O Brasil nunca exportou tanto petróleo bruto quanto em 2018. Foram vendidos ao exterior 1,12 milhões de barris por dia, o que corresponde a uma alta de 13,3% em relação a 2017, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior). O número representa cerca de 40% de toda a produção do ano.
Levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), de janeiro a novembro, também mostra exportações líquidas (exportação menos importação) 13% maiores do que em 2017.
Apesar de enviar óleo cru para fora, o país precisa comprar uma pequena quantidade devido às especificidades técnicas para o refino — atualmente, em torno de 10% do volume de exportações.
O preço do barril em alta fez com que a receita gerada com a exportação de petróleo saltasse 51,2%: de US$ 16,6 bilhões (2017) para US$ 25,1 bilhões (2018). Se descontados os gastos com a importação, a receita líquida foi de US$ 20,1 bilhões, conforme os dados da Secex.
Os principais compradores de petróleo brasileiro em 2018 foram a China (56,5%), os Estados Unidos (11,9%) e o Chile (8,43%).
A EPE (Empresa de Pesquisa Energética), ligada ao Ministério de Minas e Energia, estima que a produção de petróleo no pré-sal dobre nos próximos oito anos e que o país se torne um dos cinco maiores exportadores do mundo — atualmente o Brasil está entre os dez principais.
“Nossa previsão, pelo ritmo dos projetos que foram mapeados, é uma tendência de que até 2027 a gente vá triplicar as exportações. Vai chegar na faixa de 3,1 milhões de barris por dia”, avalia o superintendente de petróleo da EPE, Marcos Frederico Farias de Souza.
Ex-diretora-geral da ANP e consultora da FGV Energia, Magda Chambriard pondera que o Brasil vai precisar se preparar para o futuro com a ampliação de terminais portuários, oleodutos, locais de armazenamento e todo o resto da infraestrutura em torno do negócio do petróleo e dos derivados.
“A exportação de óleo cru está entre Rio, São Paulo e Espírito Santo. Exige-se mais da infraestrutura portuária. Essa infraestrutura portuária toda tem uma limitação logística importante. Ela precisa ser aperfeiçoada porque, se aumentar a produção ainda mais, não houver refino [no Brasil] e aumentar o consumo de derivados e a importação, a gente fica em uma situação delicada.”
A Petrobras, principal agente do mercado, reduziu cerca de 15% das exportações nos primeiros nove meses de 2018, na comparação com igual período de 2017.
A companhia focou no refino interno devido à alta da demanda por combustíveis. Por outro lado, a consultora da FGV Energia diz que empresas estrangeiras têm aumentado a produção e a exportação.
“Essas grandes empresas de petróleo, ao se depararem com uma possibilidade real do pré-sal, estão começando a se movimentar. Em geral, pagaram bônus altos [para ter direito à exploração], elas têm que se ressarcir rápido.”
Os últimos cinco leilões de partilha do pré-sal, ocorridos em 2017 e 2018, tiveram menos participação da Petrobras e maior presença de empresas estrangeiras de países como, EUA, Catar, China, Holanda e Portugal. No entanto, elas só deverão começar a produzir óleo daqui a cerca de oito anos, segundo especialistas.
Grandes petrolíferas como ExxonMobil (EUA), Shell (Holanda e Reino Unido), BP (Reino Unido), Equinor (Noruega) e Petrobras submeteram ao Ibama 61 processos de licenciamento de perfuração de petróleo e gás natural no segundo semestre de 2018. O número indica uma disparada de pedidos de licença para exploração após sete anos em declínio.
Na contramão do crescimento das exportações, o Brasil aumentou as importações de derivados de petróleo (gasolina, diesel, querosene de aviação, GLP e lubrificantes) nos últimos dois anos.
Apesar de registrar menos importações de gasolina e diesel em 2018, na comparação com 2017, as de GLP (usado nos botijões de gás) subiram 24,5%; de querosene de aviação, 32,8%; e de lubrificantes, 35%.
Magda Chambriard fez uma estimativa de que, a cada barril de óleo bruto exportado em 2017, gastavam-se US$ 12 (cerca de R$ 45) a mais por barril de derivado importado.
“Você está exportando produto de menor valor agregado e importando um de maior valor agregado, e ainda gastando com transporte. Isso reflete em um custo final para o consumidor… Essa diferença do que deixa de refinar para importar foi de US$ 1,75 bilhão [cerca de R$ 6,56 bilhões].”
Um estudo da EPE alerta que o Brasil chegará ao patamar histórico de 213 mil barris por dia de óleo diesel importado em 2027: 6% a mais do que o maior volume registrado até hoje (em 2017), o que, segundo a empresa, sinaliza “eventual necessidade de investimentos em nova infraestrutura de abastecimento”.
O superintendente da EPE acrescenta que o aumento das exportações de petróleo não invalida o fato de o Brasil ter que investir também ampliação da capacidade de refino, hoje em torno de 2,4 milhões de barris por dia.
“Precisa de investimento no refino para se ter condições de manter uma política de preços estável”, diz ele, ressaltando que há perspectivas em relação ao Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) e em refinarias de pequeno porte.
O Comperj tem atualmente 80% das obras concluídas, mas o restante foi paralisado em 2015, com o andamento da Lava Jato. A Petrobras já caminha para retomar os trabalhos neste ano, após um parceria com a chinesa CNODC.
Magda Chambriard avalia como extremamente importante que o país tenha investimentos no mercado consumidor interno de combustíveis.
“Temos um mercado internacional de óleo cru, digamos, estressado. A Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] e a Rússia querem diminuir a oferta, os Estados Unidos querem aumentar. Mas estamos botando mais produtos nesse mercado estressado. Ao mesmo tempo, abrindo mão do nosso mercado consumidor, quando, ao exportar, passa a importar derivados. Então, a questão que eu sempre coloco é: até que ponto?”
Para a especialista, “não é razoável um país abrir mão do mercado de derivados, que é o quarto maior do mundo em termos de combustíveis para veículos automotores”.
Mesmo que o Brasil tenha investimentos em refinarias, um estudo da EPE mostra que “o país deverá continuar como importador líquido durante todo o horizonte de estudo [até 2027], com destaque para os grandes volumes importados de nafta, querosene de aviação (QAV) e óleo diesel A”.