Pedro Pablo Kuczynski (PPK) apresentou nesta quarta-feira (21) ao Congresso sua renúncia à presidência do Peru. A decisão pela renúncia ocorre um dia antes de o Congresso discutir uma moção de destituição, em meio a uma crise presidencial marcada por vídeos divulgados pelo Partido “Fuerza Popular” que mostram uma suposta compra de votos de seus aliados em troca de obras.
Em pronunciamento acompanhado dos membros de seu gabinete ministerial, Kuczynski disse que sempre trabalhou honestamente e que a oposição tenta manchar a sua imagem como se fosse um corrupto. Segundo ele, as imagens dos vídeos foram editadas e geraram “uma grave distorção do processo político”.
“Frente a essa difícil situação que se gerou (…) acho que o melhor para o país é que eu renuncie à presidência da república”, disse.
PPK, um ex-banqueiro de Wall Street de 79 anos, tomou posse em julho de 2016, após derrotar Keiko Fujimori nas urnas. De acordo com a agência Efe, Kuczynski deixará o cargo assim que sua renúncia seja aceita pelo Congresso. Ele deverá ser substituído pelo vice-presidente Martín Vizcarra.
O jornal “La Republica” informa que a decisão foi tomada em uma reunião do Conselho de Ministros realizada nesta terça.
Kuczynski teria uma segunda moção de destituição contra sua administração julgada pelo Legislativo nesta quinta-feira. O pedido foi motivado por vídeos que o implicavam na compra de votos a seu favor na primeira votação.
Em um dos vídeos, o congressista Kenji Fujimori, irmão de Keiko e aliado do governo depois que Kuczynski outorgou indulto ao seu pai, o ex-presidente Alberto Fujimori, comenta ao legislador Moisés Mamani, do partido opositor “Fuerza Popular” que quem votasse à favor da vacância do presidente teria as portas fechadas.
Em outra gravação, o funcionário do governo Freddy Aragón explica a Mamani que ele poderia ganhar muito dinheiro em projetos de infraestrutura se ficasse ao lado do oficialismo.
Nesta quarta, o presidente do Congresso, o fujimorista Luis Galarreta, anunciou um processo de acusação constitucional para suprimir o foro privilegiado de cinco congressistas que aparecem nos vídeos, entre eles Kenji Fujimori.
Em dezembro, o Congresso analisou uma primeira moção de destituição por denúncias de que a empreiteira brasileira Odebrecht havia pago propinas à empresa de consultoria de Kuczynski e rejeitado seu afastamento.
A oposição precisava de 87 votos a favor do impeachment para que Kuczynski deixasse o cargo, mas conseguiu apenas 78. Outros 19 congressistas votaram a favor de sua permanência, e 21 se abstiveram. Entre os que se abstiveram estão alguns congressistas de esquerda, críticos do governo e que haviam aprovado o debate de impeachment. Além disso, membros-chave do fujimorismo não apoiaram a saída de PPK.
A oposição passou a pressionar para que PPK deixe o cargo depois da denúncia de que a construtora brasileira Odebrecht pagou mais de US$ 782 mil a sua empresa de consultoria, a Westfield Capital, por consultorias entre 2004 e 2007, período em que Kuczynski era ministro no governo peruano.
Kuczynski sempre negou as acusações e disse que o processo foi baseado em uma mentira. Ele explicou que foi seu sócio, o chileno Gerardo Sepúlveda, quem assinou e geriu um contrato de assessoria financeira da Odebrecht e que ele nunca soube do mesmo porque levantou uma “muralha chinesa” para distanciar-se da atividade privada de sua companhia. A Odebrecht respaldou suas explicações, dizendo que os pagamentos foram legais e gerenciados com Sepúlveda.
O caso Odebrecht, o maior escândalo de corrupção da América Latina, afeta quase todo o primeiro escalão da política do Peru pelas milionárias propinas pagas pela construtora entre 2005 e 2014 para obter grandes contratos em obras públicas, além de financiar as campanhas eleitorais dos principais candidatos.
Funcionários da Odebrecht admitiram na Justiça que a empresa também contribuiu em 2006 e 2011 para a campanha de vários políticos peruanos, incluindo Kuczynzki, um empresário de direita de 79 anos, bem como à chefe do Força Popular, Keiko Fujimori, filha do ex-presidente.