Em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (20), o ministro da Justiça, Sergio Moro, evitou comentar atitudes do presidente Jair Bolsonaro que foram alvo de críticas, como os ataques à imprensa e a manutenção no governo de ministros acusados de crimes, como o titular do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. O ministro justificou que, pela posição hierárquica, acredita que não deve fazer avaliações públicas de Bolsonaro, chefe do Executivo.
A edição com Moro marcou a estreia da jornalista Vera Magalhães na condução da bancada de entrevistadores. Instado a se posicionar sobre polêmicas deste primeiro ano de governo, o ministro disse também que não cabe a ele ser “comentarista político”.
Moro também respondeu a questionamentos sobre sua atuação como juiz, como por exemplo sobre o grampo da ex-presidente Dilma Rousseff durante a Lava-Jato e as mensagens trocadas com procuradores da República publicadas pelo site Intercept Brasil. O ministro classificou as mensagens como uma “bobageirada”. Em ambos os casos, reafirmou não ter cometido qualquer irregularidade, e que não reconhece a autenticidade das mensagens divulgadas. O ministro reiterou ainda que não tem pretensão de concorrer ao Palácio do Planalto em 2022.
Questionado sobre os reiterados ataques de Bolsonaro a jornalistas, Moro respondeu:
— Estou no ministério, tenho meus subordinados. Aos meus subordinados, falo com eles, dou orientações e as reprovo quando acho necessário. O senhor, por exemplo, fala publicamente de seus chefes? — disse Moro. — O que eu vejo é que, nas eleições, tinha um grupo (referindo-se à candidatura de Fernando Haddad) que falva que ia regular a imprensa, cerceando a liberdade de imprensa. E, do outro lado, o presidente está dando ampla liberdade à imprensa para fazer seu trabalho. Não se vê qualquer iniciativa do presidente de cercear a imprensa.
Lembrado de vezes em que Bolsonaro agiu com rispidez diante de perguntas de repórteres, Moro afirmou:
— Não é uma questão de censura legal. Não vim aqui para falar sobre o presidente. Ele tem respeitado (a imprensa). O que acontece é que ele tem sido criticado e muitas vezes ele reage.
Perguntado se lhe causa constrangimento o fato de haver ministros acusados de ter cometido crimes eleitorais no governo — além de Álvaro Antônio, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, admitiu ter recebido dinheiro via caixa dois para campanhas —, Moro evitou criticar a permanência dos colegas de Esplanada. Ele afirmou que a investigação do caso dos laranjas do PSL, em que a Polícia Federal pediu o indiciamento do ministro do Turismo, mostra que a PF tem atuado com independência.
— A Polícia Federal está fazendo o papel dela, caberá à Justiça fazer o dela, e ao Executivo cabe fazer a availação que achar que deve (sobre manter ou não o ministro do Turismo) — disse Moro, que respondeu também sobre Onyx. — Já declarei que acho meritório que ele (Ônix) tenha reconhecido que errou e que esteja disposto a pagar por esses erros — disse Moro.
O ministro explicou por que não se posicionou publicamente sobre o discurso do ex-secretário da Cultura, Roberto Alvim, copiando uma fala do nazista Joseph Goebbels.
— Acho que não cabe ao ministro da Justiça e Segurança Pública ser um comentarista sobre tudo. Nesse caso, a meu ver foi um episódio bizarro e a situação se tornou insustentável. Eu dei a minha opinião ao presidente. E ele tomou a decisão correta. Quem fala pelo Executivo é o presidente, e não os seus ministros — disse Moro, acrescentando que, se for opinar sobre a situação do titular da Secom, Fabio Wajngarten, acusado de atuar em conflito de interesses no governo, sua manifestação se dará em caráter reservado ao presidente Bolsonaro.
Sobre sua atuação na Lava-Jato e as mensagens divulgadas pelo Intercept Brasil, o ministro reafirmou sua posição:
— Não reconheço autenticidade, mas ainda que sejam verdadeiras, não há ali nada que desabone minha conduta. Não há nenhum indício de má conduta. O que houve foi sensacionalismo. Não há condenados injustamente na Lava-Jato.
Moro voltou a defender a legalidade do grampo nos diálogos telefônicos entre Dilma Rousseff e Lula, em 2016. A gravação levou o ministro do STF Gilmar Mendes a suspender a nomeação de Lula como chefe da Casa Civil do governo Dilma — um mês depois, a Câmara aprovou seu afastamento da presidência para responder ao processo de impeachment.
— O que foi verificado na época é que existe uma aparente tentativa de obstrução da justiça. Não houve manipulação nenhuma. Se isso poderia ter reflexos como impeachment isso não é objeto da decisão. Pode-se olhar a decisão e dizer que não concorda. Mas não existem razões obscuras.
Depois da divulgação das mensagens reveladas pelo Intercept Brasil, Gilmar Mendes declarou que, agora, ficou com “dúvidas” se havia tomado a decisão correta na ocasião. Moro reafirmou que não houve manipulação e que Gilmar deveria assumir a responsabilidade pelas decisões que tomou.