A julgar pelo perfil dos bispos eleitos durante a 57.ª Assembleia-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunida em Aparecida (SP) até sexta-feira (10), a Igreja manterá sua atuação, sem “rupturas”, reafirmando posicionamentos já conhecidos.
Além da tradição de marcar uma audiência da cúpula com o papa Francisco, a presidência recém-eleita da CNBB pretende se reunir com o presidente Jair Bolsonaro. O objetivo do encontro é abrir um “canal de diálogo” com o governo e discutir temas voltados à Igreja.
Segundo bispos ouvidos pelo jornal O Estado de São Paulo, eventuais diferenças ideológicas existentes na Igreja são pouco perceptÃveis e insuficientes para dividir os integrantes do episcopado entre “conservadores e progressistas”. Os bispos disseram ainda evitar essa “classificação”, sob o argumento de todos concordam em questões de moral e doutrina.
Eleição – Na segunda-feira (6), o arcebispo de Belo Horizonte, d. Walmor Oliveira de Azevedo, baiano da cidade de Cocos, foi eleito o novo presidente da CNBB para os próximos quatro anos. Dois vice-presidentes – d. Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS), e d. Mário Antonio Silva, bispo de Roraima -, também foram escolhidos na assembleia-geral.
Já d. Joel Amado, bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, considerado conservador e ligado a d. Orani Tempesta, foi eleito secretário-geral da CNBB.
Doutor em teologia dogmática, d. Walmor foi transferido para Belo Horizonte em 2004. Considerado moderado, sempre trabalhou em união com seus bispos auxiliares.
Arcebispo emérito de Aparecida, d. Raymundo Damasceno Assis afirmou que, independentemente da troca da cúpula da conferência, a Igreja “não vai mudar”, mantendo o olhar dirigido aos “pobres, negros, indÃgenas, quilombolas, sem-teto e aos desprotegidos”. Segundo ele, a Igreja vai intervir se alguma dessas populações “sofrer ameaças ou correr riscos com novas polÃticas de governo”.
D. Raymundo, que foi duas vezes presidente da CNBB, citou o documento Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019-2023, aprovado na segunda-feira pelo episcopado. Com base nessas diretrizes, disse d. Raymundo, a Igreja vai atuar, “buscando contato com autoridades e reafirmando posições, como sempre tem feito”. “Isso não depende da opinião de um ou de outro membro da diretoria da CNBB”, declarou.
O arcebispo de Salvador, d. Murilo Krieger, foi na mesma linha. “A publicação de uma nota não depende da assinatura de todos os membros da diretoria.” D. Murilo defendeu a independência da Igreja. “Igreja é igreja, governo é governo.”
Defensor da causa indÃgena e de questões ligadas à terra, d. Erwin Krautler, bispo do Xingu, afirmou que ficou satisfeito com os nomes escolhidos na assembleia em Aparecida. Disse que não haverá ruptura de compromissos e que os “ideais” da Igreja estão mantidos.