Há um consenso entre as maiores autoridades educacionais do mundo de que uma escola não pode permanecer fechada enquanto a maioria das atividades sociais e econômicas está funcionando. No Brasil, esse consenso foi suficiente para persuadir os professores a retomar as aulas presenciais nas principais cidades do País. Em São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, onde a gravidade e os efeitos da pandemia sempre estiveram em patamares muito mais alarmantes do que em Salvador, as aulas foram retomadas desde o início do ano.
Por que então não retomar as aulas por aqui?
Tenho acompanhado as negociações da Prefeitura de Salvador com a APLB – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia. E sei que em nenhum momento a gestão municipal minimizou os riscos que todos os não- vacinados estão correndo ao exercer suas atividades. Mas quero ressaltar aqui o meu testemunho. Acompanhei de perto os esforços da Prefeitura de Salvador para realizar efetivamente a vacinação de 100 por cento dos professores. Portanto, se há hoje uma categoria que pode trabalhar com riscos mínimos de contaminação, essa categoria é sem dúvida a dos professores. E sabem por quê? Porque é muito mais fácil garantir o cumprimento dos protocolos dentro de uma escola municipal de Salvador do que em qualquer outra instituição de nosso estado.
Todos os professores hão de reconhecer a seriedade com que a Prefeitura de Salvador vem conduzindo toda essa crise. A condução da pandemia pela Prefeitura de Salvador chegou a ganhar destaque nacional e internacional, a ponto de um correspondente de um dos mais respeitados jornais da Suíça dizer que, estando em Salvador, não tinha a sensação de estar no Brasil neste momento, onde mais de três mil pessoas morrem de Covid-19 todos os dias e mais de 400 mil mortes são contabilizadas. Diferentemente de outras capitais, em nenhum momento Salvador deixou de atender pacientes por falta de leitos.
Tenho acompanhado com atenção os esforços que a gestão municipal tem realizado para garantir às crianças de Salvador um ensino de qualidade e gratuito. E não é somente o ensino. As instalações da maioria das escolas municipais são impecáveis. E a alimentação oferecida nas escolas é de primeira qualidade. Como todos nós sabemos, não há aquele que possa aprender qualquer coisa se não tiver uma boa alimentação, que, diga-se de passagem, vem sendo garantida a todos os estudantes ao longo de toda a pandemia, afinal todos tiveram direito a uma cesta básica mensal desde o início de 2020.
Todo mundo sabe que a escola é a primeira instituição com a qual uma criança se depara. É nela que a criança aprende a se relacionar com os colegas, é nela que as crianças aprendem noções sobre dignidade, sobre respeito. É nela que uma criança entende a autoridade do professor. Ninguém conseguirá desenvolver qualquer conhecimento sem ordem, sem regra, sem concentração, sem disciplina. Por isso é fundamental a volta às aulas presenciais. Trata-se de um reconhecimento do valor essencial da educação.
É público e notório que o ensino fundamental está sendo afetado mais do que os outros. O ensino fundamental é o que mais depende do presencial devido à alfabetização. Será que precisamos explicar isso aos professores? Será que precisamos convencê-los da importância de seu próprio trabalho? Ora, todos sabem que uma alfabetização que não é feita na idade certa acarreta problemas graves no futuro. Além disso, não se pode deixar de considerar que as crianças, confinadas entre quatro paredes, dentro de casa, estão correndo muito mais riscos do que na escola. Algumas, segundo relatos de alguns pediatras, já desenvolvem sintomas de depressão, gagueira, distúrbios alimentares, entre outros. Que o bom senso prevaleça, que sejam retomadas as aulas presenciais em Salvador.
Geraldo Júnior é presidente da Câmara Municipal de Salvador.
# Artigo publicado originalmente no jornal A Tarde desta sexta-feira (07/05).