Após a saída de Pedro Parente e a indicação de Ivan Monteiro para a presidência da Petrobras, a estatal sinalizou para o governo que aceita rediscutir a política de reajuste diário da gasolina e alongar a periodicidade das mudanças de preços do combustível ao consumidor, segundo fontes do governo. As condições, contudo, são que a empresa não perca o lastro do preço praticado internamente com relação ao preço internacional e também que ela seja protegida contra a importação nos períodos em que o preço do mercado externo estiver abaixo do vigente no Brasil.
Segundo o jornal Valor, a ideia é que uma eventual mudança seja feita desde que se garanta que não haverá prejuízos para a empresa, por isso essas condições estão sendo colocadas. Uma política de menor volatilidade poderia ajudar a diminuir a temperatura da crise política que se instalou há duas semanas a partir da greve dos caminhoneiros e que culminou na saída de Pedro Parente do comando da estatal de petróleo na última sexta-feira.
Após o anúncio da demissão de Parente, cujo momento pegou de surpresa grande parte do governo, as ações da estatal despencaram no mercado. Diante da turbulência, o Palácio do Planalto acabou anunciando ainda na sexta-feira o nome de Ivan Monteiro, que era diretor financeiro e de relações com investidores da empresa, para substituir Parente. E fez um discurso de que a política da companhia não seria alterada. Vale lembrar que uma das bandeiras deste governo é ter melhorado a rentabilidade de empresas públicas.
Neste ano, a estatal já fez mudanças nas políticas de reajustes do gás de cozinha, em janeiro, quando passou a ter periodicidade trimestral, e no diesel, medida anunciada na semana passada como parte do acordo com os caminhoneiros em greve. Nesse insumo, os reajustes passaram a ser mensais, após o período de congelamento de 60 dias, conforme com o subsídio de R$ 0,46 por litro de diesel.
Uma mudança na periodicidade de reajustes da gasolina, desde que preservados os pilares defendidos pela atual diretoria, não significaria praticar uma política de congelamento de preços, hipótese amplamente rejeitada, tanto na empresa como em boa parte do governo. O formato dessa política de menor volatilidade, contudo, ainda precisará ser definido.
Desde que a crise dos caminhoneiros estourou, têm sido recorrentes as cobranças por maior previsibilidade na política de preços da companhia, inclusive dentro do governo e entre seus aliados no Congresso.
Na última sexta-feira, por exemplo, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (MDB-RR), foi enfático nessa defesa: “Não haverá mudança radical na política de preços da estatal. O que a gente tem defendido é a construção de um sistema de política de preço que dê previsibilidade. Eu acho que a falta dessa previsibilidade foi a grande falha desse sistema, que funcionaria em situações normais, em que o aumento no preço do barril do petróleo fosse eventual”, disse. “Com essa vulnerabilidade do barril do petróleo, com essa crise internacional com Oriente Médio, todo dia é uma gangorra. Isso cria uma distorção da política que eles fizeram que é de ação e reação. A linha traçada para a Petrobras pelo governo, de recuperação da estatal vai continuar”, completou, dizendo que o governo “não vai manipular o preço do combustível”.