O excesso de plástico no planeta se tornou um dos maiores desafios ambientais do século. Todos os anos, cerca de 8 milhões de toneladas de resíduos plásticos chegam aos oceanos, segundo a Organização das Nações Unidas. A produção global, atualmente em torno de 400 milhões de toneladas anuais, pode quase triplicar até 2050, se nenhuma medida for tomada. Apesar disso, menos de 10% de todo o plástico produzido é reciclado corretamente.
Diante desse cenário, movimentos como o Julho sem Plástico ganham força ao incentivar mudanças de comportamento e pressionar por soluções mais estruturais. Separar corretamente o lixo reciclável, reduzir o consumo de itens descartáveis e priorizar embalagens biodegradáveis são atitudes que fazem diferença no dia a dia. Mas, para que o impacto seja real, é preciso ir além da conscientização individual.
O Brasil, por exemplo, despeja cerca de 1,3 milhão de toneladas de plástico nos oceanos todos os anos, segundo relatório da ONG Oceana, ocupando a oitava posição entre os maiores poluidores plásticos do mundo e liderando esse ranking na América Latina. Em escala global, a produção anual já ultrapassa 430 milhões de toneladas, sendo que dois terços desse volume se transformam rapidamente em resíduos.
“O maior desafio não é só ensinar a separar o lixo, mas garantir que ele seja coletado e destinado de forma correta. A logística reversa precisa funcionar em todas as etapas e é aí que muitas cidades ainda falham”, afirma Eduardo Nascimento, CEO da Minha Coleta, startup especializada em gestão de resíduos e rastreabilidade.
Com atuação em todo Brasil , a empresa desenvolveu uma plataforma que conecta geradores de resíduos, cooperativas, indústrias de reciclagem e o poder público, otimizando a coleta seletiva com uso de tecnologia, gamificação e rotas inteligentes. O modelo já permitiu o processamento de mais de 300 mil toneladas de resíduos, com 63% desse total desviados de aterros sanitários em 2023.
No Rio de Janeiro, estado no qual a Minha Coleta iniciou sua operação, o potencial de reciclagem ainda está longe de ser aproveitado. Apenas 5 kg de resíduos recicláveis por pessoa são coletados por ano na capital fluminense, segundo dados do IBGE. Em todo o estado, apenas em condomínios e empresas geram cerca de 800 toneladas de materiais recicláveis por dia, dos quais uma parcela mínima tem destinação correta. Isso representa um desperdício estimado em R$333 milhões ao ano.
“Nosso foco é transformar esse cenário com um sistema que seja viável economicamente e impacte positivamente todos os envolvidos: moradores, empresas, cooperativas e os ex-catadores que agora trabalham em melhores condições nos nossos centros de triagem”, explica Nascimento. “A gente não fala só de reciclagem, mas de dignidade, rastreabilidade e economia circular”, reforça.
A operação da Minha Coleta permite o rastreamento completo do resíduo, do descarte à indústria de reciclagem, o que também viabiliza a geração de créditos de logística reversa para as marcas fabricantes. Em 2024, segundo a ABIPET, o setor de reciclagem de PET movimentou R$5,66 bilhões no Brasil, valor que evidencia o potencial econômico da cadeia e sua capacidade de gerar renda em diferentes etapas do processo, especialmente para cooperativas, catadores e pequenos operadores.
“Existe um ecossistema que precisa funcionar como um time. A indústria precisa assumir responsabilidade pelo que coloca no mercado. O consumidor precisa ser orientado e ter acesso a estruturas adequadas. E o poder público precisa fiscalizar e investir em soluções de longo prazo”, afirma o executivo.
Ainda que a adesão a campanhas como o Julho sem Plástico cresça a cada ano, Eduardo reforça que a virada de chave virá com o fortalecimento da infraestrutura de coleta seletiva e políticas públicas mais rigorosas. “O Brasil não pode desperdiçar o que é reciclável. Isso tem um custo ambiental e econômico altíssimo. O plástico que jogamos fora hoje pode voltar para nós de formas muito piores: contaminando rios, praias e até os alimentos.”
Para ele, a solução exige cooperação. “O movimento Julho sem Plástico é um chamado. Mas mais do que repensar hábitos individuais, precisamos garantir que haja um sistema funcionando para que nossas boas intenções virem resultados concretos. É possível, e já tem gente fazendo.” concluir o CEO.
O que faz a Minha Coleta?
A startup é uma greentech que faz uma gestão de resíduos de ponta a ponta, de sua origem, na indústria até seu destino, nos centros de reciclagem. Esse processo, que conta com certificação em blockchain, cálculo de impacto ambiental e compensação de carbono, recebeu selos e prêmios nacionais e internacionais como prêmios como o Selo Impact Latam, de startups de alto impacto da América Latina, Top 100 startups.
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