Depois da execução da vereadora pelo Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) na quarta-feira (14), um grupo de ativistas deixou a favela de Acari, na Zona Norte do Rio, por medo. A informação foi confirmada por membros do coletivo Fala Akari, grupo do qual os ativistas fazem parte.
“A situação está ainda mais perigosa para os integrantes que já estão na mira deles [policiais militares] há muito tempo, com isso juntando com a proporção que nossas denúncias contra o batalhão tomaram, o indicativo era de que alguns de nós nos retirássemos de imediato e assim fizemos”, afirmou um membro do grupo.
Moradores da comunidade relatam um clima de medo entre os movimentos sociais. O coletivo Fala Akari publicou no último dia 10 uma denúncia contra policiais do 41º BPM (Irajá) que foi compartilhado pela vereadora Marielle. Os ativistas afirmam que a PM matou duas pessoas na véspera e que, no dia seguinte, “entraram atirando” e deixaram moradores na linha de tiro.
“Uma integrante do Coletivo Fala Akari e mais uma moradora ficaram na linha do fogo com policiais atirando em cima delas sem ter nenhum “bandido” atrás delas, ou seja, atirando para tentar matá-las. Vieram com a intenção de matar e não tiveram nenhum escrúpulo em esconder, pois falavam isso. Disseram que não iriam permitir que ocorresse o baile, logo mais a noite. Quebraram portões de moradores. Invadiram muitas casas sem o menor critério e fotografaram identidade de moradores”, escreveu o grupo.
A vereadora endossou as denúncias dos moradores. Ela afirmou que era preciso “gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento” e que “o 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari”.
A proximidade das denúncias com a sua execução gerou a suspeita de que este poderia ter sido a motivação do crime. No entanto, nenhuma autoridade que investiga a morte da vereadora confirma a tese.
Em uma publicação nas redes sociais, o coletivo afirmou que alguns integrantes do grupo, em especial as mulheres negras, já recebem ameaças de policiais. Segndo eles, “já houve episódios de militantes sequestradas e também de um outro quase ser alvejado por um tiro durante operação”.
“Não afirmamos em momento algum que policiais do dito batalhão estejam envolvidos na execução de Marielle Franco, porém como tivemos a ajuda dela para denunciar publicamente o que esses policiais vem fazendo em Acari e com sua execução logo em seguida, nosso risco aumenta.Com isso, alguns integrantes do Coletivo tiveram que sair da favela imediatamente para preservar suas vidas para que sigam na luta pelo povo”, afirmou o grupo.