Fibromialgia desafia medicina e impacta qualidade de vida de milhares de brasileiros
Síndrome complexa afeta cerca de 2% da população do país e exige tratamento multidisciplinar
Dor crônica, fadiga, distúrbios do sono e dificuldades cognitivas. Esses são alguns dos sintomas da fibromialgia, uma condição que desafia a medicina e afeta a qualidade de vida de milhares de brasileiros. De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), a doença acomete cerca de 2,5% da população mundial e aproximadamente 2% dos brasileiros, sendo mais prevalente em mulheres entre 30 e 50 anos. Nos Estados Unidos, essa taxa é ainda maior, chegando a 5% da população.
“A fibromialgia é uma síndrome caracterizada por dor musculoesquelética crônica e generalizada, acompanhada de sintomas como fadiga, distúrbios do sono e dificuldades cognitivas”, explica a reumatologista Carla Baleeiro, coordenadora do Serviço de Reumatologia do Hospital Mater Dei Salvador (HMDS). “Não existe um exame laboratorial específico para o diagnóstico, que é essencialmente clínico, baseado na anamnese e no exame físico do paciente”, complementa.
Os mecanismos que desencadeiam a síndrome ainda não são totalmente compreendidos. Estudos indicam que alterações nos neurotransmissores dopamina, serotonina e noradrenalina influenciam a percepção da dor e o estado emocional dos pacientes. Segundo o coordenador do Serviço de Dor do HMDS, Sandro Max Castro Silva, fatores como distúrbios endócrinos, genéticos, sociais e neuropsíquicos também podem estar envolvidos na fisiopatologia da doença.
“A dor no paciente portador de fibromialgia é frequentemente apresentada de forma catastrófica, com pensamentos negativos e amplificação da experiência dolorosa”, destaca o especialista. O impacto emocional é significativo e pode incluir ansiedade, depressão e sofrimento psicológico, tornando o tratamento ainda mais desafiador.
A fibromialgia está frequentemente associada a eventos traumáticos, abuso físico ou emocional na infância e suporte social inadequado, fatores que podem contribuir para a cronicidade da dor. Além disso, condições como síndrome do intestino irritável, cefaleia crônica e distúrbios do sono são comuns entre os portadores da síndrome, tornando seu manejo ainda mais complexo.
De acordo com a SBR, o tratamento da fibromialgia deve ser multidisciplinar, combinando intervenções farmacológicas e não farmacológicas. “Atividade física é essencial. O ideal é iniciar com exercícios aeróbicos, fortalecimento muscular e alongamento, de forma progressiva”, orienta a reumatologista Vanessa Fonseca, médica do HMDS e professora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. “O uso de medicamentos como miorrelaxantes, antidepressivos e neuromoduladores pode ser necessário, mas a abordagem psicológica e a fisioterapia também desempenham papel fundamental”, acrescenta.
A privação do sono, condição altamente prevalente entre os pacientes, afeta negativamente a regulação emocional e a tolerância à dor, criando um ciclo vicioso de sofrimento. “Pacientes com privação do sono apresentam piora na tolerância à dor e na regulação emocional, o que reforça a importância de um tratamento abrangente”, explica Sandro Max.
Diante da complexidade da fibromialgia, especialistas ressaltam a necessidade de conscientização e apoio aos pacientes. O diagnóstico precoce e a adesão a um plano terapêutico adequado podem fazer a diferença na qualidade de vida dos portadores da síndrome. “O acompanhamento contínuo é essencial para a adaptação do tratamento conforme as necessidades de cada paciente”, conclui. Carla Baleeiro.
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