Responsável por cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, o turismo ocupa um papel central na economia global e é celebrado por promover conexões culturais e desenvolvimento econômico. No entanto, esse setor também impõe um custo elevado ao planeta: aproximadamente 8% das emissões globais de carbono são atribuídas à atividade turística. Em um cenário de emergência climática e esgotamento de recursos naturais, essa contradição exige reflexão profunda. O turismo, que deveria ser fonte de encantamento e valorização das culturas locais, muitas vezes opera como uma engrenagem de consumo predatório, intensificando desigualdades e degradando ecossistemas. O modelo atual, centrado em volume, lucro e experiências massificadas, se mostra insustentável, ambiental, social e eticamente.
Diante desse desequilíbrio, o turismo sustentável deixa de ser um diferencial ou nicho para se tornar uma necessidade urgente. Mais do que uma alternativa, ele propõe uma conciliação entre o desejo legítimo de explorar o mundo e a responsabilidade de preservá-lo. Essa abordagem busca minimizar os impactos ambientais e sociais negativos, ao mesmo tempo em que amplia os benefícios da atividade turística. Valoriza-se o protagonismo das comunidades anfitriãs, o respeito aos limites dos ecossistemas e a distribuição mais justa dos recursos gerados. Entre suas práticas estão o estímulo a pequenos empreendimentos locais, a gestão responsável de resíduos, o uso consciente dos recursos naturais e a valorização das culturas e modos de vida dos territórios visitados.
O impacto social positivo do turismo sustentável é particularmente evidente quando se analisa seu potencial de transformação em comunidades historicamente marginalizadas. Em regiões rurais e remotas, o turismo responsável pode ser uma das poucas alternativas de geração de renda, fortalecimento da identidade local e permanência das populações em seus territórios. Ao envolver moradores na gestão das atividades turísticas e fomentar experiências autênticas e respeitosas, esse modelo promove inclusão, empoderamento e desenvolvimento de longo prazo. Essa lógica contrasta fortemente com a exploração de destinos apenas como vitrines culturais para o consumo externo, prática ainda recorrente no turismo convencional.
Organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) reforçam essa urgência ao integrarem o turismo sustentável aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O ODS 12, que trata de consumo e produção responsáveis, e o ODS 15, que trata da proteção da vida terrestre, apontam caminhos para a reestruturação do setor. No entanto, os compromissos globais só se tornam efetivos quando traduzidos em ações concretas por parte dos agentes envolvidos, empresas, governos, turistas e plataformas digitais. Nesse ecossistema, ganham relevância iniciativas que filtram e promovem experiências alinhadas a critérios reais de sustentabilidade, contribuindo para a reeducação do mercado e para a construção de um novo imaginário sobre o que significa “viajar bem”.
A transformação necessária não virá apenas de políticas públicas ou investimentos institucionais. Ela depende, sobretudo, de uma mudança cultural: é preciso repensar a forma como o turismo é compreendido, vendido e consumido. As viagens devem deixar de ser tratadas como simples produtos de entretenimento e passar a ser reconhecidas como oportunidades de aprendizado, troca e regeneração. Viajantes precisam ser convidados a fazer escolhas conscientes, e responsabilizados por elas, valorizando destinos que respeitam seus próprios limites e promovem o bem-estar das comunidades locais. Ao mesmo tempo, as empresas do setor devem ir além da retórica verde e adotar práticas que efetivamente reduzam seus impactos e ampliem sua contribuição positiva.
A construção de um turismo verdadeiramente sustentável não é simples nem imediata, mas é possível. Plataformas comprometidas com curadoria ética, experiências que promovem impacto social e ambiental positivo, e um público cada vez mais atento aos efeitos de suas escolhas são sinais promissores. Cabe agora ampliar esse movimento e consolidá-lo como regra, e não exceção. A urgência ambiental que enfrentamos não permite mais caminhos pela metade. O turismo do futuro precisa ser regenerativo, inclusivo e consciente, e todos os agentes envolvidos devem assumir a responsabilidade de fazer essa transição acontecer.
Lucas Ribeiro é CEO e fundador do PlanetaEXO.