Em cada tarde de verão, no Pelourinho, há uma miniatura do mundo. Pelas roupas, sotaques e jeitos de quem circula, é possível distinguir uns dos outros. O fundo de “portunhol” nas conversas – português pretensamente espanhol e vice-versa – sugere quem são os predominantes: os argentinos, estrangeiros que, desde dezembro do ano passado até o fim da estação, serão os turistas mais frequentes no estado.
Do fim do ano passado até fevereiro deste ano, turistas de 133 nacionalidades passaram pela Bahia, mostram dados da Polícia Federal (PF) organizados a pedido da reportagem. Ao todo, foram 44.898 estrangeiros no estado. Somente 62 países do mundo, que conta com 195 países reconhecidos pela Organização das Nações Unidas, não deixarão, de alguma forma, sua marca no verão baiano.
Uma parte (a mais expressiva) chegou pelo ar. A outra, pelo porto. Por uma confluência de fatores, os vizinhos da Argentina lideraram a lista. Durante três meses, dez mil argentinos desembarcam na Bahia. Até o fim desse mês, são esperados 6,2 milhões de turistas – 3 milhões deles só em Salvador – que devem injetar R$ 9 bilhões no estado.
O fim da tarde do último sábado (4) se aproximava quando Fabian Biscione, 49 anos, de Buenos Aires, chegou a um hostel do Pelourinho, com o filho. As razões da visita do funcionário público à Bahia resumem o que atrai os “hermanos” ao Brasil.
“O custo-benefício e as belezas, a cultura da Bahia. Queremos conhecer o Centro Histórico, as praias da Barra, o mar. Comer moqueca”, contou Fabian, depois de realizar o check-in na hospedaria.
Recepcionista do Laranjeiras Hostel, onde os hóspedes podem escolher quartos compartilhados ou individuais, Jandenilson Silva vê a crise econômica da Argentina, onde a inflação ficou em 100% em 2022, como catalisadora da vinda de turistas do país. Um dos funcionários do hostel, por exemplo, é um jovem argentino. “Muitos vem com o propósito de ficar morando. Eles têm facilidade com a língua e isso ajuda”, explica.
Foto: Divulgação/Ascom Setur-BA