Baseado em escritos de diários antigos sobre suas navegações como tripulante, o velejador e engenheiro civil Aleixo Belov, 78, lança nesta quinta-feira (23), o livro Minhas viagens com outros comandantes. Com sessão de autógrafos de acordo com as medidas de segurança contra a Covid-19, o evento começará a partir das 18h no salão de festas do Yacht Clube da Bahia, aberto para todos os públicos.
A obra é a nona da lista de Belov, que acredita ser um ato de egoísmo conhecer tantas histórias pelo mundo e não compartilhar.
“Eu navego para mim e escrevo para os outros. Navegar e escrever estão de mãos dadas, é impossível separar, porque é como jogar fora uma série de conhecimentos que você adquire na viagem e esconde das outras pessoas, não existe isso”, afirma Aleixo.
Em Minhas viagens com outros comandantes, o velejador traz as histórias e ideias encontradas em diários que havia escrito aos 20 anos, quando começou a navegar. Impressionado com as observações da juventude, pensou em como tudo aquilo renderia um livro sobre a sua construção como navegador a partir das lições aprendidas no decorrer das viagens.
No entanto, a primeira intenção não era escrever sobre sua trajetória, mas encontrar as peças guardadas durante as cinco voltas ao mundo realizadas. A última aconteceu em dezembro de 2016, saindo, como sempre fez, do 2º Distrito Naval de Salvador, no Comércio. Em agosto de 2018, ele retornou pelo mesmo lugar.
Pelos mares, sempre mantinha objetos que participavam da tripulação e, a procura deles em armários da casa para expor no Museu do Mar Aleixo Belov, que será inaugurado em novembro, acabou encontrando os diários.
“Eu conto como eu fui construído, desde a primeira vez que pisei num barco a vela, e depois que eu fui com navegantes internacionais para a África do Sul, pro Caribe, depois com meu mentor Oleg em um veleiro polar. Tudo que aconteceu comigo não foi planejado, as coisas foram acontecendo, então quem ler o livro vai ver como eu fui construído desde que vim pra cá”, conta Belov.
Conhecimento para navegar – Nascido em Merefa, na Ucrânia, Aleixo imigrou com a família para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, quando tinha apenas sete meses. Filho de médica com um agrônomo, ao chegar na Bahia, já estava com seis anos e não sabia falar nenhuma palavra em português.
Segundo o velejador, a vida foi difícil no início, mas aos poucos conseguiu estudar, se formou em engenharia civil e, posteriormente, foi professor em uma universidade. Hoje mantém a Belov Engenharia Portuária, Subaquática e Offshore, especialista em construção de portos, atividades subaquáticas de inspeção, hidrografia, entre outros.
Diante da carreira, ele confessa que começou a velejar tarde, entre os 18 e 20 anos. Porém, isso não impediu a dedicação à atividade. Além dos aprendizados como tripulante que ele aborda no novo livro, Aleixo dá sequência a diversos feitos como comandante.
Ele ganhou um diploma da Marinha do Brasil por ser o primeiro a dar uma volta ao mundo com uma bandeira brasileira na embarcação, construiu o Três Marias, com quem fez três viagens pelo mundo sozinho e o veleiro-escola Fraternidade, onde realizou mais duas voltas com 12 alunos entre 18 e 30 anos selecionados pelo próprio para aprenderem sobre as lições do mar.
Em relação a construção do Fraternidade, Aleixo reconhece a importância do seu mentor, o velejador francês Oleg Bely, a quem dedica um dos capítulos da obra. Aleixo visitou Oleg por seis meses durante a construção da navegação que o mestre usaria para realizar suas viagens turísticas à Antártica. Vislumbrando aquela estrutura, Belov decidiu que também queria construir um barco como aquele.
“Quando eu comecei a fazer esse veleiro-escola, eu tinha medo de morrer e o que tinha vivido ia se perder, então eu fiz um barco grande para levar os alunos. Mas, como ele era muito meu amigo, quando ainda estava projetando o barco, perguntei à Oleg: ‘Se você fosse fazer seu barco hoje, o que você mudaria? Qual a melhora que você faria?’ E ele me ensinou tudo”, relata.
Com a embarcação finalizada, os dois amigos decidiram ir juntos para o Alasca, mas a descoberta por Oleg de um tumor no cérebro adiou os planos. Após melhora da situação médica, eles conseguiram realizar o que seria a última viagem juntos, das Ilhas Malvinas até o Uruguai, onde o mentor residia. Vinte dias depois da chegada, Oleg viria a falecer, em 2016.
“São coisas que acontecem, eu tinha planejado ir pro Alasca com os dois barcos juntos, pro gelo do norte, resultado: ele se foi, mas fiz a viagem em homenagem a ele, sozinho. Fui lá e voltei. E ele, até o último momento de vida, me ensinou e me passou tudo o que ele sabia”, diz Aleixo.
Recentemente, em janeiro deste ano, outro susto cruzou a vida do velejador. Ele foi diagnosticado com covid-19 e ficou internado por sete dias na UTI. No entanto, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia, Aleixo acredita que não escreveria o lançamento Minhas viagens com os outros comandantes se não estivesse isolado em casa, à procura das peças para o museu.
“Eu navego por que amo o mar, eu preciso, é como uma droga. E escrevo para deixar vivo tudo que descobri sobre ele. Eu não bebo, não fumo, não uso drogas, meu vício é a minha vida e meu casamento com o mar”, assegura Belov.
Foto: Divulgação