A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), afirmou nesta segunda-feira (12) que a militância do partido e de movimentos sociais que o acompanham “não vão aceitar pacificamente” a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pode ocorrer dentro das próximas semanas.
“Nós não vamos aceitar mansamente a prisão do Lula. Não estou falando aqui, antes que questionem, que vai ter revolução. Não é nada disso. Mas a militância do nosso partido e a militância social dos movimentos que sempre lutaram ao nosso lado não vão aceitar pacificamente”, declarou, durante seminário organizado pelo PT sobre segurança pública cidadã, em Brasília.
A senadora anunciou o lançamento de uma campanha “forte” e “organizada” contra a prisão do petista. “É fundamental a gente ficar alerta com isso […] Vamos com o Lula até as últimas consequências. Se eles querem trucar, saber se nós vamos pagar, nós vamos pagar para ver. Nós não vamos deixar isso acontecer dessa forma”, declarou.
Em sua fala, Gleisi afirmou que a “inércia” do STF (Supremo Tribunal Federal) de não rediscutir a legalidade da prisão após condenação em segunda instância, “joga o país em uma instabilidade”.
“E agora caminha-se para outra vez ser rasgada [a Constituição], pela inércia do Supremo de não decidir uma coisa que é vital para a sociedade brasileira, e não só para Lula, que é a questão da prisão [após a condenação] em segunda instância”, declarou, lembrando que a interpretação da Corte, firmada em 2016, está sendo questionada por duas ações declaratórias de constitucionalidade.
Para a presidente do partido, trata-se de um “debate extremamente difícil”, com uma votação muito apertada –6 ministros a 5 no julgamento de 2016.
Na última sexta-feira (9), a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, anunciou a pauta de abril e deixou de fora o julgamento das ADCs citadas por Gleisi e também do habeas corpus preventivo apresentado pela defesa de Lula para evitar a sua prisão.
Esse pedido foi negado de forma liminar (temporária) pelo ministro Edson Fachin, que remeteu o caso ao plenário. Cabe a Cármen decidir a data que o recurso será julgado pelos 11 ministros. Ela já afirmou que rediscutir o caso por causa de Lula seria “apequenar” o Supremo.
O que eu tenho dito pra @gleisi é: levantar e brigar. Porque temos muito a fazer.
— Lula pelo Brasil (@LulapeloBrasil) 13 de março de 2018
Gleisi trouxe à tona a situação que “está nos preocupando muito” depois de falar sobre o tema do seminário, organizado pelas bancadas do partido na Câmara e no Senado para subsidiar o “plano de governo Lula 2018”.
“O que estão fazendo com o presidente Lula é uma coisa sem precedentes na história desse país, que fere frontalmente a Constituição. Nós temos a Constituição sendo desmontada desde o impeachment da [ex-presidente] Dilma. Dia após dia ela está sendo rasgada”, declarou, acrescentando que “a perseguição ao presidente Lula” tem a ver com o “viés autoritário da classe dominante e excludente que nós temos no Brasil”.
A senadora aproveitou a fala para repetir o que tem dito sobre a condenação de Lula pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região): que o ex-presidente foi condenado sem provas e sem crime e teve o seu direto de defesa tolhido.
“E agora caminha para uma prisão. Isso vai ser um tapa na cara da sociedade democrática brasileira, do povo brasileiro. Porque para eles não basta querer tirar do jogo, não basta querer ganhar no tapetão, porque não ganhariam numa eleição. Perderam quatro eleições consecutivas. Para voltar ao poder, tiveram que dar um golpe”, afirmou.
“Mas não querem só isso, querem prender. Porque na cabeça deles tem que humilhar. É a cabeça da casa grande mesmo, da elite retrógrada que nós temos nesse país […] Para mostrar que o lugar do povo, do pobre não pode ser nos espaços de poder, definindo política e os rumos do país”, completou.
Gleisi pediu que os presentes nos eventos se engajassem na campanha pró-Lula e se posicionem publicamente, nas redes sociais e falando com as pessoas “para mostrar o que está em jogo nesse país.
“Eu não tenho dúvidas: se o retrocesso está grande, com a prisão de Lula o retrocesso vai ser maior ainda. “Não está se prendendo um homem, um indivíduo, está se prendendo uma representação do povo mais pobre desse país. Está se prendendo a esperança e o sonho do povo brasileiro de retomar as rédeas de seu futuro”, concluiu.
O evento conta com a participação do ex-prefeito de São Paulo e coordenador do programa de governo do PT para as eleições desse ano, Fernando Haddad, do líder do partido no Senado, Lindbergh Farias (RJ), do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, além de pesquisadores na área de segurança pública.