A primeira Arquidiocese do País celebra, no dia 8 de setembro, a memória de dois Arcebispos que viveram e morreram nestas terras baianas: Cardeal Dom Lucas Moreira Neves e Dom Sebastião Monteiro da Vide, falecidos há 20 e há 300 anos, respectivamente. A Santa Missa pelas almas destes dois pastores será celebrada pelo Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil, Cardeal Dom Sergio da Rocha, às 16h, na Catedral Basílica do Santíssimo Salvador (Terreiro de Jesus), onde estão sepultados os restos mortais de Dom Lucas.
Embora tenham pastoreado a Arquidiocese de Salvador em períodos diferentes (Dom Sebastião de 1701 a 1722; e Dom Lucas de 1987 a 1998), os dois Arcebispos marcaram a história do povo brasileiro, mas, sobretudo, dos baianos. Conheça cada um deles:
Cardeal Dom Frei Lucas Moreira Neves
Nomeado pelo então Papa João Paulo II como o 25º Arcebispo Metropolitano de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil, sucedendo o Cardeal Dom Avelar Brandão Vilela, em 9 de julho de 1987, Dom Frei Lucas Moreira Neves foi elevado ao cardinalato em 1988 e iniciou um trabalho intenso, deixando um legado importantíssimo para toda a Igreja.
Entre as atividades pastorais e administrativas, o Cardeal preencheu 10 vagas no colendo Cabido da Sé; reconstituiu os conselhos Episcopal, Presbiteral, Pastoral e Econômico-Administrativo; dividiu a Arquidiocese em quatro regiões pastorais (Centro, Zona de Expansão, Suburbana e Interior), formadas por 13 foranias; erigiu as paróquias Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Mata Escura), Santa Mônica (Cajazeiras), São Cristóvão (São Cristóvão), Santa Rosa de Lima (Stiep), São Lucas Evangelista (Marechal Rondon), Sagrada Família (Nova Brasília de Itapuã), Nossa Senhora Aparecida e Santa Catarina de Sena (Itinga), Nossa Senhora Mãe da Igreja (Plataforma), Santa Teresinha, Doutora da Igreja (Alto da Teresinha) e Santa Clara (Águas Claras).
Dom Lucas inaugurou, em fevereiro de 1990, o Seminário Propedêutico Santa Teresinha de Lisieux; ordenou mais de 40 sacerdotes; construiu o edifício da Rádio Excelsior da Bahia; instituiu a Fundação Dom Avelar Brandão Vilela; concluiu a construção do novo pavilhão do Centro de Treinamento de Líderes (CTL), em Itapuã, e reformou o antigo; apoiou as obras de reforma e novas construções da Casa do Padre e do campus da Universidade Católica do Salvador (UCSal); conseguiu recursos para a restauração de peças sacras e a implantação do Museu da Catedral; fundou a Associação Barroco na Bahia, implantando um órgão no coro da Catedral; estabeleceu, em Salvador, o Instituto da Família; promoveu vigílias de oração pelas vocações sacerdotais e recitação do Terço nos primeiros sábados, transmitida pela Rádio Excelsior.
O Cardeal foi o responsável por dinamizar a Caminhada Penitencial dos Mares ao Bonfim, na Quaresma, bem como a Procissão de Ramos, da Piedade à Praça Municipal. Dom Lucas presidiu a ordenação e a apresentação de quatro novos bispos auxiliares da Arquidiocese de Salvador: Dom José Carlos Melo, Dom José Antônio Aparecido Tosi Marques, Dom Gílio Felício e Dom Walmor Oliveira de Azevedo.
Após quase 11 anos de ministério episcopal na Bahia, o Papa João Paulo II o nomeou como Prefeito da Congregação para os Bispos, em 25 de junho de 1988, no Vaticano. Dois anos mais tarde, quando também exercia a função de presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, por motivos de saúde, ao completar 75 anos, o Cardeal apresentou o pedido de renúncia, que foi aceito em 16 de setembro de 2000.
Dom Lucas faleceu em 8 de setembro de 2002. A Missa de corpo presente foi celebrada em 11 de setembro, na Basílica de São Pedro, em Roma, presidida pelo então Papa João Paulo II e concelebrada por mais de 30 cardeais, entre eles o Cardeal Joseph Ratzinger, que mais tarde seria nomeado papa Bento XVI. Logo após as cerimônias fúnebres, em Roma, o corpo de Dom Lucas seguiu para o Brasil, sendo recebido em 14 de setembro em Salvador, seguindo para a cidade natal do prelado, São João d’El Rei, em Minas Gerais, onde foi celebrada mais uma Missa exequial. Após retornar para a capital baiana, o Cardeal foi sepultado e 16 de setembro, data em que completaria 77 anos, na Catedral Basílica do Santíssimo Salvador.
Dom Sebastião Monteiro da Vide
Dom Sebastião Monteiro da Vide, nascido em 19 de março de 1643, foi o 5º Arcebispo da Bahia. Iniciou a vida religiosa na Companhia de Jesus (Jesuítas), mas também seguiu carreira militar. Estudou cânones na Universidade de Coimbra e foi ordenado presbítero em 30 de agosto de 1671; nomeado bispo pelo Papa Clemente XI e sagrado pelo Arcebispo de Lisboa, Dom Luís de Sousa, em 21 de dezembro de 1701.
Dom Sebastião chegou a Salvador em 22 de maio de 1702, assumindo a Sé Primacial do Brasil até a morte, em 7 de setembro de 1722. Na sede da Arquidiocese, em 1707, organizou o Sínodo da Bahia com o objetivo de regular a vida religiosa no Brasil, as Constituições Primeiras do arcebispado da Bahia – considerado um dos mais importantes documentos de caráter religioso do Brasil Colônia. Foi autor do reconhecimento do Santuário do Senhor Bom Jesus da Lapa, quando, ao receber notícias de que numa gruta do sertão da Bahia habitava um eremita com fama de santidade, chamou-o a Salvador e, depois de prepara-lo, ordenou-o sacerdote em 1706 com o nome de padre Francisco da Soledade, nomeando-o capelão do mesmo santuário.
Após a morte do governador Dr. Sancho de Faro e Sousa, em 1719, exerceu também o governo civil junto a Caetano de Brito e Figueiredo e João de Araújo e Azevedo. Dom Monteiro da Vide foi o responsável pela construção do Palácio do Arcebispado de Salvador ao lado da antiga Sé da cidade. Ainda hoje, o brasão de Dom Sebastião decora o portal de entrada do Palácio.
Conheceu a Serva de Deus Vitória da Encarnação, monja Clarissa do Convento Santa Clara do Desterro, falecida em 1715 com fama de santidade. Desejando torna-la a primeira santa brasileira, publicou em 1720, em Roma, o livro História da Vida e Morte da Madre Vitória da Encarnação. Os exemplares dessa obra foram quase todos destruídos anos depois por ordens do Marquês de Pombal, na tentativa de extinguir as muitas obras publicadas pelos religiosos da Companhia de Jesus.
Criou, entre outras, as seguintes paróquias: Nossa Senhora do Monte de Itapicuru da Praia (1702), Nossa Senhora da Piedade de Lagarto (1704), São Pedro de Muritiba (1705), Santo Antônio do Capim Grosso (1714), São Boaventura de Poxim de Canavieiras (1715), Nossa Senhora da Madre de Deus de Pirapuia (1717), São Sebastião de Maraú (1717), Santíssimo Sacramento da Rua do Passo (1717), Nossa Senhora de Brotas, Nossa Senhora da Conceição (1717), Nossa Senhora da Imperatriz dos Campos (1717), Santo Antônio de Propriá (1717), Nossa Senhora de Oliveira dos Campinhos (1717), Santo Antônio do Urubu de Cima (1717), São Felipe (1717), São João Batista de Jeremoabo (1717), São João Batista de Ouriçangas (1717), São Pedro do Rio Fundo (1717), São Sebastião das Cabaceiras do Passé (1717), Santíssimo Sacramento do Pilar (1720) e Santo Antônio de Jiquiriça (1720).
Texto e foto: Pascom da Arquidiocese de Salvador