A Prefeitura de Salvador e a Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI) firmaram um acordo de cooperação técnica para gestão conjunta do complexo cultural que inclui a Cidade da Música da Bahia, a Casa das Histórias de Salvador, o Arquivo Público Municipal e a Galeria Mercado, todos no bairro do Comércio. Os detalhes da iniciativa foram divulgados pelo prefeito Bruno Reis nesta segunda-feira (10) e pelo secretário de Cultura e Turismo (Secult), Pedro Tourinho.
Na oportunidade, os gestores também apresentaram o projeto da Escola de Música e Arte e a Sala de Espetáculos Letieres Leite (1959-2021), que vão homenagear o músico, educador e fundador da Orkestra Rumpilezz, destaque na luta pela valorização da cultura afro-baiana e da sua musicalidade no mundo. Os novos equipamentos, que vão integrar o Complexo Cidade da Música da Bahia, estão em construção, com previsão de entrega para 2025, e contam com recursos do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).
“Esta será a maior escola de música do Brasil. Será aqui em Salvador, no Comércio, para valorizar ainda mais esta região. Todos sabem o esforço e os investimentos que temos feito para valorizar o Centro Histórico. Aqui, será transmitido o conhecimento de Letieres Leite, a didática, para fortalecer a musicalidade da nossa cidade, e tudo isso vai fazer com que os ensinamentos desse nosso maestro sejam passados para as gerações presentes e para as gerações futuras”, destacou Bruno Reis.
A Prefeitura, por meio da Secult, está restaurando dois prédios do Século XVII que estavam em ruínas na Rua Santos Dumont, no Comércio, ao lado da Cidade da Música. Com projeto elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) e investimentos de R$80 milhões, a Escola de Música e Artes e a Sala de Espetáculos Letieres Leite prometem se tornar instituições musicais proeminentes e capacitadas a nível mundial.
“Depois, vamos investir outros R$30 milhões para comprar equipamentos. Então, serão R$110 milhões investidos para a implantação destes dois espaços, que serão geridos pela OEI, uma organização que tem expertise na gestão de diversos espaços culturais pelo mundo. Nós buscamos essa parceria para garantir que o serviço seja da mais alta qualidade e que cumpra na ponta o seu papel”, detalhou Bruno Reis.
Parceria – Titular da Secult, Pedro Tourinho explicou que a cooperação técnica vai fazer com que a Prefeitura faça a gestão dos espaços utilizando toda a expertise da OEI. “Vai garantir a gestão transparente e potentes destes quatro equipamentos desse complexo, além de elaborar o planejamento do que será a Escola de Música e Artes e a Sala de Espetáculos. Ou seja: como é que ela vai se sustentar, quem serão os estudantes, qual vai ser o método utilizado, que tipo de lei de incentivo pode fazer parte, que parcerias de fundações podem estar conosco”, disse.
O diretor da OEI no Brasil, Leonardo Barchini, explicou o quanto a parceria vai colaborar para impulsionar a operação do complexo cultural situado no Comércio. “Sempre há uma grande dificuldade de gestão desses equipamentos por conta da burocracia pública, principalmente na área cultural. A OEI vai trazer um pouco mais de agilidade, transparência e a expertise que a gente tem de outros equipamentos no mundo afora. No caso do Brasil, por exemplo, a gente já faz a gestão há quatro anos do Museu de Arte do Rio de Janeiro que hoje em dia se transformou no segundo equipamento mais visitado da cidade”, disse.
Escola – Com uma metodologia própria de ensino, criada junto a Ubiratan Marques, maestro da Orquestra Afrosinfônica, e Fabrício Mota, produtor musical e baixista da Banda IFÁ, a Escola de Música e Artes terá como foco a rítmica afro-baiana e o Universo Percussivo Baiano (UPB) criado e explorado por Letieres Leite.
Trata-se de um espaço de formação que reunirá renomados professores de música do Brasil, acolhendo estudantes baianos e de fora do país, interessados em aprofundar conhecimentos na base da música afro-baiana, bem como em outros aspectos do mercado musical, como pós-produção, área técnica, produção executiva e composição audiovisual.
“Somos internacionalmente conhecidos como a Cidade da Música. Essa escola terá conteúdo didático totalmente fundamentado na música afroindígena feita na Bahia e decodificada pelo Maestro Letieres Leite. O legado dele construiu uma metodologia de ensino que o mundo inteiro veio para a Bahia aprender”, disse Pedro Tourinho.
A Escola de Música e Artes terá oito andares e cinco estúdios para gravações, sendo uma das estruturas de ensino de música mais modernas do Brasil, com conteúdo 100% voltado para Salvador. Ao lado dela, a Sala de Espetáculos Letieres Leite terá capacidade para 300 pessoas e servirá como um espaço para artistas locais se apresentarem, proporcionando aos moradores e turistas uma experiência ímpar da música soteropolitana em sua mais elevada qualidade técnica e tecnológica.
Letieres Leite – A homenagem ao maestro Letieres Leite se dá não só pela sua atuação fundamental na construção da história da música feita em Salvador, a exemplo da criação da Orkestra Rumpillezz, que funde as matrizes percussivas do candomblé com o jazz, e o Rumpilezzinho, laboratório musical e socioeducativo voltado para jovens músicos, mas, sobretudo, pelo seu trabalho na criação do método Universo Percussivo Baiano (UPB).
A metodologia é fruto de mais de 30 anos de estudos sobre a presença sonora de elementos de matriz africana na música produzida na diáspora negra nas Américas e, particularmente, no Brasil. O maestro e educador sistematizou ferramentas de ensino tendo como diretriz e base, o legado musical constituído pelas populações negras nas diásporas africanas e a consciência de que a música popular brasileira se estrutura a partir das suas raízes negras.
“Não é só pela sua carreira que Letieres Leite merece essa homenagem. Eu diria que a escola precisa do legado de Letieres para existir. Porque Letieres foi além da sua obra, ele também criou o método de ensino UPB, que é reconhecido internacionalmente e utilizado por várias orquestras e instituições de ensino mundo afora”, disse Bruno Reis.
Sobrinha do maestro, Priscila Letieres esteve no ato e falou sobre a homenagem: “Além de uma honra´, é uma alegria muito grande saber que o legado do meu tio vai se perpetuar, crescer e consolidar nesse lado científico, que abraça o ensino sobre a música diaspórica. Meu tio veio de um berço de escola pública, e isso serviu como uma incubadora para ele. Com certeza, ele estaria muito feliz de saber que dará nome a um espaço plural como este”, afirmou.
Foto: Betto Jr./Divulgação