Um projeto inovador promove a restauração de recifes na Baía de Todos-os-Santos, utilizando o esqueleto do Coral-sol, espécie considerada invasora na região, com o objetivo de produzir sementeiras para cultivo do coral nativo, Millepora alcicornis. Os berçários instalados no fundo do mar na Ilha de Maré são fixados com plástico e outros materiais recicláveis, o que potencializa o crescimento. A tecnologia foi desenvolvida pela empresa Carbono 14 em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), Instituto de Pesca Artesanal de Ilha de Maré (IPA) e com patrocínio da Braskem.
Com essa ação, o projeto Corais de Maré busca recuperar parte dos recifes da Baía de Todos-os-Santos, que teve a quantidade de corais reduzida em cerca de 50% desde 2003, conforme levantamento de pesquisadores da UFBA. Esses ecossistemas são essenciais para a biodiversidade, já que abrigam pelo menos 25% das espécies marinhas, além de contribuir para a segurança econômica e alimentar da população das cidades costeiras, de acordo com estudos da Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN).
A técnica foi criada a partir da inquietação de José Roberto Caldas, conhecido como Zé Pescador, CEO da Carbono 14, que buscava uma forma de reaproveitar o esqueleto de calcário do Coral-sol na restauração do recife. “Essa espécie invasora é uma das principais ameaças à biodiversidade marinha, mas seu esqueleto de carbonato de cálcio é um material natural e riquíssimo. Então, veio a ideia de transformar esse insumo em uma estrutura para recuperar o coral nativo, trazendo o Coral-sol para uma agenda positiva”, conta Zé Pescador.
De forma empírica, ele fez algumas experiências para confirmar que conseguiria cultivar a Millepora alcicornis a partir da sementeira artesanal. Os resultados foram apresentados ao pesquisador de ecossistemas marinhos e professor de Oceanografia Biológica no Instituto de Geociências da UFBA, Igor Cruz, que validou a descoberta e se juntou ao projeto. De acordo com ele, a Millepora alcicornis cresce em média apenas 14 cm por ano, sendo que a sua altura impacta diretamente na complexidade da estrutura e capacidade de abrigar diversas espécies marinhas.
“Os recifes vêm em declínio e percebemos que conservar nem sempre é suficiente. Precisamos investir em tecnologias que acelerem esse processo de recuperação. Se os resultados iniciais desse estudo se confirmarem, podemos utilizar essa técnica na restauração do recife”, explica o especialista.
A tecnologia desenvolvida pela Carbono 14, em parceria com a UFBA, prevê que alguns corais cresçam mais rápido em superfícies sintéticas.
Os testes preliminares, utilizando plásticos, observaram o crescimento destes mesmos 14 centímetros em apenas dois meses. Outros materiais, incluindo recicláveis, serão avaliados em um novo experimento mais elaborado. “O uso de estruturas para acelerar o desenvolvimento dos corais é um diferencial nas pesquisas sobre restauração de recifes no mundo. De forma empírica, percebemos esse crescimento mais acelerado com o uso do plástico e esse ritmo pode ser ainda maior. Estamos investigando também outras opções para verificar qual é mais eficiente”, afirma o pesquisador.
Para a gerente de Relações Institucionais da Braskem na Bahia, Magnólia Borges, o projeto reforça o potencial sustentável do plástico. “Com inovação e uso consciente, o plástico proporciona soluções para construção de um futuro sustentável, com capacidade para melhorar a vida das pessoas”, pontua.
Comunidade – O Corais de Maré traz o benefício de unir a iniciativa privada, universidade e comunidade na produção de conhecimento e troca de experiência, em prol de um impacto positivo no meio ambiente e no desenvolvimento local da Ilha de Maré, por meio de ações de conscientização e mobilização social. “O projeto traz o saber comunitário e o acadêmico, que se unem com o intuito de recuperar o ecossistema marinho. Isso terá um impacto significativo na pesca e ajuda a comunidade a ter um novo olhar, de que precisa restaurar, e não apenas esperar a ação da natureza”, pontua Alessandra Silva, presidente do Instituto de Pesca Artesanal de Ilha de Maré (IPA).
A Ilha de Maré abriga uma comunidade de pescadores, que tiram a sobrevivência do mar através da pesca artesanal. “De 20 anos pra cá se tornou uma pesca muito difícil, principalmente quando se vê a olho nu várias espécies serem extintas”, conta o pescador Milton Sales de Santana, de 82 anos, o Seu Naná, que vê na restauração do recife uma esperança de dias melhores de pesca. “Estou pensando grande. Vejo um futuro enorme com esse projeto”, afirma.
Também pescador, o filho de Seu Naná, Claudemilton Santana, conhecido como Rubalo, também aposta na recuperação da biodiversidade da Baía de Todos-os-Santos. “As espécies não têm mais espaço para suas desovas por conta da degradação dos recifes. (O projeto) vai ajudar as espécies a terem um local para sua habitação”, pontua. O filho dele, Darlan Santana, de 16 anos, o Bem-te-vi, também participa da ação. “É um orgulho fazer parte desse projeto, que vai ajudar bastante a gente e ao meio ambiente”, comemora.
Junto com outros membros da comunidade tradicional da Ilha de Maré, as três gerações de pescadores participam ativamente do projeto. Eles foram capacitados para construir as sementeiras, que serão usadas no cultivo do coral nativo. Além disso, 15 jovens da região serão treinados para atuar como agentes ambientais, multiplicando conhecimento e ações socioambientais em suas comunidades. O projeto também promove a disseminação de conceitos de economia circular e estimula atitudes corretas no descarte de resíduos e na relação com o meio ambiente.
Foto: Divulgação/Ascom