Interessada na educação de jovens, a cineasta Cecília Amado (Capitães da Areia/2011) foi, há cerca de quatro anos, por iniciativa própria, a uma aula inaugural do Rumpilezzinho, projeto que forma jovens músicos e tem à frente o maestro Letieres Leite, criador da Rumpilezz.
Daquele encontro, acabou surgindo o documentário UPB – Tempestade Emocional, que será exibido hoje, às 21h15, na Sala 1 do Espaço Itaú Glauber Rocha, dentro da programação do Panorama Internacional Coisa de Cinema. Antes, às 19h, no mesmo local, haverá o lançamento do livro Rumpilezzinho – Laboratório Musical de Jovens, de autoria do próprio Letieres.
A sigla UPB, no título do filme, refere-se ao método de ensino desenvolvido por Letieres e aplicado nas aulas que são realizadas na Rumpilezzinho: Universo Percussivo Baiano. “Buscamos ensinar a música popular brasileira a partir da consciência de um conceito estrutural ligado às suas matrizes negras, obedecendo suas regras, métodos e conceitos seculares, em comum acordo com os conceitos de aprendizado musical desenvolvidos a partir da tradição de ensino musical europeia”, diz o músico.
O documentário de 28 minutos registra as aulas ministrada por Letieres e outros professores da Rumpilezzinho. Há depoimentos do próprio maestro, de músicos e dos educadores, além de dois jovens alunos, que são acompanhados desde a primeira audição até o encerramento.
Arte e educação – Cecília comenta a importância do trabalho de Letieres com os jovens: “Ele une arte e educação, que, juntos, se tornam um instrumento de formação social. E o Rumpilezzinho se torna mais especial porque, além de formar músicos, forma professores. O jovem que sai dali não se forma apenas músico, mas se forma um cidadão consciente da história afrobrasileira. E isto é muito importante porque toda música popular no continente americano, inclusive o jazz, é de matriz africana”.
Letieres diz que, no seu trabalho de formação de músicos, sempre teve dificuldades em sistematizar o ensino da música popular para que pudesse dar aulas de uma maneira metodológica, organizada. “Comecei então a criar meu próprio método, meu próprio material para dar aulas de música brasileira, quando eu passei uma temporada na Europa”, diz o músico, que deu aulas no conservatório Franz Schubert, em Viena, na Áustria, nos anos 1980.
Para o educador, a comunidade musical acadêmica não se preocupou em desenvolver um método parecido com este que ele adota no Rumpilezzinho. Por isso, normalmente, mesmo quando se ensina música popular, usa-se a metodologia europeia, que é ligada à música erudita. Por ser autodidata, Letieres se sente mais à vontade para criar um método de ensino da música popular.
O criador da Rumpilezz diz que não é só no Brasil que não há um estudo formal rítmico da música popular. “O mesmo ocorre nos Estados Unidos e em Cuba, por exemplo. Em Cuba, passei quase um mês visitando escolas de música e percebi lá a mesma dificuldade, que eu não imaginei que teria. O que proponho, com o UPB, é um acordo entre as metodologias praticadas pela oralidade e as metodologias praticadas pela academia”, diz Letieres.
O livro Rumpilezzinho – Laboratório Musical de Jovens , que será lançado às 19h, se destina, segundo Letieres, a todo o público interessado em música, incluindo aquele que tem formação erudita. “Nelson Ayres (pianista, arranjador e regente) diz, no prefácio do livro, que, se tivesse, no passado, acesso ao método que proponho hoje, não teria algumas dificuldades que tem quando ele trabalha com a música popular”, aponta Letieres.