23 de novembro de 2024
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Por paz e tolerância, adeptos do candomblé vestem árvores de branco na RMS

Por paz e tolerância, adeptos do candomblé vestem árvores de branco na RMS

Nas religiões de matrizes africanas, a árvore é um elemento sagrado, que simboliza a vida. Quem caminhar por alguns pontos da cidade neste sábado, 18, vai perceber que elas foram adornadas com tecidos brancos. E não se trata de um simples enfeite: a intervenção simboliza um pedido de paz contra os constantes casos de intolerância religiosa registrados em todo o país.

Os tecidos – chamados de ojás – foram amarrados em árvores localizadas no Dique do Tororó, Campo Grande, Corredor da Vitória e no Pelourinho, na noite desta sexta-feira (17), durante a 11ª edição da Alvorada dos Ojás, promovida pelo Coletivo de Entidades Negras (CEN).

A atividade, que contou com o apoio da Comissão dos Terreiros Tombados, dos terreiros de Lauro de Freitas e de Camaçari e da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia (Sepromi), marcou, ainda, o lançamento da campanha Não toquem em nossos terreiros, em referência aos casos de racismo religioso.

A intenção do evento, de acordo com o ogã André Santos, membro da comissão dos Terreiros Tombados e professor-doutor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), foi chamar a atenção da sociedade para a importância do respeito à crença.

“Geralmente, as atividades religiosas acontecem dentro dos muros do terreiro. Dessa vez, fomos às ruas. Levamos elementos religiosos, no entanto, trata-se de um ato político. Mostramos à sociedade que existimos e que vamos resistir e exigir respeito”, disse.

Antes de sair às ruas, os adeptos dos cultos de matrizes africanas se reuniram no terreiro Tumba Junsara, uma das casas tradicionais de candomblé no Brasil, tombada como patrimônio histórico do Estado da Bahia, situado no bairro do Engenho Velho de Brotas.

No local, os cerca de mil metros de pano pintados pelo artista plástico e diretor do bloco Cortejo Afro, Alberto Pitta, foram sacralizados como uma forma de pedir licença e proteção às divindades antes do início das atividades. Ao todo, foram utilizados cerca de mil metros de ojás.

Números – Conforme levantamento do Ministério dos Direitos Humanos, entre janeiro de 2015 e o primeiro semestre deste ano, o Brasil registrou uma denúncia de racismo religioso a cada 15 horas. No período, ainda segundo o órgão, o Disque 100, canal que reúne denúncias, recebeu 1.486 relatos de discriminação religiosa, sendo que a maioria das violências atingem as religiões de matrizes africanas.

Na Bahia, o Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Nelson Mandela, vinculado à Sepromi, registrou 49 casos de intolerância religiosa.

“Sabemos que o racismo religioso nos atinge porque essas religiões são oriundas da África. É sobre a garantia da vida dos fiéis do candomblé que tratamos, é sobre o direito constitucional que as pessoas têm de cultuar a sua religião, a sua fé ou até de não possuir religião alguma”, disse o historiador e coordenador nacional do CEN, Marcos Rezende.




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