O Ilê Aiyê completa 50 anos de Carnaval, marcando também a presença dos blocos afros nos circuitos, e será parte dos grupos contemplados pelo investimento recorde do programa Ouro Negro, aportado anualmente através da Secretaria de Cultura do Estado (Secult) no Carnaval de Bahia. O anúncio foi feito durante encontro de representantes dos blocos afros, afoxés e entidades de matriz africana com o governador Jerônimo Rodrigues, os secretários da Cultura, Bruno Monteiro, da Igualdade Racial, Ângela Guimarães, e de outras pastas estaduais, nesta terça-feira (9), no Centro Administrativo, em Salvador.
Serão quase R$ 15 milhões para o Carnaval dos blocos afros em 2024, que vão ampliar o número de entidades beneficiadas. No ano passado, o investimento foi de cerca de R$ 8 milhões. A reunião desta terça (9) também foi uma escuta aos representantes de cada grupo e às suas necessidades, para a garantia da participação nos circuitos e para visibilizar os temas pensados por cada bloco todo ano. O governador Jerônimo relembrou a pedagogia em torno das composições das canções dos blocos afros e antecipou que o Estado deve investir nos blocos e entidades em outros períodos além do carnaval.
“O conteúdo das letras das músicas é muito intenso e os blocos sempre trabalham levando mensagens. Portanto, esse ano, preparamos uma homenagem ao meio século de vida dos blocos afros. Não só na Bahia, no Brasil e, por que não dizer, no mundo? A proposta foi avaliada, discutida e criticada pelos blocos afros. Chamamos eles para que pudessem apreciar essas possibilidades. Homenagem a gente não pede permissão. A gente quer fazer algo que não termine no Carnaval, mas uma política pública para os próximos dois, três anos”, detalhou.
Anunciado pelo governador como coordenador do Carnaval da Bahia novamente este ano, o vice-governador Geraldo Júnior destacou a importância desse encontro. “Hoje, é um momento de escutar os blocos afros, que são tão importantes para o Carnaval da Bahia por resgatarem e manterem a nossa cultura viva. Esse encontro do Governo do Estado com representantes desses blocos potencializa a condução dos entendimentos para a realização de uma festa democrática e participativa”.
Sobre coordenar as ações de governo no Carnaval pelo segundo ano consecutivo, Geraldo Júnior agradeceu a confiança de Jerônimo. “Reitero meu compromisso para desempenhar essa coordenação trazendo todo o aprendizado adquirido em 2023. A escuta tem sido uma marca da nossa gestão, e seguiremos com essa conduta na realização do Carnaval da Bahia, essa que é a maior festa de rua do planeta”, declarou o vice-governador.
Protagonismo baiano
Ângela Guimarães, secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais, acrescentou que a Bahia foi escola para o desenvolvimento de blocos em todo o país. “Se a gente tem experiência de blocos afro no Brasil, deve-se exatamente ao protagonismo da Bahia. Então, é isso que esse momento de diálogo e de escuta revela. Há uma cultura negra, pulsante, ancestral, atual, futurista, que marca o diferencial da cultura baiana e que precisa ser cantada aos quatro ventos”, reforçou.
O titular da Cultura Bruno Monteiro explica que a ampliação do Carnaval Ouro Negro é uma forma de reconhecer o valor dos blocos afros para a Bahia e homenagear as entidades. “Os blocos afros, os afoxés têm uma importância muito grande no reconhecimento do Carnaval da Bahia, para chegarmos onde chegamos. Este ano, completamos 50 anos dos blocos afros nessa festa e vamos homenageá-los com a ampliação do Carnaval Ouro Negro, com a ampliação de valor, ressaltando o protagonismo deles e dessa energia ancestral que é o Carnaval da Bahia”, reforçou.
Representando o Bloco da Capoeira, o cantor e compositor Tonho Matéria celebrou o canal de diálogo aberto pelo Estado para melhorar as políticas públicas para os blocos afros da Bahia. “Sinto-me muito feliz em poder estar compartilhando este momento, e, enquanto dirigente de bloco afro, estou me sentindo importante dentro do cenário do Carnaval. É um avanço, e acredito que, a partir de agora, vamos ampliar essa discussão e as políticas públicas dentro das comunidades”, compartilhou.
A homenagem aos 50 anos da presença dos blocos afros no Carnaval se estende ao tema da festa este ano: “Nossa energia é ancestral”. O secretário da Cultura destaca ainda que o objetivo do encontro também é dar suporte aos grupos e entidades de forma continuada, dando espaço aos blocos e afoxés em outros festejos populares, como lavagens e carnavais do interior. “Há uma reivindicação de um apoio permanente, que não se restrinja ao Carnaval. Assumimos esse compromisso desde o ano passado, e estamos estudando, a partir dos recursos da lei Aldir Blanc, dar um apoio continuado às entidades de matriz africana, porque entendemos que elas não fazem só Carnaval, elas fazem cultura. E cultura é o ano todo”, avaliou.
Transmissão para todo o Brasil
O cantor Tonho Matéria ainda falou da necessidade de ver os blocos afros na televisão e frisou que a TVE sempre cumpriu esse papel no Carnaval da Bahia. “A TVE deu essa visibilidade, de fato, para os blocos de matriz africana. Tinha um tempo que a gente não aparecia na televisão. E aí eu quero, nesse momento, me colocar aqui enquanto artista negro. Era muito difícil eu ver minha imagem na televisão no Carnaval”, lembrou.
Esse ano, a TV pública do Estado, além da transmissão através da TVE e da TV Brasil, que privilegia os blocos afros, vai exibir reportagens especiais em homenagem aos 50 anos das entidades no circuito da capital baiana.
Foto: Fernando Vivas/GOVBA