O presidente Michel Temer chega na tarde desta sexta-feira (13) em Lima, no Peru, para participar da Cúpula das Américas desprestigiado entre os formadores de opinião latino-americanos e com uma agenda pouco relevante de encontros bilaterais.
Pesquisa da consultoria Ipsos obtida pela BBC Brasil mostra que o brasileiro está em penúltimo lugar em um ranking de aprovação de imagem dos principais líderes da América Latina, atrás apenas do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, cujo país enfrenta uma severa crise política, econômica e humanitária.
O alto desprestígio de Temer apontado na pesquisa pode ajudar a explicar porque o presidente brasileiro terá uma agenda de encontros bilaterais bem mais modesta que a de outros líderes que participam do evento. Os compromissos de Temer também são menos relevantes e numerosos do que os que a ex-presidente Dilma Rousseff cumpriu na última edição da cúpula, em 2015, no Panamá.
No levantamento feito pela Ipsos em fevereiro e março com 448 jornalistas e articulistas influentes de 14 países da região, apenas 28% responderam ter uma imagem favorável de Temer, enquanto 69% disseram ter percepção desfavorável. Outros 3% não souberam responder.
O resultado foi pior, por exemplo, que o do presidente cubano Raúl Castro, que ficou com 32% de aprovação e 62% de reprovação. Ele também irá a Lima, na segunda participação de Cuba em uma Cúpula das Américas, evento que ocorre desde 1994 e está na oitava edição.
Já Nicolás Maduro amargou apenas 8% de avaliação positiva, enquanto 86% dos entrevistados pela Ipsos disseram ter uma imagem negativa dele. Ele foi desconvidado pelo governo peruano a participar do evento devido ao desrespeito do seu governo “aos princípios democráticos”.
Confira os percentuais de aprovação de cada presidente:
Manuel dos Santos – Colômbia – 79%
Tabaré Vázquez – Uruguai – 78%
Mauricio Macri – Argentina – 72%
Lenín Moreno – Equador – 71%
Sebastián Piñera – Chile – 71%
Juan Varela – Panamá – 42%
Evo Morales – Bolívia – 42%
Peña Neto – México – 37%
Raúl Castro – Cuba – 32%
Michel Temer – Brasil – 28%
Nicolás Maduro – Venezuela – 8%
Quando os dados são abertos segundo a origem dos entrevistados, nota-se que a melhor avaliação alcançada por Maduro é no Brasil (14% de imagem favorável). Temer, por sua vez, alcança o melhor desempenho na Colômbia (37% de avaliação positiva) e a pior no Chile (80% de reprovação).
Na outra ponta, os líderes latino-americanos que aparecem com imagem mais favorável na pesquisa da Ipsos são os presidentes Juan Manuel Santos (Colômbia), Tabaré Vázquez (Uruguai), Mauricio Macri (Argentina). Seus índices de aprovação ficaram respectivamente em 79%, 78% e 72%.
Agenda modesta – Impopular, a oito meses de concluir seu mandato e sob desgaste permanente de sucessivas acusações de corrupção, Temer tem uma agenda de compromissos em Lima bem mais modesta que a de Dilma na cúpula anterior, o que pode indicar uma redução no interesse de outros mandatários em se reunir com a liderança brasileira.
É comum que, durante encontros multilaterais, os líderes realizem paralelamente encontros fechados. Em 2015, Dilma teve reuniões privadas com os presidentes dos Estados Unidos (então Barack Obama), Argentina (então Cristina Kirchner), México (Enrique Peña Nieto) e Colômbia (Juan Manuel Santos). Além disso, se reuniu com o então secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e com o presidente do Facebook, Mark Zuckerberg.
Temer por sua vez tem previsão de encontrar apenas com dois presidentes, o chileno Sebastián Piñera no sábado e o hondurenho Juan Orlando Hernández nesta sexta – este último foi reeleito em dezembro sob críticas da Organização dos Estados Americanos (OEA), que recomendou que o pleito fosse refeito, devido a suspeitas de fraudes.
Além disso, o presidente brasileiro deve se reunir com uma missão de parlamentares americanos e com o presidente da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, Thomas Donohue.
A agenda na Cúpula das Américas é um pouco mais agitada que a do encontro do G20 na Alemanha, no ano passado, quando Temer não realizou uma reunião privada sequer com outros líderes. O grupo é formado pelas maiores 19 economias do mundo e a União Europeia.