Ele também aproveitou para anunciar mais duas ações municipais, que vão melhorar ainda mais a circulação de pessoas no bairro. Uma delas é a requalificação asfáltica completa da Avenida Manoel Dias da Silva, uma das principais vias de tráfego na cidade, localizada na região. A outra é a implantação do programa Iluminando Nosso Bairro nas ruas que fazem parte do Trânsito Calmo.
Conceito – Geralmente, o conceito de Trânsito Calmo (traffic calming), com foco principal nos pedestres e ciclistas, é implantado em locais com grande circulação. “Esse é um projeto que já vem sendo estudado há bastante tempo e bastante inovador para a cidade. Havia um desejo de implementar essa ideia em uma região maior e foi escolhida a Pituba, por ser uma região que há um diálogo muito bom com esse conceito, em função do grande adensamento de pessoas e pelo bairro estar passando por um processo de requalificação dos espaços públicos, o que traz os cidadãos para a rua e, para isso, é preciso dar segurança aos pedestres, ciclistas e veículos”, explicou Fabrizzio Muller.
De acordo um estudo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 65.160 pessoas moram na Pituba, sendo este o terceiro bairro mais populoso de Salvador, ficando atrás apenas de Brotas e Itapuã. Só para se ter uma ideia, na Avenida Manoel Dias da Silva, a principal da região, passam cerca de 27 mil veículos por dia. Nos últimos dois anos, foram registradas 93 vítimas de acidente no bairro, com duas mortes.
“No conceito do Traffic Calming, as mudanças são focadas, prioritariamente, nos pedestres e ciclistas, considerados a parte mais vulnerável no trânsito. Essas alterações também propiciarão a menor probabilidade de perda do controle do veículo, maior tempo para reconhecimento dos perigos e maior chance efetiva de evitar colisões”, afirma Muller.
Uma das propostas nesse sentido é criar “Áreas 40”, isto é, vias onde a velocidade máxima permitida será de 40 km/h. Essas “zonas acalmadas” podem também ser associadas ao uso de medidas para reduzir a velocidade dos veículos, como a implantação de redutores, faixas elevadas para travessia de pedestres, avanços de calçadas, entre outros dispositivos que controlam e diminuem a velocidade.
Em algumas vias, como na Rua Minas Gerais, os passeios serão alargados nas interseções, onde serão implantadas faixas de pedestres elevadas. Com isso, o espaço de travessia será menor, garantido a proteção dos pedestres. Essa mudança nas calçadas coibirá também o estacionamento próximo às esquinas, infração prevista no Código de Trânsito Brasileiro (art. 181, I).
Muitas das intervenções que serão adotadas são de baixo custo e de rápida implantação, como a renovação e modernização das sinalizações horizontais e verticais. Também haverá a reformulação da geometria viária com o objetivo de disciplinar o tráfego em determinadas vias. Algumas rotatórias existentes, como as das ruas Amazonas, São Paulo e Ceará, serão readequadas para otimizar o fluxo. Aliado a isso, o projeto contempla também abrir o trânsito em algumas ruas.
Bicicletas e estacionamentos – Diversas vias do bairro têm larguras suficientes para propiciar o compartilhamento entre ciclistas e veículos existentes. Com as alterações, pretende-se ampliar o sistema cicloviário e reforçar a sinalização dos espaços já existentes, objetivando incentivar o uso das bikes na região, considerada bastante propícia para a utilização desse modal de transporte. Além disso, há a preocupação em propor ajustes e melhorar as rotas ciclísticas existentes.
O projeto Região de Trânsito Calmo busca também fomentar uma preocupação da gestão do trânsito com a situação de regulamentação dos estacionamentos nas vias públicas e da redução na quantidade de acidentes registrados nos últimos anos.
Redução de acidentes – Salvador vem sendo reconhecida internacionalmente pela redução de acidentes no trânsito. Apoiada em três pilares – fiscalização, engenharia de tráfego e educação para o trânsito –, a Transalvador reduziu em 53,8% o número de vítimas fatais na capital baiana entre os anos de 2013 a 2018. O índice já supera, com três anos de antecedência, a meta da Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas) de reduzir os acidentes fatais em 50% na década de 2011-2020.
Foto: Max Haack/SECOM-PMS