Sem aula e sem gente nos portões. Depois das escolas municipais do bairro do IAPI suspenderem aulas nesta quinta-feira (10), não teve pai, mãe ou aluno desavisado na porta, como é comum quando atividades educacionais são interrompidas de uma hora para outra. Por lá, todo mundo já sabia desde ontem que os colégios não iam abrir.
De acordo com moradores, integrantes da facção do Comando Vermelho (CV), que atua na área, informaram ainda durante a tarde um toque de recolher que não se limita a esta quinta e se estende até o fim de semana. A ordem vem após dois integrantes do grupo serem mortos em uma ação policial em Salinas de Margarida, sendo um deles a liderança ‘Cris do Murão’.
Além de comandar ações do CV na região, Cris do Murão é suspeito por oito homicídios no IAPI. A sua morte teve efeitos imediatos. “Quando aconteceu, pouco depois já avisaram que era para fechar as coisas e que não era para ter aula. Decretou toque de recolher e ninguém ficou para contar história. Hoje, nenhum pai trouxe seu filho porque todo mundo já sabe do perigo”, diz morador, sem dizer o nome.
Outra moradora, que também prefere não se identificar por medo de represálias, diz até quando pode durar a suspensão das aulas. “Não teve aula ontem, hoje e agora só para semana. Quando eles botam medo, não tem quem faça aula. Tanto que os pais e mães nem apareceram para deixar os filhos, já foram avisados de que não teria. Ninguém quer deixar o filho na rua quando acontece isso”, conta ela.
O primeiro morador precisou deixar o filho com familiares para ir trabalhar, já que a esposa também tem serviço e ninguém ficaria para cuidar da criança. “A gente fica chateado de deixar os meninos sem aula, mas não tem muito o que fazer. Se eles [o tráfico] mandaram, é ordem. Não tem polícia que me deixe tranquilo de mandar meu filho para a aula. Tive que deixar com a tia para poder ir trabalhar”, fala.
Fontes da Polícia Militar ouvidas pela reportagem, no entanto, não confirmam a existência do toque de recolher. Classificam ainda como uma precipitação de gestores que se assustam com ‘boatos e fake news de redes sociais’.
A Secretaria Municipal da Educação (Smed) informou que, no bairro do IAPI, as gestões da Escola Municipal Cardeal da Silva, Cmei José da Silva Tavares, Cmei Epifânia Silva e Escola Municipal Marcos Vilaça. Ao todo, 623 alunos estão sem aula por conta da sensação de insegurança. A Smed, no entanto, não menciona em nota que as aulas fiquem suspensas até a próxima semana.