O secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, afirmou em entrevista realizada na manhã desta sexta-feira (8) que já deu início ao processo de devolução do valor investido nos respiradores que tiveram a compra cancelada, após o fornecedor chinês atrasar pela segunda vez a entrega dos equipamentos.
“Esse fluxo de pagamento reverso já foi iniciado. Estamos protegidos por um contrato. Agora tem que desconverter de moeda chinesa para dólar e retornar para nossas contas. Já enviamos o número da conta bancária para esse recurso retornar”, falou Vilas-Boas
“O maior problema hoje é conseguir garantir nossa capacidade de respiradores. Fizemos outras compras de outros fornecedores. Fizemos uma aquisição grande na Inglaterra, que deve estar aqui na próxima semana. Já recebi informação hoje pela manhã da empresa de que está tudo caminhando dentro do previsto. Compra grande para a Bahia, para o Consórcio Nordeste, que deverá ajudar pelo menos 50% da nossa demanda”, disse o ecretário.
Segundo ele, a Bahia pagou antecipadamente 80% do valor relativo a 350 respiradores que seriam destinados ao tratamento de pacientes diagnosticados com coronavírus. É a segunda vez que o estado precisa suspender a compra de equipamentos médicos. No início de abril, um lote com 600 respiradores adquiridos pelo Consórcio Nordeste foi interceptado no aeroporto de Miami e ficou em solo americano.
Fábio Vilas Boas criticou a disputa internacional pelos equipamentos médicos chineses e disse que a situação é uma “verdadeira selva”.
“Desde o meio do mês de março, estamos esperando os equipamentos, que haviam sido prometidos para meados desse mês. Mas, infelizmente, a situação lá na China a gente pode dizer que é de uma verdadeira selva. Não há mais respeito a contratos. As pessoas vão para dentro do chão da fábrica para disputar os respiradores, assim como na selva se disputa um animal morto”, afirmou.
O boletim da Secretaria de Saúde (Sesab) divulgado na tarde da última quinta-feira aponta que a Bahia possui 422 leitos de UTI exclusivos para o coronavírus, dos quais 228 possuem pacientes internados, compreendendo uma taxa de ocupação de 54%.
A expectativa é de que a carga de respiradores que deve chegar ao estado na próxima semana possibilite a ampliação do número de leitos e deixe o sistema de saúde em melhor situação, para evitar uma saturação.
“As compras da Inglaterra são de respiradores alemães, topo de linha, equipamentos de excelência de um fabricante chamado Dräger, que equipa as melhores UTI’s do mundo. Essa compra já foi efetivada, parte do pagamento – temos um contrato que prevê entrega dentro de dez dias úteis após a assinatura, o que foi feito no último fim de semana. Ao longo da próxima semana, deveremos receber 700 respiradores, dos quais 350 virão para o estado da Bahia e os outros 350 serão distribuídos para os outros estados do Consócio Nordeste. Estamos tentando fazer aquisições de outros modelos de outros países, mas sempre a garantia da entrega no prazo máximo de dez a 15 dias. Não temos mais tempo para ficar esperando entregas de 30, 60 dias. Isso não nos atende. Nem muito menos fazer aquisições no mercado chinês. Não temos nenhuma garantia de conseguir tirar esse equipamento de lá”, pontuou Vilas-Boas.
A Bahia não está isolada nas tentativas frustradas de adquirir respiradores no mercado internacional. Na última quinta-feira, o ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou que o país não consegue comprar os equipamentos.
Os 15 mil respiradores que o Brasil comprou no exterior em abril deveriam ter chegado na segunda-feira (4) da Ásia. Segundo o Ministério da Saúde, a empresa avisou que não tinha como entregar os equipamentos. Hoje o Brasil tem 65 mil respiradores, um número insuficiente.
Para suprir a demanda, Teich anunciou um investimento de R$ 658 milhões para que empresas brasileiras possam produzir os equipamentos. Fábio Vilas Boas criticou a medida, por considerar que a indústria nacional não conseguirá atender com a qualidade e velocidade necessárias.
“Essa hipótese do ministro de comprar no mercado nacional, esqueça, não existe. A velocidade que a empresa que vai produzir um respirador extremamente limitado consegue entregar, vai entregar para a pandemia do próximo milênio. Ou o Ministério entra no mercado internacional, como temos feito, Bahia e demais estados, e tenta disputar esses respiradores que estão nas mãos de distribuidores que compraram lá atrás, ou não teremos. O Ministério tem que fazer a mesma tentativa que todos os países têm feito. Que os governos estaduais e prefeituras têm feito. Ceará conseguiu, prefeitura de Fortaleza conseguiu. Por que o governo federal não pode fazer a mesma coisa?”, ponderou o secretário.