A guerra entre facções criminosas que atuam no tráfico de drogas em Feira de Santana (a 109 km de Salvador) foi uma das causas para o aumento do número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) no primeiro semestre de 2018, em comparação com o mesmo período de 2017. Até a última sexta-feira (20), foram contabilizados no município 235 homicídios, contra 209 no ano passado, o que equivale a um acréscimo de 12,44%.
Os números colocam a cidade na contramão da média geral de mortes violentas na Bahia. Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), o estado registrou redução de 7,3% no número de homicídios entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2018, em comparação com o semestre anterior.
O percentual ultrapassa a meta do programa Pacto Pela Vida, que estabelece a redução dos homicídios em 6% a cada semestre. Estes dados, relativos ao primeiro semestre, ainda serão divulgados pela SSP em coletiva de imprensa, que deve ocorrer no dia 31 de julho.
Junho violento – Segundo o delegado Fabrício Linard, titular da Delegacia de Homicídios de Feira, um dos períodos responsáveis pela elevação nas estatísticas foi o fim de semana dos dias 16 e 17 de junho, quando foram registradas 18 mortes, incluindo a do policial militar Wagner Souza de Araújo, de 28 anos, que tentou impedir um assalto e foi assassinado a tiros.
Entretanto, o delegado afirma que os outros 17 homicídios não tiveram relação com a morte do soldado, que era lotado na 67ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM).
“Nós fizemos uma força-tarefa e percebemos que foram mortes isoladas, e não por reprimenda pela morte do policial. Também tivemos uma reunião com (representantes da polícia de) todo o interior e chegamos à conclusão que, no mês de junho, houve um aumento de homicídios em outros municípios. Somente até o dia 15, nós já tínhamos 23 homicídios, que foi a quantidade de todo o mês de junho no ano passado”, explica Linard. Não foi divulgado, no entanto, quais outras cidades apresentaram este aumento.
Os dados registrados na cidade possuem estreita relação com o tráfico de drogas, segundo o coronel Luziel Andrade, comandante do Policiamento Regional Leste em Feira de Santana. Ele ratifica que os casos ocorridos em junho contribuíram para o aumento das estatísticas e explica que um dos motivos foi a chegada de uma nova facção criminosa ao município.
“Nós tivemos um mês atípico em junho, até porque, no ano passado, os números foram reduzidos. Este ano, houve um investimento muito forte de uma facção criminosa querendo entrar em Feira. Então houve disputa com outras duas facções nos bairros do Tomba, Queimadinha e Limoeiro”, revela o coronel, que prefere não divulgar os nomes das organizações criminosas.
Ações – Para reduzir os índices, a Polícia Militar (PM) tem promovido novas ações de combate à violência nas últimas semanas, que já resultaram na redução dos crimes no mês de julho.
“Nós começamos a cumprir 26 mandados de prisão enviados pela Polícia Civil e já tivemos redução em julho. Além disto, estamos fazendo operação de bloqueio nas vias dos principais bairros aqui em Feira e realizamos cursos de formação de soldados, que já estão estagiando aos sábados e domingos, quando ocorre a maior parte dos homicídios”, explica o comandante Luziel. Além disto, seis guarnições do Batalhão de Choque da Polícia Militar reforçaram o policiamento durante o final de semana, contribuindo para o aumento de abordagens a veículos e apreensões de armas de fogo.
Segundo balanço da PM relacionado à ultima semana (de 16 a 22 de julho), houve registro de 19 CVLIs na área de atuação do Comando de Policiamento Regional Leste, um decréscimo de 53,65% em relação à mesma semana de 2017, quando foram registrados 41 crimes deste tipo. No mesmo período, Feira de Santana registrou quatro homicídios, contra 12 no ano passado. Também em Feira, foram apreendidas oito armas de fogo durante a semana.