23 de novembro de 2024
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Estudantes e professores da UFBA protestam após ameaças de morte a professora

Estudantes e professores da UFBA protestam após ameaças de morte a professora

Estudantes, professores e servidores da Universidade Federal da Bahia (Ufba) fizeram uma manifestação na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, no campus de São Lázaro, na manhã desta quarta-feira (22), contra a ameaça de morte sofrida por uma professora da instituição por meio de mensagens em redes sociais. O caso foi denunciado em comunicado divulgado pela Ufba na terça-feira.

A manifestação pede respeito aos temas relacionados às pesquisas de gênero no ambiente acadêmico. Os estudantes relatam que, além da professora, outros docentes e alunos também sofrem ataques.

“Algumas professoras estão recebendo ameaças, uma em específico, recebeu ameaça de morte. inclusive dizendo que as pessoas estão seguindo ela, que sabem onde ela trabalha e o trajeto. Estudantes estão sendo perseguidos e expostos nas redes sociais”, diz a aluna Bruna Jacob.

“A gente está sendo impedido de desenvolver nossos estudos, de desenvolver nossa área e afins e também de lutar por um mundo mais igual”, reclama a estudante Leidy Araújo.

A professora ameaçada fez uma pesquisa sobre a divisão sexual no trabalho, no Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim).

O coordenador do Grupo de Repressão a Crimes por Meios Eletrônicos da Polícia Civil, João Roberto Cavadas, disse que a lei precisa ser modificada, já que quem comete esse tipo de crime é processado, responde criminalmente mas não cumpre pena de prisão.

“É um termo circunstanciado, ou seja, a pessoa ameaçadora vai responder em liberdade. Vai ser ouvida na unidade policial e vai sair logo após o fato. O que pode gerar é concretização com referência à prática desse crime”, disse o delegado.

A ameaça à professora foi denunciada pela Ufba em comunicado divulgado na terça-feira. O caso também é acompanhado pela Procuradoria Federal. O nome da vítima não foi divulgado. Também não foi informado quando ocorreu a ameaça, apenas que foi recente.

O comunicado foi assinado pelo reitor João Carlos Salles Pires da Silva, que preside o Conselho Universitário da instituição (Consuni). O conselho aprovou, no último dia 13, a moção de repúdio proposta pela conselheira Maria Hilda Baqueiro Paraíso, diretora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, que propôs indignação diante da ameaça sofrida pela professora e outras tentativas de cerceamento da pesquisa na instituição.

De acordo com a diretora do sindicato dos professores da Ufba (Apub), Luciene Fernandes, a ameaça foi relacionada ao objeto de pesquisa da docente.

A instituição também disse que cabe à professora decidir se levará o caso à polícia. O G1 não conseguiu contato com o Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher até a publicação desta reportagem.

A nota do Consuni divulgada na terça-feira denuncia, ainda, a tentativa de impedimento de defesa de uma dissertação de mestrado de um aluno do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC),a quando foi preciso solicitar a segurança da própria universidade.

O orientador da dissertação de mestrado, Leandro Colling, disse que a dissertação era sobre gênero e sexualidade em uma escola de ensino fundamental. Apesar da ameaça de impedimento, o grupo que iria tentar impedir a defesa não compareceu ao local.

“Recebemos informações através de pessoas conhecidas de que um grupo de pessoas iria para a defesa para impedir a realização da banca. Em função disso, solicitei segurança, mas as pessoas não apareceram”, afirma o professor. Leandro diz que o nome do aluno não será divulgado por motivo de segurança.

O comunicado do conselho da Ufba afirmou ainda que ocorreu “perseguição e ridicularização nas redes sociais de projetos de pesquisa e extensão que versam sobre as temáticas de gênero, diversidade, mulheres e feminismos”.

Em nota, o reitor afirma que “o clima de intolerância que se estabeleceu neste país vem repercutindo de forma drástica na liberdade de expressão, no livre exercício profissional e na autonomia universitária para tratar de temas relevantes concernentes a determinados segmentos sociais”.

Ele ainda se manifesta contra “investidas reacionárias que buscam calar o livre debate de ideias e silenciar todo um campo de estudos legitimamente construído e que é fundamental para que possamos ter uma sociedade menos violenta e desigual”. “A perseguição à liberdade de expressão cultural e científica nos envergonha e nos ultraja e é uma afronta aos princípios da democracia”, finalizou João Carlos.

Foto: Reprodução TV Bahia




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